domingo, agosto 27, 2006

Harmonia do Mundo, de Marcelo Gleiser

Em palestra recente para divulgar seu livro Harmonia do Mundo (Cia. das Letras, 327p.), Marcelo Gleiser esclareceu porque decidiu escrever romance biográfico sobre Johannes Kepler. Segundo ele, outros gênios da história da ciência não foram tão psicologicamente complexos quando Kepler. Copérnico, por exemplo, que tirou a Terra do centro do universo, não era exatamente um revolucionário, era bastante acanhado e passou anos trabalhando em segredo, temendo as represálias da igreja católica. Seu livro Sobre as revoluções das esferas celestes (De Revolutionibus Orbium Coelestium) foi publicado em 1543 quase postumamente, pois Copérnico só recebeu a cópia impressa em seu leito de morte, possivelmente não tendo forças para examiná-la. É verdade que Copérnico tinha certa razão, pois seu livro foi atacado por teólogos protestantes, até mesmo por Lutero, e foi incluído pela igreja católica no índice dos livros proibidos, onde permaneceu até 1835.

Já Galileu envolveu-se em problemas com a Igreja Católica, mas era muito arrogante e gostava de afrontar a autoridade papal. Imagino que, talvez, Giordano Bruno, filósofo e astrônomo queimado na fogueira em 1600, rendesse um bom romance. Ocorre que a principal acusação contra Bruno dizia respeito a uma heresia conhecida como "docetismo", condenada pelo Conselho de Calcedônia, segundo a qual Jesus Cristo não tinha um corpo físico e a crucificação teria sido apenas aparente. Além disso, o trabalho teórico de Bruno não pode ser considerado propriamente científico e, embora ele fosse um copernicano, a igreja católica que o condenou não tinha posição oficial contra Copérnico por volta de 1600. Bruno, portanto, é muito mais um mártir religioso do que um herói científico.

Kepler, por outro lado, representa o verdadeiro gênio científico angustiado. Ao mesmo tempo em que se recusava a abandonar o luteranismo no qual havia sido criado, Kepler não conseguia aceitar o modelo geocêntrico de Ptolomeu, recomendado pelo pastores luteranos, e o fazia em bases simultaneamente filosóficas e científicas: por um lado, ele acreditava que, colocando o Sol no centro do Universo, poderia revelar a harmonia oculta usada por Deus na criação; por outro, Kepler descobriu que as medições astronômicas de Tycho Brahe eram incompatíveis com o modelo geocêntrico e epiciclos de Ptolomeu.

Mas Harmonia do Mundo não é só sobre Kepler. Gleiser constrói uma espécie de diptico, onde quase toda a vida de Kepler é contada em paralelo com parte da vida de seu mestre Michael Maestlin. Em 1630, Maestlin recebe o diário de Kepler em sua casa, em Tübingen, Alemanha, juntamente com uma carta que só deveria ser lida após a leitura do diário. Pouco tempo depois, Maestlin fica sabendo que Kepler havia morrido há pouco. Maestlin, que não conseguiu dar a Kepler todo o apoio necessário e que está com 80 anos, vê desaparecer toda chance de redenção. Nunca poderá se desculpar com Kepler, o gênio criador. Nunca poderá dizer que estava errado ao condenar as idéias revolucionárias de seu pupilo. Poderá, entretanto, obter algum conforto lendo o diário, que Gleiser usa como costura entre as vidas dele e de Kepler.

Não sabemos exatamente como era Kepler fisicamente. Não sabemos como eram seus gestos e entonação de voz. Sabemos apenas que ele era dado a frases complicadas e vivia em uma época marcada pela reverência e afetação no tratamento pessoal, fato do qual Gleiser não se esquece. Os retratos mais conhecidos de Kepler mostram uma figura um pouco sizuda, com feições variando de acordo com o talento orçamento de cada pintor. Sobre Maestlin, sabemos muito menos, mas, em ambos os casos, Gleiser constrói personagens vivos, tridimensionais, repletos de emoções e conflitos. É como se o Kepler sizudo dos retratos pulasse em frente a nós e dissesse: "esse fui eu, minha vida foi desse jeito e minha visão do mundo era assim e assim". Em resumo, personagens apaixonantes e assustadores.

Gleiser também se esforça para mostrar o dia-a-dia de um cientista, a busca por patrocínio, a dificuldade em divulgar novas idéias, o inferno dos cálculos intermináveis. Tendo vivido em uma época na qual não existiam calculadoras e nem mesmo réguas de cálculo - esta última tendo sido inventada na última década de vida de Kepler - só lhe restavam os cálculos manuais. O máximo que ele pode fazer, e é basicamente isso que uma régua de cálculo faz, foi usar logaritmos para transformar as difíceis operações de multiplicação e divisão nas relativamente fáceis operações de adição e subtração, respectivamente. A importância dos logaritmos como ferramenta computacional foi tanta que Kepler dedicou suas Efemérides de 1620 a John Napier, o matemático escocês que inventou esse conceito matemático. Imagino o que faria Kepler se tivesse em mãos um microcomputador moderno, mesmo que não muito potente, com apenas uma planilha eletrônica e um editor de textos instalados. Não precisaria ser um supercomputador com capacidade de processamente paralelo e software astronômico altamente preciso. Uma mera planilha eletrônica teria economizado anos de cálculo e, quem sabe, permitido que Kepler descobrisse suas quarta, quinta e sexta leis, modernamente conhecidas como "as três leis de Newton".

Essa última frase pode parecer exagerada, mas nunca o saberemos. O que sabemos é que Kepler havia intuido corretamente o conceito de "lei física". Ele não conhecia a gravitação, mas acreditava que uma força emanava do Sol, regendo o movimento dos planetas. Ainda, ele acreditava que essa leis eram quantitativas e universais, e que poderiam ser validadas experimentalmente. Essa, na verdade, foi uma das razões de Maestlin ter relutado em dar apoio a Kepler. Maestlin, aferrando-se à tradição aristotélica de disciplinas desenvolvidas à exaustão, mas isoladas entre si, não gostava de ver a astronomia (que media os céus) misturada à física (ou "filosofia natural", a qual procurava explicações para os fenômenos). Kepler não via problema algum em misturar as disciplinas, pois acreditava que tudo era parte de um mesmo plano divino, parte da harmonia do mundo.

Em Harmonia do Mundo, de Gleiser, a última entrada do diário fictício de Kepler data de maio de 1618, quando o astrônomo descreve as descobertas que culminariam na publicação do seu Harmonia do Mundo, em 1619, que apresenta a terceira lei de Kepler ("o quadrado do período orbital de um planeta é diretamente proporcional ao cubo do semi-eixo maior da elipse orbital"). Assim, ficamos sem conhecer as impressões de Gleiser sobre uma das últimas obras de Kepler: o conto Somnium, escrito entre 1620 e 1630 e publicado postumamente, geralmente considerado o primeiro conto de ficção científica da história.

Gleiser comenta que decidiu escrever um romance, e não um livro de divulgação nos moldes dos anteriores (O fim da Terra e do céu, A dança do universo e Micro-macro) por querer atingir um público diferente, interessado em ciência, mas que costuma ler e comprar romances. Talvez esses leitores, acostumados às reviravoltas nas tramas, possam perdoá-lo pelo final-surpresa, que não revelarei aqui. Usando as vantagens da ficção, bem como aproveitando-se de lacunas históricas, Gleiser revela-se bastante ousado ao estender ao máximo a angústia existencial de Maestlin. E deixa seus leitores querendo mais.

sábado, agosto 26, 2006

Reservatórios do Sul

A figura ao lado mostra a razão do racionamento de água em Curitiba e do aumento do PLD, que fechou ontem em R$ 129/MWh no Sul.

Até o mês de abril de 2006, o nível dos reservatórios do Sul estava seguindo o nível de 2004, embora um pouco abaixo. De abril em diante, em vez do armazenamento aumentar, como esperado, continuou na mesma linha descendente, vindo a atingir o menor nível dos últimos cinco anos.

É claro que a situação só é crítica para quem depende de água ou energia elétrica. Os outros não precisam se preocupar.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Meu sonho com Lula

Sonhei com Lula essa noite. Sério. Quase sempre tenho dificuldades para dormir e, nessa rara noite de sono tranqüilo, ele invadiu meus sonhos! Estávamos participando de um evento qualquer, em uma espécie de estância no campo. Lula saiu para dar um passeio no bosque e fui atrás dele. Nada de guarda presidencial, nada de seguranças, nada disso. Só Lula e eu. Aproximei-me dele, com toda a cortesia que o cargo exige, e disparei: "Presidente, eu sei que o senhor é um homem muito ocupado, mas gostaria de fazer uma única pergunta". Ele assentiu, como fazem as pessoas muito assediadas que não conseguem se livrar de mais um chato, e continuou andando calmamente. Fui atrás dele e perguntei como seria o tratamento dado à educação superior nesse segundo governo que ora parece inevitável. Ele começou a responder, mas nesse ponto o sonho entrou naquela espécie de bruma ou penumbra, onde não se sabe direito o que aconteceu, ou não se quer lembrar.

Algumas pessoas sonham com Ana Paula Arósio, Angelina Jolie, Patricia Arquette, etc. Talvez um espírita dissesse que eu fiz algo de muito errado em uma vida passada e estou pagando por isso ao sonhar com Lula. Mas o sonho foi real e, até onde me lembro, Lula não respondeu minha pergunta. Espero que esse seja um daqueles casos que Freud comentava, onde um charuto é só um charuto...

quarta-feira, agosto 23, 2006

Sessão de autógrafos com Marcelo Gleiser

Marcelo Gleiser esteve em Curitiba ontem, 22/8, para dar uma palestra e participar de uma sessão de autógrafos. O Teatro Regina Vogue estava lotado e fiquei razoavelmente surpreso com a tietagem, com várias menininhas querendo tirar fotografias ao lado dele. Talvez isso seja bom. Um físico brasileiro elevado à categoria de pop star é a prova de que o Brasil talvez ainda tenha jeito.

A palestra foi sobre o último livro de Gleiser, "A Harmonia do Mundo", uma biografia romanceada de Johannes Kepler. Gleiser discorreu sobre alguns modelos cosmológicos, dos gregos antigos a Kepler, e respondeu algumas perguntas. Apesar das credenciais, ele tem aquele jeito calmo que lhe permite não perder a paciência nem mesmo com as onipresentes perguntas que tentam misturar física e misticismo.

Estou na metade do livro de Gleiser, que é realmente muito bom. Ele faz um um díptico entre as vidas de Kepler, o gênio revolucionário, e de Maestlin, o mestre conservador que o renegou. Gleiser afirma ter escolhido Kepler, e não Galileu ou Copérnico, por causa da personalidade mais complexa e psicanalítica de Kepler. Copérnico, segundo ele, era conservador e retraído demais, tendo recebido a cópia impressa de seu livro somente em seu leito de morte. Já Galileu era muito arrogante e suas controvérsias com a Igreja Católica se devem em parte a isso, não à adoção do modelo copernicano. Kepler, por outro lado, representa a medida certa do gênio angustiado e oprimido pelas instituições e cultura da época, um verdadeiro descobridor de novos mundos.

Quando esteve em Curitiba em 2001, Marcelo Gleiser lotou o teatro de bonecos do Shopping Estação. Dessa vez, ele lotou o Teatro Regine Vogue. No andar da carruagem, da próxima vez teremos que reservar o Teatro Guaíra!

segunda-feira, agosto 21, 2006

De como o Brasil trata a ciência e a tecnologia, 3ª Parte: Brain Drain

Quando eu estava na quarta-série do ensino primário, a escola em que eu estudava organizou um concurso intitulado "esse é um país que vai pra frente", bem ao sabor da ditadura então em voga. Para participar, deveríamos desenhar um cartaz que ilustrasse o inevitável crescimento do Brasil. Meu pai, sempre com seu humor cáustico e inteligente, sugeriu que eu desenhasse um mapa do Brasil repleto de mulheres grávidas, mas comentou que talvez os militares não entendessem muito bem a idéia. Após algum tempo, resolvi desenhar um mapa do Brasil com uma escola ao centro e crianças se dirigindo a ela. Minha mãe me ajudou com o esboço e passei várias horas pintando o mapa, a escola e as crianças com lápis de cor. Um desenho tamanho A-zero com lápis de cor! Até hoje me lembro que um dos meus colegas ficou impressinado com a minha paciência e, até onde me lembro, ganhei a primeira fase do concurso, mas nunca soube o que aconteceu depois.

Era o longínquo ano de 1975 e aquela cena das crianças se dirigindo a uma escola nunca me saiu da memória. Mais tarde, já no segundo grau, posteriormente rebatizado, sabe-se lá com que razão, para "ensino médio", lembro-me de ter participado de um debate sobre desenvolvimento tecnológico, um tema recorrente para quem cursava o técnico em eletrônica. Não me lembro dos detalhes, mas me lembro vividamente de alguém ter comentado que o Japão havia investido maciçamente em educação, e que essa deveria ser a chave do grande sucesso que esses país estava alcançando. Lembro-me também de alguém ter comentado que o Brasil exportava minério de ferro, enquanto o Japão importava aço e ferro e exportava tecnologia. O exemplo de "tecnologia" dado por essa pessoa foi uma mera agulha de toca-discos, mas os tempos eram outros.

Esse debate deve ter ocorrido por volta de 1982, não mais que 1983. Já se passaram, portanto, mais de 20 anos. Durante todo esse tempo, todos os presidentes e governadores brasileiros não deixaram de apregoar seu compromisso perene com a educação. É claro que tivemos que nos virar com a praga da inflação, mas não tivemos que viver com os escombros do pós-guerra, como os japoneses. Hoje, o Japão é para nós inatingível. Tentamos até copiá-los tardiamente, na década de 90, quando a febre da Qualidade Total contaminava todos por aqui. A crise japonesa do final da década de 90 talvez tenha diminuído nosso ímpeto em imitá-los, mas raramente nos lembramos que a "crise" japonesa só existiu quando medida em termos dos altíssimos padrões japoneses. Para nós, teria sido uma mera turbulência.

Desde a década de 70 até agora, alguns países aprenderam que a receita japonesa dá certo. O caso mais bem sucedido talvez seja a Coréia do Sul, seguida recentemente pela China e pela Índia. Tudo indica que vamos ficar para trás.

Uma boa medida da efetividade das políticas educacionais de um país é o brain drain, fenônmeno que pode ser traduzido por "perda de cérebros". Todo país sofre com isso, inclusive os mais avançados. Não é raro toparmos com um norte-americano ou europeu que veio fazer um curso no Brasil, ou participar de algum programa de incentivo, ou assumir uma diretoria temporária em uma multinacional, apaixonou-se por uma brasileira e aqui ficou, apesar dos pesares. Mas, quando o brain drain é excessivo é que a porca torce o rabo.

O jornal O Globo desse domingo dá números assustadores. A cada ano, entre 140 a 160 mil profissionais qualificados deixam o Brasil. É como se, a cada ano, perdêssemos a USP, a UFRJ, a UFF e uma parte da UFMG. O motivo são os baixos salários, a falta de empregos qualificados e, sobretudo, a nossa falta de respeito pela competência profissional.

Franciso Antônio Dória, professor emérito da UFRJ, já havia apontado para esse problema em dezembro do ano passado, em entrevista ao Estadão, quando criticou a política do CNPq e a falta de respeito com a pesquisa. O problema, contudo, é muito maior do que o CNPq. Somos historicamente pouco afeitos à educação. Nosso negócio é praia, churrasco e futebol. O brasileiro cresce sonhando em ser jogador ou pagodeiro, profissões que exigem um quase nada de educação formal. O CNPq, do qual o professor Dória pode falar com muito mais porpriedade do que eu, é apenas um efeito dessa cultura, não a causa.

Enquanto perdemos milhares de profissionais por ano, o governo continua exercendo todo o populismo que os programas assistenciais permite. Mas é fácil perceber que assistencialismo não basta. Somos uma nação formada maciçamente por pobres capazes de absorver qualquer verba assistencial na qual o governo seja capaz de pensar, e que será desviada dos verdadeiros programas educacionais. Quanto mais investirmos em assistencialismo, mais pobres ficaremos, pois nunca haverá dinheiro suficiente. E, dentro de poucos anos, Índia e China terão nos atropelado, apesar dos enormes problemas deles mesmos.

Tenho dúvidas se o Brasil do futuro será um lugar melhor. Seremos mais burros, pois teremos perdido todos nossos gênios e até mesmo os profissionais apenas razoavelmente inteligentes. Seremos mais violentos, pois a falta de educação terá perpetuado a pobreza, que só enxergará o tráfico como meio de sobrevivência. Seremos mais racistas, pois os "brancos" terão se insurgido contra os "negros" detentores de quotas para todos os tipos de cargos públicos. E, finalmente, não tendo outra opção, teremos que retornar à nossa natureza de país exportador de commodities. É claro que nada disso precisa acontecer, bastanto que direcionemos os investimentos para as áreas de educação, ciência e tecnologia, e que administremos os recursos de maneira eficiente, profissional e desburocratizada. Mudanças culturais demoram, são caras e dolorosas, mas são possíveis.

sexta-feira, agosto 18, 2006

Chuva no Sul!


Até que enfim começou a chover no Sul! A imagem ao lado mostra a precipitação nas últimas 24 horas, que ultrapassou 100mm em algumas regiões. Em Curitiba, choveu intensamente ontem à noite e agora a garoa está de moderada a forte. Segundo os meteorologistas, as chuvas não deverão continuar, apresentando uma "dinâmica bastante instável". Mas já deve dar para amenizar o racionamento de água e reduzir um pouco o PLD no sul, que deverá ser divulgado hoje à tarde.

sábado, agosto 12, 2006

Newton da Costa no "Café com Ciência"

O matemático e filósofo Newton da Costa esteve em Curitiba no último dia 9/8 para participar do projeto Cáfé com Ciência do SESC da Esquina. O título da palestra era para ser "23 problemas abertos da matemática" (os problemas de Hilbert), mas da Costa acabou falando sobre filosofia do conhecimento científico, pois achou o tema original árido demais para uma audiência diversificada. Foi melhor assim, pois nem mesmo haveria tempo suficiente para falar detalhadamente sobre os 23 problemas de Hilbert.

Newton Carneiro Affonso da Costa nasceu em Curitiba, em 1929, e graduou-se em engenharia civil e em matemática pela Universidade Federal do Paraná. Seu reconhecimento internacional veio a partir de 1974, com a publicação do artigo "On the theory of inconsistent formal systems", que o lançou como um dos fundadores da lógica paraconsistente.

A lógica clássica, lembremos, não admite contradições. Dadas duas proposições contraditórias, qualquer proposição do sistema pode ser deduzida e este se torna trivial. Newton da Costa mostrou que é possível construir sistemas formais onde podem existir contradições sem que o sistema se torne trivial. Segundo muitos, o surgimento da lógica paraconsistente e de outras lógicas não clássicas representa uma revolução comparável à das geometrias não euclidianas no século XIX. Outros trabalhos de da Costa relacionam-se ao conceito de "quase verdade", à axiomatização das teorias da física (sexto problema de Hilbert) e, mais recentemente, ao problema P=NP, que é um dos "problemas do milhão".

Na palestra da última quarta-feira, da Costa procurou conceituar o conhecimento científico, principiando por dizer que conhecimento é uma crença justificável e que não pode ser confundido com opinião. Contudo, as dimensões dedutiva e indutiva não são suficientes, pois a crítica é fundamental em ciência, devendo ser exercitada diariamente. Nenhuma verdade é definitiva e, se um determinado corpo de conhecimentos não se expõe à crítica, não pode ser considerado científico.

Em uma das perguntas ao final da palestra, fez-se menção ao critério da refutação (ou falseabilidade) de Popper, segundo o qual uma teoria só pode ser considerada científica se puder ser experimentalmente refutada. Nesse ponto, da Costa disse não concordar totalmente com Popper, pois, segundo ele, existiriam teorias não científicas que podem ser refutadas, e citou a astrologia. Imagino que da Costa seja otimista demais em relação aos astrólogos, por razões que passarei a discutir brevemente.

A teoria da relatividade geral foi publicada por Albert Einstein em 1915. Dentre outras coisas, essa teoria prevê que os raios de luz devem se curvar ao passar perto de um corpo pesado, e Einstein foi capaz de calcular o ângulo de deflexão. Se a previsão estivesse errada, todo o edifício teórico da relatividade geral desabaria, sem possibilidade de reparo. Em tal situação, seria até preferível continuar usando a gravitação newtoniana, que prevê uma deflexão menor, mas que é uma teoria muito mais simples. Contudo, em 1919 algumas expedições organizadas por Sir Arthur Eddington aproveitaram um eclipse solar para observar a deflexão da luz das estrelas ao passar perto do sol. Apesar da incerteza experimental, os resultados se mostraram mais de acordo com a relatividade geral do que com a gravitação newtoniana. A teoria einsteiniana sobreviveu a esse experimento crucial e a muitos outros desde então, mas isso não significa que venha sobreviver a todos os testes futuros. Como disse o próprio Einstein, em 1922:

"O cientista teórico não deve ser invejado, pois a Natureza, ou, mais precisamente, o experimento, é um juiz inexorável e não muito cordial de seu trabalho. Ele nunca diz "Sim" a uma teoria. Nos casos mais favoráveis, ele diz "Talvez" e, na grande maioria dos casos, simplesmente "Não". Se um experimento concorda com uma teoria, isto significa, para esta, "Talvez", e se não concorda, "Não". Provavelmente, toda teoria algum dia experimentará o seu "Não" - a maioria das teorias, logo após sua concepção." (H. DUKAS; B. HOFFMANN, Albert Einstein: o lado humano, 1979, p. 19).

As boas teorias da física não permitem remendos: uma vez que não concorde com o experimento, a teoria desaba irremediavelmente. O mesmo não acontece com a astrologia, que usa remendos em profusão. É nesse sentido, imagino, que a astrologia deve ser considerada irrefutável, pois a teoria sempre pode ser modificada de maneira a se ajustar aos fatos.

Newton da Costa é mais otimista e argumenta que a astrologia pode ser refutada por meio de experimentos cuidadosamente projetados. Os astrólogos, contudo, são incansáveis e muito imaginativos. Se inquiridos, muitos deles argumentarão que existem provas abundantes a favor da astrologia e lançarão mão de dados históricos mostrando correlações entre configurações celstes e acontecimentos terrestres. Outros dirão que a astrologia existe há milhares de anos, incorrendo em uma falácia clássica conhecida como "argumento da antigüidade" (se é antigo e ainda existe, deve estar correto). Finalmente, muitos deles, ao serem confrontados com falhas em previsões astrológicas, lembrarão do remendo astrológico definitivo e dirão que "os astros impelem, mas não compelem".

É claro que, se a astrologia pode ser refutada ou não, tudo depende do significado que se dê ao termo "refutar". Se por isso entendemos a elaboração de um conjunto de experimentos que mostrem à comunidade científica internacional que os princípios astrológicos não são válidos, então a astrologia pode ser refutada. Isso, de fato, já foi feito mais de uma vez. Por outro lado, se por "refutar a astrologia" entendemos "convencer os astrólogos, imagino que isso jamais acontecerá. Da experiência que tenho com astrólogos, eles jamais aceitarão qualquer prova. É claro que isso somente mostra que a astrologia é imune a críticas e, assim sendo, não é ciência. QED.

Newton da Costa também lembra que não é possível justificar logicamente todas as nossas crenças, pois sempre existe um conjunto de crenças primitivas assumidas anteriormente. A maioria das pessoas não se dá conta de tais crenças primitivas e as tem como embutidas no funcionamento do universo. A ciência é o único ramo do conhecimento humano que invoca a crítica constante como maneira de verificar a validade de qualquer crença, primitiva ou não. Nessa singela característica reside sua enorme importância.

O contato com cientistas como Newton da Costa é sempre estimulante. Na voz dele, até mesmo afirmações aparentemente triviais, como "algumas pessoas são mais inteligentes do que outras", se revestem de um significado especial. É fascinante que ele, em uma idade na qual muitos brasileiros já se aposentaram há muito, continue escrevendo e participando de congressos e eventos científicos. Que isso sirva de exemplo a todos nós.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Marcelo Gleiser está de volta

O físico Marcelo Gleiser é capa da revista Época desta semana. Já tivemos outros cientistas, brasileiros ou não, aparecendo em capas de revistas semanais, como César Lattes e Stephen Hawking, mas Gleiser é nosso primeiro cientista "pop". E, ao contrário do que possam pensar os puristas, isso é bom.

Tive a oportunidade de conhecer Marcelo Gleiser quando do lançamento do livro "O Fim da Terra e do Céu", em 2001. Ao vivo, ele não tem nada de espalhafatoso, não se veste com roupas esquisitas, fala calmamente e a única afirmação escandalosa que faz, no entender de muitos, é dizer que não acredita em Deus. Ele não é pop nesse sentido de causar tumulto e, espero, nunca participará da "dança dos famosos" ou de coisa parecida. Ele é pop apenas por divulgar a ciência aos leigos e por não ter se esquecido do Brasil, mesmo morando nos EUA desde os 23 anos de idade.

O primeiro cientista pop de que se tem notícia foi Albert Einstein (1879 - 1955), criador da teoria da relatividade. Em 1919, algumas expedições destinadas a observar eclipses solares comprovaram as previsões de Einstein a respeito da deflexão da luz e ele foi rapidamente alçado ao estrelato. A personalidade de Einstein ajudou bastante nesse ponto. Espontâneo, ele não tinha medo de falar em público e a câmara gostava dele. Pouco mais tarde ele se arrependeu dessa fama súbita, que ele dizia não entender e que prejudicava suas pesquisas.

Muitos cientistas pop vieram depois de Einstein, como Richard Feynman, Carl Sagan e Stephen Hawking. Como eles, Gleiser, vivendo em uma era de crescente globalização e de comunicações instantâneas, usa a mídia a favor da educação. No próximo dia 20/08, por exemplo, ele começa a apresentar uma série de 12 episódios intitulada "Poeira das Estrelas", no Fantástico. Ainda há vida inteligente na TV aberta!

Como toda personalidade da mídia, Gleiser tem colhido sua quota de críticas. Em 1998, pouco após o lançamento do livro "A Dança do Universo", o físico Roberto de Andrade Martins, da Unicamp, publicou o artigo "Como distorcer a física: considerações sobre um exemplo de divulgação científica". O "exemplo" em questão é, naturalmente, o livro de Gleiser. Para se ter uma idéia do preciosismo a que chega Martins, ele critica Gleiser por ter usado a frase "Sabemos que o calor sempre flui de objetos quentes para objetos frios". O correto, segundo ele, seria dizer que "Sabemos que o calor sempre flui espontaneamente de objetos quentes para objetos frios". Outros exemplos citados por Martins vão na mesma linha. Como dizia Tom Jobim, "no Brasil, sucesso é ofensa pessoal", e o sucesso público de nossos cientistas ofende profundamente alguns membros da Academia.

O que me preocupa em relação à divulgação científica não diz respeito a essa minúcia de detalhes e a esse rigor, que se espera de um artigo científico, mas que é até mesmo irritante em uma obra destinada ao grande público. O que me preocupa é a dificuldade em se fazer leigos entenderem conceitos difíceis sem o uso da matemática. Um exemplo bastante conhecido é o da mecânica quântica, atualmente usada por vários místicos e autores de auto-ajuda como se fosse uma cura para todos os males, mas que não pode ser compreendida sem a resolução de vários problemas complicados. Gleiser acredita que nem todos os leitores entenderão o que ele tem a dizer, mas que o benefício produzido para muitos é maior do que o prejuízo causado a poucos.

Uma prova dos benefícios da divulgação é o caso, citado pela revista Época, de um estudante de 14 anos, chamado Leonardo Motta, que leu "A Dança do Universo" e começou a se corresponder com Gleiser por e-mail. Orientado por Gleiser, Leonardo começou a estudar física, passou no vestibular da USP e embarca mês que vem para a Universidade de Yale, onde iniciará o doutorado em física de partículas. Esse singelo benefício - outros devem existir - supera de longe qualquer falta de rigor que Gleiser possa ter cometido.

O livro mais recente de Gleiser, "A Harmonia do Mundo", segue uma linha um pouco diferente dos anteriores, pois é um romance sobre a vida do astrônomo Johannes Kepler. Aguardem comentários.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Heloísa Helena e falácias lógicas

A entrevista da senadora Heloísa Helena ao Jornal Nacional, em 8/8, me deixou mais surpreso pela forma do que pelo conteúdo. Não tenho dúvidas de que ela é uma das candidatas mais simpáticas do momento atual, mas a impaciência apresentada não revela uma pessoa preparada para assumir a presidência da República. Cortar perguntas pelo meio e respondê-las começando com um "meu amor" me dá a idéia de uma pessoa que está mais preocupada em apresentar uma visão de mundo do que em construir a sociedade igualitária que ela tanto prega. A primeira tarefa pode ser realizada isoladamente, pois cada um pode ter a visão de mundo que bem entenda, por absurda que seja. Mas construir uma sociedade melhor do que atual exige compreender as necessidades dos outros e parece-me que Heloísa Helena está muito mais preocupada em adivinhar tais necessidades, adaptando-as à sua ideologia, do que em entendê-las.

Esses detalhes, contudo, poderão ser polidos por um marketeiro qualquer em todas as campanhas futuras da qual a senadora participará. O problema é o conteúdo da entrevista, já esperado. Os "ismos" (socialismo, marxismo, catolicismo, etc) escorrem da boca da senadora a cada palavra, assim como as falácias lógicas. Perguntada se invadiaria fazendas improdutivas, ela respondeu que não poderia fazê-lo, pois, como presidente da República, deverá seguir a lei. Um belo exemplo de non sequitur, uma falácia lógica que ocorre quando o argumento não decorre logicamente das premissas. Ora, o que o entrevistador desejava saber era se a senadora era favorável à invasão de terras, não se ela conhecia a lei, coisa que se espera de qualquer candidato minimamente preparado. Em outra oportunidade, Heloísa afirmou saber mais de reforma agrária do que a entrevistadora, esbarrando perigosamente em um imperdoável argumento de autoridade.

A distorção do conceito de "democracia" também ficou evidente, mas tal distorção é tão comum em nossos dias que quase não a percebemos. Democracia é simplesmente um sistema de governo no qual o povo tem o poder de decisão, ao contrário da monarquia absolutista, onde o monarca é detentor de tal poder, ou da ditadura, onde o poder de decisão é exercido por um tirano que tomou o governo a força. Decorre que os regimes democráticos são mais liberais e o povo pode se manisfestar livremente, dentro dos limites de leis escritas por ele mesmo, sem temor de represálias. Isso não significa, contudo, que regimes democráticos impliquem automaticamente em desenvolvimento econômico. Heloísa Helena cai nesse erro ao afirmar que a democracia não está consolidada no Brasil porque "48% de toda a riqueza produzida nacionalmente fica com 0,005% da população". As raízes de nossa péssima distribuição de renda estão muito mais relacionadas à nossa cultura patrimonialista e cartorial, além da nossa exuberante incapacidade administrativa, do que à consolidação imperfeita da democracia.

Outra confusão da senadora é o argumento de que o socialismo não pode ser criticado porque nunca existiu verdadeiramente em nenhuma parte do mundo. Essa afirmação não é original, muito menos verdadeira. O socialismo pode ser criticado em tese e de fato. Pode ser criticado em tese porque parte de hipóteses incorretas a respeito da natureza humana. Marx, por exemplo, relevou grandemente o papel do egoísmo humano. E o socialismo pode ser criticado de fato porque as dificuldades de implantação são tão grandes que a tarefa nunca foi levada a cabo. Muitos experimentos não precisam ser completamente realizados para que o fracasso se evidencie. Por exemplo, não precisamos percorrer uma estrada do início ao fim para percebermos que tomamos o caminho errado.

Finalmente, a senadora Heloísa Helena nos apresentou sua já célebre confusão entre socialismo e cristianismo, dizendo que "aprendeu socialismo na Bíblia". Ora, isso é o mesmo que tentar aprender mecânica quântica lendo Aristóteles! Embora alguns dos fundamentos do socialismo utópico sejam semelhantes aos do cristianismo primitivo, misturar ambos significa confundir política e religião, confusão da qual Jesus de Nazaré foi hábil em fugir. E, se eu tenho medo de um socialista ateu, tenho muito mais medo de um socialista cristão, que tem Deus a seu lado para justificar todos os seus atos. Destes, nunca se sabe o que esperar.

sexta-feira, agosto 04, 2006

Coincidências 2


Há pouco menos de 10 anos, estive em Toronto, Canadá, participando de um treinamento para o projeto "Custos de Interrupção de Energia" da Copel. Viajando em companhia de três colegas mais velhos e conversando sempre com profissionais mais velhos, fui rapidamente apelidado de "mascote".

No segundo dia, à mesa de almoço, a conversa começou a girar em torno do assunto "experiência profissional". Sentado ao lado do Dr. Frank Chu, atualmente vice-presidente da Ontario Power Technologies, o contraste entre experiências profissionais era gritante, mas ele me garantiu que a experiência viria com o tempo (lembro-me claramente de ele ter usado a expressão "in due time"). Então, acabamos o almoço, pedimos a sobremesa, passamos para o café (espresso, que é o único café que um brasileiro consegue beber no Canadá), e vieram aqueles biscoitos da sorte chineses. No meu estava escrito:

"Experience is gained only by living."

"A experiência só se ganha vivendo". Uma das coincidências mais incríveis que já presenciei.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Os comerciais mais cretinos do mundo

Até meados da década de 90 era fácil topar com um comercial cretino na TV brasileira. Bastava assistir um comercial de cigarro.

Sim, crianças, houve época nesse país em que os fabricantes de cigarro anunciavam seus produtos em horário nobre. No intervalo da novela das oito, por exemplo, entre um sorriso artificial de Tarcísio Meira e um ataque histérico de uma Helena qualquer, você podia assistir aqueles caubóis cancerosos do Marlboro, montados em seus cavalos cancerosos, perseguindo vacas cancerosas e bebendo café canceroso. Ou então você podia assistir um ator famoso qualquer dizendo que você e ele tinham "alguma coisa em comum". Ou então um ex-jogador qualquer dizendo que gostava de "levar vantagem em tudo, cerrrto?"

A cretinice fumarenta acabou em janeiro de 2001, quando os comerciais de cigarro foram banidos da TV brasileira, esperemos que para sempre. Mas isso não quer dizer que a cretinice publicitária acabou. De fato, com o advento da TV por assinatura e com o aumento da concorrência, ela só se intensificou.

Não estou falando daqueles famosos "infomerciais", que não passam de arremedos de lavagem cerebral tentando nos empurrar furadeiras revolucionárias, equipamentos para ginástica, roupas que emagrecem, chás que emagrecem, comidas que emagrecem e máquinas fotográficas que emagrecem. Estou falando apenas de comerciais comuns, embora cretinos.

Antes de prosseguir, contudo, é conveniente observar que nesses tempos politicamente corretos é arriscado proncunciar a palavra "cretino", pois, de acordo com nosso velho amigo Aurélio, ela significa:

1. Patol. Que sofre de cretinismo.
2. P. ext. Lorpa, pacóvio, idiota.

Assim, em respeito aos cinco leitores desse blog, nenhum dos quais é um lorpa, vou passar a usar o termo "pacóvio" em substituição a "cretino". Os pacóvios não entenderão nada, é claro, mas nessa altura eles já devem ter parado de ler minha pequena "preleção".

Voltando ao assunto, minhas pesquisas televisivas indicam que a pacovice migrou dos comerciais de cigarro para os comerciais de creme dental. Talvez isso esteja relacionado à "lei de conservação da pacovice", que decorre do fato que os publicitários que trabalhavam em comerciais de cigarro tiveram que migrar para outras áreas, levando junto sua pacovice.

Poucas coisas são mais irritantes que assistir um comercial que tenta vender uma mistura pastosa de sabão, flúor, pó abrasivo e hortelã (ou menta americana, ou pimenta mexicana, ou qualquer coisa parecida). Um comercial de creme dental bem feito já é ruim, mas um comercial de creme dental pacóvio é mais irritante que Chitãozinho e Xororó tentando cantar uma ópera de Verdi, acompanhados de uma araponga no cio e de um porco sendo estripado.

Em um deles, direcionado a crianças pacóvias e embalado por uma musiquinha muito da lorpa, os publicitários tentam nos convencer que "com um belo sorriso, você pode chegar a presidente". Tudo bem, recomenda-se que presidentes de empresa tenham o sorriso em dia, mas só isso não basta, né?

Mas isso não é nada. Em uma série recorrente de comerciais, um ator amador, conversando com uma pessoa fora da cena, comenta sobre seus problemas dentais. Presume-se que, em meio a uma conversa qualquer, as pessoas finalmente chegam naquele ponto em que começam a falar de seus problemas com mau hálito, placas bacterianas, tártaro, dentaduras, gengivas inchadas, fístulas purulentas e dentes podres. E um ator em início de carreira, incapaz de conferir a ênfase correta a uma curta frase, é capaz de conferir a dose exata de autoridade necessária para que um consumidor compre o creme dental XYZ, não é?

E isso ainda não é o pior, pois esses comerciais simplíssimos, rodados em uma única sala de estar, com uma única câmera e um único ator, são pacóvios a ponto de conter erros de continuidade! Em um deles, por exemplo, o cabelo da atriz oscila da frente dos ombros para trás, e vice-versa, enquanto a câmera faz os cortes. Fantástico!

Para nosso terror, nunca é demais lembrar Murphy, que dizia: "sorria hoje, pois amanhã será pior". De fato, os comerciais pacóvios de dentifrício não são nada perto da verdadeira lorpice profissional que invadirá as televisões brasileiras a partir de 15 de agosto próximo: o horário eleitoral gratuito. Senhor, tende piedade de nós!