sexta-feira, setembro 28, 2007

Frase do dia - 28/10/07

"O aspecto mais triste da vida atual é que a ciência acumula conhecimento mais rápido do que a sociedade acumula sabedoria."

Isaac Asimov (1920 - 1992)

Autor de ficção científica e de
divulgação científica.

quarta-feira, setembro 26, 2007

O ataque da aranha marrom

Curitiba, capital do estado do Paraná, é também a capital nacional da aranha marrom. Basta entrar no Google com as palavras "aranha marrom" e "Curitiba" para se obter centenas de links. Os alunos da Universidade Federal do Paraná já publicaram várias dissertações de mestrado e teses doutorado sobre o assunto e o aracnídeo é bastante pesquisado por aqui (dentro das possibilidades financeiras atuais). Existem, por exemplo, pesquisas que utilizam clonagem molecular [1], pesquisas sobre os hábitos das aranhas [2] e pesquisas em busca de vacinas [3].

Os acidentes por picadas de aranha marrom em Curitiba somaram 2.483 casos em 1995, aumentando para 3.741 casos em 2004 e caindo para 2.400 em 2006. O ano de 2007 certamente será encerrado com mais de 1.000 casos. No Paraná, ao contrário do que ocorre em outros estados, os acidentes com aranhas correspondem a 35% dos casos de envenenamento [4]. Os ataques são mais numerosos durante a primavera e o verão, quando as aranhas se tornam mais ativas, mas ocorrem em algum grau durante o ano todo.

A aranha marrom mais comum em Curitiba (Loxosceles intermedia) foi identificada por Mello-Leitão em 1964. Em outros estados do sul e do sudeste também são comuns as espécies Loxosceles laeta e Loxosceles gaucha. A aranha marrom não é agressiva, mas ataca quando se sente ameaçada, especialmente quando comprimida contra a pele, o que pode acontecer quando as pessoas se vestem ou se calçam. A picada não é particularmente dolorida e após algumas horas o local pode ficar avermelhado. Contudo, entre 12 e 24 horas após a picada, a região atacada pode ficar arroxeada, evoluindo nos dias seguintes para necrose (morte do tecido). Em vários casos é necessária a realização de cirurgia plástica reparadora [5].

As toxinas presentes no veneno também podem causar insuficiência renal, principal causa de morte por picada de aranha marrom. Felizmente, os casos fatais são raros. Em Curitiba, o Centro de Controle de Envenenamentos (CCE) do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), opera um serviço gratuito pelo telefone 0800-41-0148. O serviço funciona 24 horas por dia e orienta a população a respeito dos acidentes com aranha marrom. O atendimento aos acidentados é feito também por meio de 107 unidades municipais de saúde. Em todas as unidades 24 horas é possível fazer tratamento com soroterapia.

Em caso de suspeita de picada por aranha marrom, recomenda-se que a vítima beba bastante líquido, não manuseie nem coloque soluções caseiras sobre a ferida e procure rapidamente uma unidade de saúde, à qual se deve retornar diariamente durante os próximos dois ou três dias, para fins de acompanhamento. Dependendo da quantidade de veveno injetada, da idade e condições de saúde da vítima, o acompanhamento pode se estender por trinta dias.

Atualmente não existe veneno eficaz contra a aranha marrom, mas algumas providências podem ser tomadas para minimizar o aparecimento do animal. A primeira delas é manter a casa em boas condições de limpeza. A aranha gosta de se esconder detrás de papeis, quadros, cantos escuros, móveis, etc. Não é suficiente limpar. É necessário limpar e manter limpo. É claro que isso dá trabalho e é mais fácil de falar do que de fazer, mas não há alternativa. A segunda providência é verificar se as aranhas não estão presentes em roupas, antes de vestí-las, e em sapatos, antes de calçá-los. A terceira providência é tentar conseguir algumas lagartixas. Isso é difícil, pois algumas pessoas têm medo de lagartixas e esses animais são difíceis de se encontrar. De fato, o desaparecimento das lagartixas no meio urbano é uma das possíveis razões para a proliferação de aranhas e insetos.

Sendo eu um morador de Curitiba, minha convivência com a aranha marrom vem de longa data. Esse peçonhento aracnídeo esteve presente nos três lugares onde morei. Comia de graça, não pagava aluguel e reproduzia-se de maneira promíscua e incestuosa. Dois desses lugares eram casas, mas um deles era um apartamento relativamente novo e fácil de limpar. Ainda assim, a aranha marrom estava por todos os cantos. Mata-se um punhado delas e outras aparecem no dia seguinte. Na minha residência atual, contabilizei 23 aranhas no último verão, após uma única noite de matança. No dia seguinte, voltei a encontrar algumas sobreviventes. É por esse motivo que um conhecido professor da UTFPR costuma dizer que a aranha marrom é o único animal conhecido que se reproduz por geração expontânea. Desconfio que, se Pasteur fosse curitibano, ele teria ficado em dúvida sobre o assunto!

As fotografias que ilustram esse post não são para estômagos fracos e foram retiradas da referência [6], embora estejam espalhadas por vários sites. Não sei porque a vítima demorou três dias para procurar ajuda médica e nem se ela teve problemas renais. Há alguma evidência de que a picada tenha se originado de uma Loxosceles reclusa (brown recluse spider), nativa dos Estados Unidos e presente desde o Meio-Oeste até o Golfo do México. A vítima em questão seria um residente do Texas e foi sumbetida posteriormente a uma cirurgia reparadora, com enxerto de pele retirada da região abdominal [7]. Há alguma dúvida se as lesões exibidas se devem realmente à picada de uma loxosceles [8], pois na internet não se pode ter certeza sobre a veracidade de algumas informações. De qualquer forma, a julgar por imagens encontradas em outros lugares [3], essas fotografias podem muito bem ser reais. Assim, se seu dedo começar a necrosar e, especialmente, se ele começar a se desgrudar do resto da sua mão, não tarde em buscar ajuda médica!


[1] http://www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=15784
[2]http://www.jornaldoestado.com.br/index.php?VjFSQ1VtUXlWa1pqU0ZKUFVrZDRUMWxYZUZaTlJsSjFZMFZLYVZadVFsWlVWVkpUVkRGV1ZVMUVhejA9
[3] http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/411
[4]http://www.jornaldoestado.com.br/index.php?VjFSQ1VtUXlWa1pqU0ZKUFVrZDRVRlZyVlhkbFZsSldWVzAxYVZadVFsWlVWVkpIVkd4V1ZVMUVhejA9
[5] http://www.butantan.gov.br/materialdidatico/numero9/numero09.pdf
[6] http://www.evangelicosaude.com.br/publicador/site/noticia.asp?ncod=59
[7] http://kcfac.kilgore.cc.tx.us/mobleypageap1/brown_recluse.htm
[8] http://www.snopes.com/photos/bugs/brownrecluse.asp

Frase do dia - 26/09/07

"Os grandes navegadores devem sua reputação aos grandes temporais e tempestades."

Epicuro (341 a.C - 270 a.C.), filósofo
grego, apud Joelmir Beting, 18/04/2002.

quarta-feira, setembro 19, 2007

SBSE 2008 – Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos

O SBSE 2008 – Simpósio Brasileiro de Sistemas Elétricos – será realizado em Belo Horizonte, entre 27 e 30 de abril de 2008. Os trabalhos poderão ser submetidos entre 21 de setembro e 15 de novembro. Apenas trabalhos completos serão aceitos.

O SBSE sucedeu os Encontros Nacionais de Engenharia de Alta Tensão – ENEAT, realizados nos anos de 1995, 1997 e 2000. O SBSE 2006 foi realizado em julho de 2006, por iniciativa da Universidade Federal de Campina Grande, com apoio da CHESF. A edição de 2008, que será sediada pela Universidade Federal de Minas Gerais, certamente consolidará esse evento como um importante forum de debates sobre assuntos do Sistema Elétrico Brasileiro.

Os temas para o SBSE 2008 são os seguintes:

  • Engenharia de Alta Tensão e suas aplicações.
  • Estabilidade Eletromecânica e de Tensão.
  • FACTS e Aplicações de Eletrônica de Potência.
  • Geração e Fontes Alternativas de Energia.
  • Planejamento da Expansão.
  • Planejamento da Operação.
  • Monitoramento e Diagnóstico.
  • Qualidade de Energia e Compatibilidade Eletromagnética.
  • Sobretensões e Coordenação de Isolamento.
  • Técnicas de Ensaio e Medição.
  • Proteção, Automação e Controle.
  • Eficiência Energética.
  • Mercados de Energia Elétrica.
  • Métodos Probabilísticos e Otimização.
  • Inteligência Computacional Aplicada a Sistemas Elétricos.
  • Modelagem, Simulação e Análise.
  • Ensino e Mercado de Trabalho.
  • Normalização e Regulamentação.

Mais informações podem ser encontradas no site do evento.

terça-feira, setembro 18, 2007

Preparativos para o XIX SNPTEE

As inscrições para o XIX SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica continuam abertas. Para não sócios do Cigré, o preço é R$ 930 (é caro, mas é só uma vez a cada dois anos).

O XIX SNPTEE será realizado entre 14 e 17 de outubro de 2007, no Riocentro, o melhor centro de convenções da América do Sul, recentemente modernizado por ocasião do Pan-Americano. O evento é promovido pelo Cigré-Brasil e coordenado por Furnas Centrais Elétricas S.A.

A grade dos trabalhos a serem apresentados já está disponível e pode ser acessada em http://www.xixsnptee.com.br/SNPTEE/65449-54124-grade_prog_XIX_SNPTEE.pdf . A UTFPR e a Electra Energy comparecerão com quatro trabalhos de três autores diferentes. Também estarão presentes os trabalhos de pelo menos quatro outros egressos e um ex-professor da UTFPR.

sábado, setembro 15, 2007

UNIOESTE-PR realiza concurso público

A Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Unioeste-PR, informa que abriu concurso público para professor efetivo em diversas áreas. São 48 vagas para os campi de Cascavel, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Marechal Cândido Rondon e Toledo, a maioria para 40 horas e Dedicação Exclusiva. Mais informações no site da Unioeste.

terça-feira, setembro 11, 2007

Mais um pouco sobre dublagem de seriados: os “cristais delirantes” de Star Trek

Um colega que leu o meu post anterior, e que trabalha com tradução profissional, acredita que o erro de tradução de “circuit board” tenha sido acidental, algo como dizer “quente água”. Talvez. Ele também comenta que o erro dos tradutores do seriado “24 Horas”, que traduziram “circuito de placa” em vez de “placa de circuito”, não se compara “às legendas das batalhas espaciais de Babylon 5, ao fato se de referirem a aviões de combate sempre como ‘naves’, naqueles programas que passam na quinta à noite no The History Channel ou, o que talvez seja o caso mais clássico de todos, os 'cristais delirantes' do primeiro filme de Star Trek”.

“Cristais delirantes”! Da mesma forma que muita gente da minha geração, eu assisti ao primeiro filme de Star Trek incontáveis vezes, nas versões legendada e dublada, mas confesso não ter percebido essa tradução criativa de “dilithium crystal” [1]. Contudo, me lembro claramente da tradução de “warp” como “arqueada”, termo que deixa claro que os tradutores não tinham idéia do que se passava no filme.

Por coincidência, ontem à noite o SciFi Channel estava exibindo o episódio “Elementary, Dear Data” [2], do início da segunda temporada de “Star Trek: The Next Generation”. No início do episódio, Data está conversando com La Forge e comenta algo sobre as habilidades do engenheiro, dentre as quais estaria a capacidade de trabalhar com “reguladores de delírio”.

Para quem tem que cumprir prazos e metas, deve ser realmente fácil confundir “dilithium” (uma palavra que existe também no mundo real) com “delirium” ou “deliriant”. Ainda assim, será que os tradutores não perceberam que o resultado, com o perdão do trocadilho, ficou delirante demais?

____________________
[1] WIKIPEDIA. Dilithium (Star Trek). Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Dilithium_%28Star_Trek%29>.
[2] STARTREK.COM. Elementary, Dear Data. Disponível em: <http://www.startrek.com/startrek/view/series/TNG/episode/68364.html>.

sábado, setembro 08, 2007

O fantástico “Circuito de Placa” do seriado 24 Horas

No início de julho de 2007, o canal Fox passou a exibir toda sua programação dublada em português, em substituição ao tradicional som original com legendas. Na época, a assessoria de imprensa do canal declarou que o novo sistema era experimental e que pretendia avaliar a rejeição ou aprovação por parte dos telespectadores [1].

Três meses depois, há indícios de que a medida pode ter sido desastrosa. De acordo com um relatório divulgado pelo Ibope, entre junho e julho a Fox caiu da oitava para a décima posição na classificação dos canais da TV paga [2]. Os números ainda precisam ser melhor avaliados, pois a métrica que o Ibope divulga para a TV paga é o “alcance” (número de telespectadores que sintonizam determinado canal durante pelo menos um minuto), e não a “audiência” (média de telespectadores que sintonizam um canal ou programa durante um intervalo maior de tempo). Mesmo assim, trata-se de uma evidência de que o novo sistema não está dando certo.

Particularmente irritados ficaram os fãs do seriado “24 Horas”, cuja sexta temporada está sendo exibida pela Fox. Não é preciso dizer o quão radicais os fãs de seriados podem ser quando deparados com mudanças em aspectos que consideram intocáveis. Para piorar a situação, a dublagem de “24 Horas” não é apenas uma traição àqueles que acompanham o seriado desde o início. A dublagem é também ruim. Prova disso é a tradução dada ao termo “circuit board”, citado a partir do 18° episódio da sexta temporada [3].

Mesmo aqueles que têm um conhecimento apenas elementar da língua inglesa sabem que a tradução correta de “circuit board” é “placa de circuito”. As placas em questão são construídas com fibra de vidro ou fenolite e contêm os caminhos elétricos que ligam os diversos componentes de um circuito eletrônico. A rigor, deveríamos dizer “placa de fiação impressa”, pois os componentes eletrônicos também fazem parte do circuito, mas não são impressos na placa. Apenas a fiação é impressa. Contudo, os termos “placa de fiação”, “placa de circuito”, “fiação impressa” ou “circuito impresso” são tradicionalmente usados. O termo “placa” também é frequentemente usado, desde que o contexto deixe claro do que se trata. E, em geral, o contexto é tão claro que a mera citação da palavra “placa” não deixará dúvida alguma em um engenheiro eletrônico.

Apesar disso, os tradutores de “24 Horas” resolveram usar o termo “circuito de placa”, que realmente dói no ouvido. Uma rápida pesquisa no Google teria evitado o vexame.


[1] UOL Televisão. 05 jul. 2007. Disponível em: <http://televisao.uol.com.br/ultnot/2007/07/05/ult4244u230.jhtm>.
[2] Folha Online. 31 ago. 2007. Disponível em:
< http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq3108200704.htm>.
[3] 24 Episode Guide. Season 6. Disponível em:
< http://www.fox.com/24/episodes/11pm.htm >.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Addio Luciano!

Luciano Pavarotti, um dos tenores mais conhecidos do mundo, faleceu ontem, aos 71 anos. Nascido em Modena, terra natal de Enzo Ferrari, Pavarotti fora diagnosticado com câncer de pâncreas em 2006, submetendo-se a uma cirurgia de remoção. Em agosto de 2007, a saúde de Pavarotti começou a deteriorar, indicando que a cirurgia não havia sido bem sucedida.

A carreira de Pavarotti começou em 1961, com a ópera La Bohème, no papel de Rodolfo. Embora bem sucedidas, as primeiras apresentações não deram ao tenor o reconhecimento de que viria gozar anos mais tarde. O reconhecimento mundial veio na década de 90, quando a gravação de Pavarotti da ária Nessun Dorma, da ópera Turandot, de Puccini, foi usada pela BBC durante a cobertura da Copa do Mundo de 1990, na Itália. Na mesma época, a apresentação dos “Três Tenores” (Pavarotti, Domingos e Carreras), no final da Copa do Mundo, ampliou ainda mais o reconhecimento.

Nessun Dorma fez parte dos esforços de Pavarotti para levar o canto lírico ao grande público. Esses esforços, nem sempre bem compreendidos pelos amantes da ópera, também incluiram uma certa fusão entre música erudita e música pop, por meio de parcerias com Bono, Sting, Suzane Vega, Brian May, Bob Geldof e outros.

O funeral de Pavarotti, que será realizado amanhã em Modena, cidadezinha de 180 mil habitantes, deverá ser acompanhado por mais de 200 mil pessoas.

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[1] FOLHA ONLINE. Tudo que já foi publicado sobre Pavarotti. Disponível em <http://busca.folha.uol.com.br/search?q=%22Pavarotti%22&site=online&src=redacao>.

quinta-feira, setembro 06, 2007

VI SPMCH - Simpósio Brasileiro sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas

O VI Simpósio Brasileiro sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas (SPMCH) será realizado em Belo Horizonte, entre os dias 21 e 25 de abril de 2008.

O evento é organizado pelo Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB) e o temário proposto é o seguinte:

  • Tema 21 - Aspectos Políticos, Legais, Institucionais e Planejamento e Gestão.
  • Tema 22 - Aspectos Ambientais e Qualidade.
  • Tema 23 - Projeto, Construção e Montagem.
  • Tema 24 - Auscultação, Manutenção e Segurança.
  • Tema 25 - Operação, Recapacitação e Descomissionamento.

Os autores têm até 31 de outubro de 2007 para enviar os trabalhos, que devem ser elaborados de acordo com o modelo disponível em http://www.cbdb.org.br/texto/modelo_trabalhos.dot.

Demais instruções podem ser obtidas na página do evento: http://www.cbdb.org.br/destaques/familias.asp?codigo=47.

quarta-feira, setembro 05, 2007

O ser humano é uma besta quadrada (*)

Da Rússia chegou-nos em fevereiro último mais uma notícia sobre o antigo debate entre religião e ciência. Uma adolescente de 16 anos, de nome Maria Schreiber, abriu uma ação judicial alegando que o livro-texto de biologia usado na escola que freqüenta é ofensivo aos crentes, e que os professores deveriam oferecer uma alternativa à teoria da evolução de Darwin. A corte russa rejeitou a ação, mas a estudante e seu pai afirmaram que iriam recorrer da sentença [1].

Esse é um daqueles casos em que não sabemos se devemos rir ou chorar. O único ponto positivo é que o fato ocorreu na Rússia, não no Brasil, e não iremos nos tornar, ao menos dessa vez, objeto de chacota internacional.

Não tenho certeza que parte da teoria da evolução os crentes entendem como ofensiva, mas imagino que seja aquela que afirma que o homem e os macacos atuais compartilham de um ancestral comum, o qual começou a se diversificar há 40 milhões de anos. Esse fato é geralmente expresso pela frase “o homem descende do macaco”, com a ressalva obrigatória de que se trata de um macaco primitivo, não de um macaco atual. Homens, gorilas, chimpanzés, orangotangos, etc., são, portanto, primos genéticos.

A afirmação de que o homem evoluiu de um ancestral primitivo não me ofende em nada, embora eu não tenha certeza sobre o que os chimpanzés pensam dela. Particularmente, tive a sorte de ser muito jovem da primeira vez em que ouvi meu pai, sempre muito esclarecido, dizer que “o homem veio do macaco”. Tão jovem e ingênuo que me lembro de ter pedido a que ele que me mostrasse uma fotografia da época em que ele era macaco... Aos cinco ou seis anos, eu já era um cético.

Infelizmente, o termo “evolução”, em seu sentido biológico, não significa “melhoramento”, mas apenas “modificação”. Não somos melhores do que chimpanzés, gorilas e orangotangos, mas apenas diferentes deles. Somos mais pelados, mais cabeçudos e temos uma cultura mais refinada, mas não somos melhores do que nossos parentes peludos. Talvez sejamos mais inteligentes, mas apenas no sentido muito humano que atribuímos ao conceito de inteligência. Mas não somos mais éticos, não somos mais divinos, não somos mais santos. Não existe melhor prova disso do que as notícias que nos chegam o tempo todo da África, lar de três das quatro espécies de grandes símios.

O gorila da montanha é provavelmente a subespécie mais conhecida desse magnífico animal. Um gorila macho típico pode pesar 180 kg e atingir até 1,7 m, quando totalmente ereto. A força muscular de um gorila é tão superior à humana que, se você for atacado por um deles, o melhor conselho é fechar os olhos e torcer para que tudo acabe rapidamente. Contudo, a não ser que você se comporte de maneira muito tola, isso dificilmente acontecerá. Os gorilas são pacíficos e vegetarianos e, apesar da força descomunal e dos caninos pronunciados, mesmo os grandes machos dominantes preferem resolver as disputas por meio da intimidação e da demonstração de força, não por meio de lutas mortais [2]. Os únicos inimigos dos gorilas são os homens e os leopardos. Mas, mesmo dos leopardos, eles têm pouco a temer.

Em agosto deste ano, seis meses depois da russa Maria Shreiber ter manifestado sua indignação acerca de seus ancestrais biológicos, nove gorilas da montanha foram covardemente assassinados no Parque Virunga, no Congo. De acordo com a reportagem da revista Veja [3], o massacre teria sido organizado por ordem de madeireiros locais, os quais não conseguiram entrar na reserva para derrubar árvores.

Os mais radicais dentre os defensores dos direitos humanos certamente dirão que as condições de vida dos camponeses africanos não são muito melhores do que as dos gorilas, e que os humanos africanos só conseguem sobreviver à custa da exploração do mercado negro de animais selvagens. Talvez. Todavia, existem mais de 60 milhões de seres humanos no Congo, mas menos de 400 gorilas da montanha. Dentro de 30 anos não haverá mais gorilas andando pelas montanhas, mas os seres humanos continuarão numerosos e famintos.

Talvez seja apenas azar dos gorilas, bem como de tantos outros animais, terem co-evoluído com a espécie mais beligerante que já habitou o planeta. Mas o azar é nosso também. Afinal, talvez alguns se lembrem do massacre em Ruanda, que faz fronteira com o Congo, no qual um milhão de humanos foram mortos em 1994, sem que país algum protestasse. Se não conseguimos evitar nem mesmo o massacre de seres humanos, que esperança haverá para os gorilas da montanha?

Assim, Maria Schreiber não deveria se ofender por descender de símios primitivos ou por ser prima de gorilas e orangotangos e prima-irmã de chimpanzés. Nenhum desses animais, por selvagem que seja, pratica o genocídio.

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(*) Frase freqüentemente citada pelo professor Newton da Costa, matemático e lógico brasileiro, reconhecido internacionalmente por suas pesquisas em lógica paraconsistente, área do conhecimento que ele ajudou a criar. Detalhes adicionais em
< http://www.cle.unicamp.br/arquivoshistoricos/newtondacosta_biografia.html>.

[1] ESTADÃO. Justiça russa se recusa a proibir ensino da evolução. 21 fev 2007. Disponível: <http://estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/fev/21/252.htm>.

[2] Berggorilla & Regenwald Direkthilfe. Acesso em: 05 set. 2007. Disponível em: <http://www.berggorilla.org/english/frame.html>.

[3] Veja. E ainda nos julgamos superiores. 02 set. 2007. Acesso em: 05 set. 2007. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/290807/p_126.shtml >.

terça-feira, setembro 04, 2007

UTFPR, campus Ponta Grossa, lança programa de mestrado profissional

A CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, aprovou, no último dia 27 de julho, a criação do segundo programa de mestrado do campus Ponta Grossa da UTFPR, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. A novidade é que agora se trata de um curso de mestrado profissional, que difere do tradicional mestrado acadêmico em vários aspectos.

Os cursos de mestrado profissional começaram a aparecer no Brasil em 1998, quando foram criados pela CAPES [1]. Atualmente, existem 229 desses cursos no Brasil, mas apenas 9 no Paraná [2].

Nos Estados Unidos e em outros países, os mestrados profissionais já existem há tempos. Por exemplo, enquanto o MSc (Master of Sciences) corresponde ao nosso mestrado acadêmico, existem também o MA (Master of Arts), o MEng (Master of Engineering), o MBA (Master of Business Administration) e vários outros. A duração típica desses cursos é de dois anos, com a segunda metade do curso dedicada à preparação de uma dissertação. Alguns deles exigem dedicação exclusiva, outros não.

No Brasil, muitos mestrados profissionais têm a carga horária concentrada em horários que podem ser freqüentados por alunos que não conseguem dispensa das empresas onde trabalham. Nesse aspecto, tais cursos são semelhantes a muitos cursos de pós-graduação lato sensu. A vantagem é que os mestrados profissionais são strictu sensu, conferem o grau de mestre (e não de especialista) e, ao contrário dos cursos lato sensu (o que inclui os nossos famosos MBA Executivos), são avaliados pela CAPES.

O programa de mestrado da UTFPR/Ponta Grossa deve ter início no primeiro semestre de 2008. A área de concentração é Ciência, Tecnologia e Ensino, em duas linhas: (a) construção do conhecimento e linguagem no ensino de ciência e tecnologia; (b) ciência e tecnologia no contexto do ensino-aprendizagem. As inscrições devem ter início em janeiro próximo, mas os horários das aulas ainda não estão definidos. Mais detalhes deverão estar brevemente disponíveis em [3].

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[1] UNIVERSIA. Conhecendo o mestrado profissional. 29 out. 2004. Disponível em: <http://www.universia.com.br/html/materia/materia_ffgf.html>.
[2] CAPES. Perfil da pós-graduação. 03 set. 2007. Disponível em: <http://servicos.capes.gov.br/projetorelacaocursos/jsp/regiaoDet.jsp>.
[3] UTFPR – campus Ponta Grossa. Disponível em: < http://www.pg.cefetpr.br/>.

A arte de fazer perguntas

Sempre me preocupa a seção de perguntas que se segue a uma palestra de um escritor ou cientista. Pelo conteúdo delas, fico com a impressão de que as pessoas não entenderam muito bem a palestra, o que é sempre muito frustrante para o palestrante, ou que o conteúdo foi espremido por tantos filtros cognitivos que o que sobrou tem apenas uma vaga semelhança com o que o palestrante tentou transmitir.

Por exemplo, ao final de uma palestra para promover seu livro “The God Delusion”, Richard Dawkins abriu a seção de perguntas, as quais poderiam ser feitas de forma oral ou escrita. Um aluno muito hesitante, embora corajoso, contribuiu com aquilo que deve ser um dos melhores exemplos de como não se fazer uma pergunta a um palestrante. A primeira parte da primeira pergunta durou cerca de 15 segundos e foi respondida por Dawkins com um singelo “não”. A segunda parte durou cerca de 47 segundos e foi interrompida por um Dawkins um tanto impaciente. Não satisfeito, o aluno fez ainda uma segunda pergunta que durou inacreditáveis 55 segundos. Para quem não acredita, o vídeo está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=cSbDUCCjrE4.

Objetividade é uma dádiva, mas pode ser cultivada. O aluno que inquiriu Dawkins talvez aprenda isso com o tempo, mas, sendo ele um aluno da Liberty University, instituição fundamentalista criada pelos batistas, não há razão para muita esperança. Em vez de fazer uma pergunta curta, explorando o conteúdo da palestra, ele tentou expor uma complicada teoria sobre filosofia da ciência, pedindo a opinião de Dawkins e tentando roubar o show.

Depois de alguns anos de sala de aula, alguma experiência como palestrante e ainda alguma experiência como “perguntador”, minha opinião é que existem apenas três mandamentos para se fazer uma pergunta bem feita a um palestrante (perguntas em aulas convencionais são diferentes, pois o professor dispõe de mais tempo).

O primeiro mandamento ao se fazer perguntas a palestrantes é lembrar que você não está lá para dar o show, mas apenas para ajudar o palestrante a dar o show dele. Assim, é de bom tom não fazer da sua pergunta uma pequena palestra, tentando ensinar algo ao palestrante. Se você não conseguir resistir à tentação, prefira falar com o palestrante em particular ou então escreva para ele posteriormente.

O segundo mandamento é fazer a pergunta da maneira mais simples possível, envolvendo poucas palavras e um único conceito. Escrever a pergunta previamente é uma boa idéia. Tentar reduzí-la de maneira a conter menos de 100 palavras é uma idéia melhor ainda. Dessa forma, você não cairá na tentação de incluir dezenas de sub-perguntas dentro de uma mesma pergunta, o que sempre causa confusão e bocejos.

Finalmente, o terceiro mandamento é planejar aquilo que você vai perguntar. Pesquisar previamente sobre o assunto da palestra é uma boa idéia. Pesquisar sobre o palestrante é uma questão de elegância e uma idéia melhor ainda.

É claro que sua intenção pode não ser ajudar o palestrante, mas apenas importuná-lo. Contudo, mesmo para importunar alguém é necessário pesquisa e planejamento, de modo que os dois últimos mandamentos continuam válidos. Lembre-se disso se Dawkins aparecer por aqui, pois “The God Delusion” acaba de ser traduzido para o português [1].

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[1] DAWKINS, Richard. "Deus, um delírio". Companhia das Letras, 2007, 528 pag.

sábado, setembro 01, 2007

XI SEPOPE – Extensão do prazo para envio de resumos

Atendendo a inúmeros pedidos, o Comitê Técnico do XI SEPOPE informa que decidiu estender o prazo para envio dos resumos de trabalhos. A nova data passa a ser 24 de setembro de 2007.

O XI SEPOPE, Simpósio Brasileiro de Especialistas em Planejamento da Operação e Expansão Elétrica, será realizado em maio de 2008, em Belém do Pará. Os resumos devem ter entre 500 e 1.000 palavras e podem ser enviados para o endereço abs-xispope@cepel.br. A formatação é livre e é possível incluir figuras.

O arquivo com a chamada de trabalhos e lista de temas preferenciais pode ser baixado em http://www.electra.sunhost.com.br/alvaug/Chamada_Trabalhos_XI_Sepope.pdf .