segunda-feira, maio 23, 2011

Armazenamentos no início do período seco

Estamos no início do período seco, que se inicia em maio e vai até novembro. Nessa época as afluências aos reservatórios começam a diminuir e os armazenamentos dos reservatórios das hidrelétricas começam a se tornar mais importantes do que no período úmido. É interessante então verificarmos a situação atual dos reservatórios e tentarmos imaginar cenários para o fim do ano.

Os armazenamentos do submercado Sul, como mostra a figura abaixo, são sempre muito voláteis pois a capacidade de armazenamento do Sul é pequena comparada à do Sudeste e as vazões do Sul são também muito voláteis. Para fins de comparação, o armazenamento do Sul está no momento em 80,6% do máximo, nível inferior ao da mesma época de 2010 (95,4%), mas superior ao da mesma época de 2009 (36,7%) e de 2008 (69,2%).


Como ilustrado na figura a seguir, os armazenamentos do submercado Norte raramente são preocupantes, atingindo, nessa época do ano, níveis geralmente superiores a 95%. No momento, o armazenamento do Norte é 99,3% e deve permanecer nesses níveis até início de julho, quando começará a diminuir da maneira esperada.


A figura abaixo mostra os armazenamentos dos últimos cinco anos para o SE/CO. Embora o armazenamento de 2011 tenha iniciado o ano em uma situação ruim, estamos agora com o melhor nível dentre os últimos cinco anos, indicando que provavelmente será possível enfrentar o período seco com PLDs inferiores a R$ 150/MWh, encerrando o ano com armazenamentos da ordem de 50%. O decréscimo atípico do armazenamento a partir de maio de 2010 deveu-se à redução da produção de Itaipu no primeiro semestre, por restrições de transmissão, a qual teve de ser compensada pelas demais hidrelétricas, e não é esperado em 2011.


Finalmente, a figura a seguir ilustra os armazenamentos dos últimos cinco anos para o NE. Observa-se que em 2010 os armazenamentos atingiram níveis preocupantemente baixos e, de fato, no final de dezembro o armazenamento deste submercado esteve apenas 3,8% acima da Curva de Aversão ao Risco (CAR). A melhoria dos armazenamentos em 2011 deveu-se a uma melhoria das vazões, especialmente nos meses de janeiro, março e abril. 


A partir de junho as vazões do NE devem entrar nos níveis esperados para o período seco deste submercado, sem grandes altos e baixos e, descontando-se possíveis revisões da CAR por parte do ONS, o armazenamento do NE deve permanecer confortavelmente acima desta curva de armazenamento crítico.

domingo, maio 22, 2011

E o mundo não acabou!

O comitê de produção do fim do mundo informa: "por causa de falta de energia elétrica em nossos estúdios, sentimos informar que o evento foi adiado mais uma vez"...

Para nós, ontem, 21 de maio, foi um sábado como todos os outros, mas para os membros do "Ministério Family Radio" certamente foi uma decepção. Afinal, para eles ontem deveria ter sido o "dia do julgamento", quando os fieis deveriam ter sido arrebatados em vida ao céus, deixando os infieis aqui na Terra, sem rumo e sem saber o que aconteceu.

O que me deixa realmente impressionado e, na condição de professor, até um pouco aterrorizado, é que a maioria desses cultos fundamentalistas apocalípticos venha dos Estados Unidos, país de primeiro mundo, dono de um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,902, número que os coloca em quarto lugar em termos de desenvolvimento humano. Eu não ficaria surpreso se tais "profecias" viessem de países como Zimbábue, Nigéria e outros que concentram os piores IDHs do planeta, mas que venham dos EUA é mais ou menos como se cientistas africanos, trabalhando em terra natal, ganhassem o Nobel de física por anos seguidos.

Cultos apocalípticos existem também no Brasil, são em grande parte importados dos EUA e têm grande penetração entre os brasileiros. Na adolescência, aquela idade sem juízo e sem razão, tive contato com um deles e, vindo de uma educação católica, fiquei realmente impressionado. Além da crença no "arrebatamento", para o qual, usando um pouco de bom senso, eles não fixavam data, o que me deixou mais intrigado foi o fenômeno da "glossolalia", que ocorria quando, em meio à exaltação do culto, algumas pessoas passavam a falar em "línguas estranhas". Hoje sei que falar em uma língua estranha é muito fácil (difícil mesmo é falar em uma língua que os outros entendam). Da mesma forma, interpretar aquilo que outro disse em uma língua estranha é ainda mais fácil. Afinal, quem em meio deles poderá contestar a interpretação?

Não sei se o pessoal do "Ministério Family Radio" fala outra língua que não o inglês, mas, mesmo falando só inglês, eles parecem ter arrebanhado várias almas ingênuas o bastante para doarem tudo o que tinham, abandonando suas vidas na esperança de serem os eleitos. Só que os Vogons não vieram e quem estava certo era meu pai, que dizia, do alto de sua sabedoria um pouco solipsista: "o mundo só acaba para quem morre". Assim, até que os golfinhos comecem a desaparecer, nada de pânico!

terça-feira, maio 10, 2011

Perdas de transmissão e distribuição de energia elétrica

Em 2008 a usina de Itaipu bateu o recorde de produção de energia da primeira década do século XXI, quando produziu 94.684 GWh (giga-wattshora), energia suficiente para suprir todo o consumo do estado do Paraná durante quatro anos. Nesse mesmo ano as perdas de distribuição e transmissão de energia elétrica no Brasil somaram 67.194 GWh, correspondentes a 71% da produção de energia de Itaipu. É como se tivéssemos em funcionamento mais de dois terços de Itaipu somente para suprir nossas perdas de transmissão e distribuição.

Perdas são inevitáveis em qualquer processo de conversão de energia, seja ela elétrica, térmica, mecânica, etc. No caso da energia elétrica as perdas são divididas em perdas de transmissão e perdas de distribuição. As perdas de transmissão são produzidas pelo aquecimento das extensas linhas de alta tensão e demais equipamentos, que ligam as usinas geradoras às distribuidoras de energia. Dada a tecnologia atual, tais perdas não podem ser evitadas, embora possam ser minimizadas.

Em 2008 as perdas globais (transmissão mais distribuição) no Brasil somaram 16% do total produzido. O gráfico abaixo mostra que não somos os campeões nem de perdas máximas nem de perdas mínimas, fazendo parte de um grupo de países cujas perdas globais se encontram entre 10% e 20%. Menos de metade dos nossos 16% se devem à transmissão. Nosso sistema de geração, ainda muito baseado em usinas hidrelétricas, exige linhas extensas para que possamos levar a energia até os consumidores, o que aumenta as perdas. Em países cuja geração é de base termelétrica, por outro lado, como é o caso dos EUA, as usinas podem ser construídas perto das cidades e as linhas podem ser mais curtas. Mesmo assim, poderíamos, em princípio, reduzir nossas perdas globais para algo em torno de 10%, como é o caso do Canadá, que adota um modelo de geração hidrelétrica semelhante ao nosso. O problema são nossas perdas de distribuição, muito maiores do que as canadenses.

FONTES: (1) U.S. Energy Information Administration: http://www.eia.gov/cfapps/ipdbproject/IEDIndex3.cfm;
(2) World dataBank:
http://databank.worldbank.org/ddp/home.do?Step=12&id=4&CNO=2

As perdas de distribuição são divididas em perdas técnicas e perdas não técnicas, estas também denominadas perdas comerciais. As perdas técnicas são também produzidas pelo aquecimento das linhas e demais equipamentos e, da mesma forma que as perdas de transmissão, não podem ser evitadas, mas podem ser minimizadas. Já as perdas comerciais são de outra natureza, sendo dividas em perdas por fraude e por furto. A fraude ocorre quando o consumidor adultera o equipamento de medição, de várias maneiras possíveis, de modo que a leitura mensal seja inferior ao montante efetivamente consumido. Já o furto ocorre quando a energia é consumida por meio de ligações clandestinas, sem passar por medidor algum.

Por causa da grande disparidade econômica entre as diversas regiões do Brasil, as perdas de distribuição também variam enormemente. As perdas técnicas, por exemplo, variam entre 3,5% a 19% entre distribuidoras, enquanto as perdas comerciais variam entre 1,3% e 30%. Esses valores são calculados sobre o montante de energia adquirido pelas distribuidoras para venda.

O gráfico acima, no qual apenas países com PIB per capita superior a US$ 1.000 foram considerados, mostra uma correlação interessante entre as perdas globais e o PIB nominal per capita. Além de mostrar que é muito difícil reduzir as perdas abaixo de 4% (o que só ocorre no caso de países territorialmente pequenos, como Israel e Holanda), o gráfico mostra que poucos países com PIB per capita abaixo de US$ 10 mil conseguem manter perdas globais abaixo de 10%, ficando mais fácil reduzir tais perdas quando a barreira de US$ 10 mil é ultrapassada. Por outro lado, não podemos simplesmente aguardar o crescimento do país, pois perdas elevadas implicam em maiores tarifas de energia, que impactam diretamente no crescimento econômico, dificultando a ultrapassagem da barreira econômica crítica. Deveríamos então nos guiar pelos exemplos de países com perdas abaixo de 10% e PIB abaixo de US$ 10 mil. Dentre estes, a julgar pelos dados oficiais, os melhores exemplos seriam Chile, Peru e China.

segunda-feira, maio 02, 2011

O fim de Bin Laden

Então, eis que os EUA conseguiram finalmente cercar e matar Osama Bin Laden. Parabéns para os Seals, que cumpriram a missão em menos de 10 anos! Entretanto, uma das dúvidas que ficam é: será que isso é bom? Ao que parece, cada especialista em terrorismo tem no momento uma opinião diferente, o que significa que qualquer coisa pode acontecer.

Aos incautos, que dizem que não há provas de que Bin Laden esteja morto, lembro do grande risco que Obama correu ao fazer o anúncio. Em outras palavras, se Bin Laden não estiver morto, Obama estará, ao menos politicamente. Por outro lado, se Bin Laden estiver morto, e tudo indica que esteja, Obama estará reeleito.

Interessante que este fato tenha ocorrido pouco após o casamento daquele príncipe que não é príncipe com aquela princesa que não é princesa. Daqui para frente, alguns países, incluindo a Inglaterra, tradicional aliada dos EUA, pátria do meu coração, inventora daquele baseball que não é baseball, daquele pudim que não é pudim e daquele bife que não é bife, terão de se virar com algo bem mais concreto e real. Real de verdade. Uma pena, uma verdadeira pena, mas apenas mais uma prova de que não passamos de macacos pelados tentando provar quem manda no pedaço.