Em 2008 a usina de Itaipu bateu o recorde de produção de energia da primeira década do século XXI, quando produziu 94.684 GWh (giga-wattshora), energia suficiente para suprir todo o consumo do estado do Paraná durante quatro anos. Nesse mesmo ano as perdas de distribuição e transmissão de energia elétrica no Brasil somaram 67.194 GWh, correspondentes a 71% da produção de energia de Itaipu. É como se tivéssemos em funcionamento mais de dois terços de Itaipu somente para suprir nossas perdas de transmissão e distribuição.
Perdas são inevitáveis em qualquer processo de conversão de energia, seja ela elétrica, térmica, mecânica, etc. No caso da energia elétrica as perdas são divididas em perdas de transmissão e perdas de distribuição. As perdas de transmissão são produzidas pelo aquecimento das extensas linhas de alta tensão e demais equipamentos, que ligam as usinas geradoras às distribuidoras de energia. Dada a tecnologia atual, tais perdas não podem ser evitadas, embora possam ser minimizadas.
Em 2008 as perdas globais (transmissão mais distribuição) no Brasil somaram 16% do total produzido. O gráfico abaixo mostra que não somos os campeões nem de perdas máximas nem de perdas mínimas, fazendo parte de um grupo de países cujas perdas globais se encontram entre 10% e 20%. Menos de metade dos nossos 16% se devem à transmissão. Nosso sistema de geração, ainda muito baseado em usinas hidrelétricas, exige linhas extensas para que possamos levar a energia até os consumidores, o que aumenta as perdas. Em países cuja geração é de base termelétrica, por outro lado, como é o caso dos EUA, as usinas podem ser construídas perto das cidades e as linhas podem ser mais curtas. Mesmo assim, poderíamos, em princípio, reduzir nossas perdas globais para algo em torno de 10%, como é o caso do Canadá, que adota um modelo de geração hidrelétrica semelhante ao nosso. O problema são nossas perdas de distribuição, muito maiores do que as canadenses.
As perdas de distribuição são divididas em perdas técnicas e perdas não técnicas, estas também denominadas perdas comerciais. As perdas técnicas são também produzidas pelo aquecimento das linhas e demais equipamentos e, da mesma forma que as perdas de transmissão, não podem ser evitadas, mas podem ser minimizadas. Já as perdas comerciais são de outra natureza, sendo dividas em perdas por fraude e por furto. A fraude ocorre quando o consumidor adultera o equipamento de medição, de várias maneiras possíveis, de modo que a leitura mensal seja inferior ao montante efetivamente consumido. Já o furto ocorre quando a energia é consumida por meio de ligações clandestinas, sem passar por medidor algum.
Por causa da grande disparidade econômica entre as diversas regiões do Brasil, as perdas de distribuição também variam enormemente. As perdas técnicas, por exemplo, variam entre 3,5% a 19% entre distribuidoras, enquanto as perdas comerciais variam entre 1,3% e 30%. Esses valores são calculados sobre o montante de energia adquirido pelas distribuidoras para venda.
O gráfico acima, no qual apenas países com PIB per capita superior a US$ 1.000 foram considerados, mostra uma correlação interessante entre as perdas globais e o PIB nominal per capita. Além de mostrar que é muito difícil reduzir as perdas abaixo de 4% (o que só ocorre no caso de países territorialmente pequenos, como Israel e Holanda), o gráfico mostra que poucos países com PIB per capita abaixo de US$ 10 mil conseguem manter perdas globais abaixo de 10%, ficando mais fácil reduzir tais perdas quando a barreira de US$ 10 mil é ultrapassada. Por outro lado, não podemos simplesmente aguardar o crescimento do país, pois perdas elevadas implicam em maiores tarifas de energia, que impactam diretamente no crescimento econômico, dificultando a ultrapassagem da barreira econômica crítica. Deveríamos então nos guiar pelos exemplos de países com perdas abaixo de 10% e PIB abaixo de US$ 10 mil. Dentre estes, a julgar pelos dados oficiais, os melhores exemplos seriam Chile, Peru e China.