domingo, outubro 30, 2005

Mais sobre o XVIII SNPTEE

O XVIII SNPTEE veio e se foi. Alguns dias fora do comum, passados em meio a gente fora do comum. A abertura foi magnífica, mesmo tendo-se que aguentar os discursos de sempre, com o presidente de Itaipu elogiando a estabilidade do sistema e dizendo que nenhum "foco" havia piscado quando da queda recente de algumas linhas de transmissão, e com um ex-presidente da Copel referindo-se a essa empresa como "Companhia Paranaense de Energia ELÉTRICA". Depois disso, tivemos a honra de presenciar uma apresentação do Balé Teatro Guaíra. Fantástico!

Uma diferença marcante em relação ao XVI SNPTEE, em Foz do Iguaçu, foi o espírito do evento. Naquela ocasião havia uma preocupação com o futuro do seminário, pois nenhuma empresa privada havia estado presente e temia-se que, com a crescente privatização do setor, o interesse fosse diminuir progressivamente. Contudo, o mundo dá voltas, e, como a privatização total não ocorreu, a Copel aproveitou este XVIII SNPTEE para festejar a "não privatização". Pelo menos desta vez ninguém mencionou que a empresa foi "salva" por um "ato de Deus".

O mundo realmente dá voltas. Em 1999, eu temia pela privatização. Agora, temo pela reestatização e pelo fim da competição. Há vários fantasmas rondando o mercado livre, como a aplicação da RTE, inclusive de maneira retroativa, a consumidores livres, a falta de energia de produtores independentes por causa da absorção nos leilões regulados, e aumentos futuros da TUSD, que podem corroer margens de lucro. Ainda assim, houve uma boa participação de agentes privados no evento, mas apenas duas comercializadoras independentes estiveram presentes: a Electra e uma concorrente.

Nos três dias de apresentações, assisti algumas bastante interessantes. Roberto Castro, como sempre, estava lá. É chato saber que ele está agora do lado negro (i.e., CPFL). Também aproveitei para aprender alguma coisa com a "turma do concreto", que realizou algumas apresentações interessantes sobre CCR. Infelizmente, não pude assistir a todas as palestras, pois, tendo o evento sido realizado em Curitiba, tive que comparecer ao escritório da Electra para tocar alguns assuntos.

Minha apresentação até que foi boa. O tempo concedido (15 minutos) é claramente insuficiente para se apresentar qualquer assunto em detalhes, especialmente porque estou acostumado a falar durante um mínimo de 60 minutos. Ainda assim, minha palestra levantou algumas perguntas, especialmente sobre a participação das PCHs no MRE. Um dos participantes argumentou que não é correto que uma PCH continue suprindo um consumidor especial por meio do MRE, em longos períodos de baixa hidraulicidade, pois o consumidor estaria recebendo energia convencional, e não energia alternativa. Outro participante argumentou que o mercado varejistas (consumidores especiais atendidos por fontes alternativas) só é possível por causa do MRE. Eles estão corretos, mas tais dispositivos são garantidos em lei. Dura lex sed lex.

Infelizmente, não ganhei o "grande prêmio SNPTEE" (uma viagem a Paris), e nem mesmo o "pequeno prêmio SNPTEE" (não sei o que era, mas cabia dentro de uma sacola). A concorrência foi feroz e meu assunto não atraiu muito a admiração das grandes empresas, as quais, no final, foram as eleitoras dos ganhadores.

Agora, só nos resta esperar pelo XIX SNPTEE, no Rio de Janeiro, ou pelo próximo VII SINCONEE, em Florianópolis (o que vier antes).

segunda-feira, outubro 24, 2005

Conclusões sobre o Referendo do Desarmamento

Uma das poucas vantagens do Brasil em relação a outros países, mesmo alguns dos mais desenvolvidos, é que os resultados de eleições, plebiscitos e referendos são conhecidos apenas algumas horas após o encerramento do horário de votação. Assim, por volta das 21h00 de ontem, 23/10, já sabíamos que o "Não" havia vencido de maneira esmagadora.

O desdobramento pós-referendo que mais me interessou foi a quantidade de conclusões tiradas desse processo por jornalistas, sociólogos, políticos, cientistas políticos e outros. Uns dizem que o povo manifestou sua oposição ao governo atual, outros dizem que o povo já havia decidido pelo desarmamento, dada a queda na compra de armas, e decidiu manter suas liberdades individuais. Outros, por fim, dizem que a campanha do "Não" foi vitoriosa por ter sido mais profissional e cheia de marketing eleitoral.

A verdade é que, com maiores ou menores graus de certeza, dependendo da "conclusão" que se analisa, não temos idéia do que o povo "quis dizer". Só sabemos o que o povo disse. O resto é especulação. Para saber o que se passava na cabeça do brasileiro médio na hora da votação, seria necessário fazer outra votação, ou, no mínimo, uma pesquisa.

Curiosamente, redutos petistas, como o Rio Grande do Sul, votaram em peso a favor do "Não", enquanto estados violentos, como o Rio de Janeiro, votaram menos no "Não". Influência dos traficantes? Aposta no desarmamento? Mais especulações. A única conclusão líquida e certa do referendo é que serão escritos muitos livros e teses de sociologia para esmiuçar os resultados. Afinal, nessa área do conhecimento, sempre é possível encontrar uma teoria que se ajuste confortavelmente aos fatos.