Considere novamente aquele ponto
Em 1990 a sonda espacial Voyager 1, que havia sido lançada 12 anos antes e se encontrava a 6,4 bilhões de quilômetros da Terra, voltou suas lentes para nosso planeta e tirou uma famosa fotografia que ficaria conhecida como "pálido ponto azul". Nessa fotografia, mostrada ao lado, a Terra aparece como um pequeno ponto azul em meio a efeitos de polarização e difração produzidos pela luz solar.
Essa fotografia inspirou Carl Sagan, que estaria fazendo 80 anos hoje, a escrever seu livro "Pálido Ponto Azul: uma Visão do Futuro da Humanidade no Espaço", publicado em 1994. Dois anos depois, em uma palestra, Sagan comentou um pouco mais sobre a famosa fotografia, cujo texto traduzo aqui livremente do inglês:
“Considere novamente aquele ponto. Ele é aqui. Ele é o lar.
Somos nós. Sobre ele, todos que você ama, todos que você conhece, todos de quem
você algum dia ouviu falar, todo ser humano que jamais existiu, viveu sua vida.
O conjunto das nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões confidentes, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e forrageiro, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilizações, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada “superstar”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história de nossa espécie viveu aqui – em um grão de poeira suspenso em um raio de Sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, de modo que eles pudessem, em glória e triunfo, tornar-se os mestres momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas crueldades sem fim cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes dificilmente discerníveis de algum outro canto. Quão frequentes seus equívocos, quão ansiosos eles são em matar uns aos outros, quão fervorosos seus ódios.
Nossas atitudes, nossa auto-importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no universo, são desafiadas por este ponto de luz pálida. Nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade – em toda essa vastidão – não há indício algum de que a ajuda virá de outro lugar para nos salvar de nós mesmos.
A Terra é o único mundo conhecido, até o momento, a abrigar vida. Não há nenhum outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Colonizar, ainda não. Goste ou não, no momento a Terra é onde estamos estabelecidos. Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de humildade e de construção de caráter. Talvez não haja melhor demonstração da tolice das vaidades humanas do que esta distante imagem de nosso mundo minúsculo. Para mim, ele ressalta a nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, preservarmos e valorizarmos esse pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.”
O conjunto das nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões confidentes, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e forrageiro, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilizações, cada rei e camponês, cada jovem casal apaixonado, cada mãe e pai, criança esperançosa, inventor e explorador, cada professor de moral, cada político corrupto, cada “superstar”, cada “líder supremo”, cada santo e pecador na história de nossa espécie viveu aqui – em um grão de poeira suspenso em um raio de Sol.
A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, de modo que eles pudessem, em glória e triunfo, tornar-se os mestres momentâneos de uma fração de um ponto. Pense nas crueldades sem fim cometidas pelos habitantes de um canto desse pixel contra os habitantes dificilmente discerníveis de algum outro canto. Quão frequentes seus equívocos, quão ansiosos eles são em matar uns aos outros, quão fervorosos seus ódios.
Nossas atitudes, nossa auto-importância, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no universo, são desafiadas por este ponto de luz pálida. Nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade – em toda essa vastidão – não há indício algum de que a ajuda virá de outro lugar para nos salvar de nós mesmos.
A Terra é o único mundo conhecido, até o momento, a abrigar vida. Não há nenhum outro lugar, pelo menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Visitar, sim. Colonizar, ainda não. Goste ou não, no momento a Terra é onde estamos estabelecidos. Tem sido dito que a astronomia é uma experiência de humildade e de construção de caráter. Talvez não haja melhor demonstração da tolice das vaidades humanas do que esta distante imagem de nosso mundo minúsculo. Para mim, ele ressalta a nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, preservarmos e valorizarmos esse pálido ponto azul, o único lar que conhecemos.”