“Comer, Rezar, Amar” (“
Eat Pray Love”) é um livro do qual, em circunstâncias normais, eu dificilmente teria me aproximado. Só o fiz por ter assistido anteriormente uma palestra muito interessante da autora Elizabeth Gilbert no
Ted Talks.
O livro é a autobiografia parcial de uma mulher recém-divorciada, sofrendo uma crise existencial intensa, que resolve tirar um ano sabático para viajar para a Itália, para a Índia e para Bali. O primeiro país representa o prazer (“comer”), o segundo representa a devoção espiritual (“rezar”) e o terceiro representaria o equilíbrio entre os dois. O terceiro verbo, “amar”, aparentemente entra no título por puro acaso, pois é isso que autora encontra em Bali.
Não tenho ideia de quanto custa um ano sabático, mas barato não deve ser. No último instante, quando tudo já está programado e todas as malas já estão feitas, a autora recebe de sua editora a notícia de que suas viagens serão financiadas, com a obrigação de transformá-las posteriormente em livro. Ainda assim, ficamos com a impressão de que um título alternativo para o livro poderia ser “Como é bom ter dinheiro!”.
Como sabemos, o livro foi recentemente vertido para as telas do cinema, com Julia Roberts no papel principal. A foto de divulgação do filme, na qual a atriz aparece apreciando um
gelato, passa-se obviamente na Itália, onde a autora ganhou vários quilos comendo todas as massas e sorvetes possíveis, bebendo todos os vinhos de qualidade pelo menos acima da razoável e aprendendo italiano.
Na Índia, a autora passou o tempo todo em um
Ashram, uma comunidade hindu cujo objetivo é a evolução espiritual de seus membros, orientados por um guru. Lá, Gilbert presumivelmente teve algumas experiências místicas, as quais cedo ou tarde serão explicadas pela neurociência, caso já não o sejam. De qualquer forma, a religião tem mais peso na narrativa da autora do que comidas e bebidas.
Bali é a única ilha da Indonésia onde a maioria dos habitantes pratica o hinduísmo, ao contrário do islamismo dominante na maioria do país. Parte do objetivo da autora em ir para lá dizia respeito à busca de um equilíbrio entre a devoção, representada pelo hinduísmo balinês, e o prazer, representado pelo clima paradisíaco da ilha. Outra parte do objetivo era reencontrar o curandeiro Ketut, que ela havia conhecido em uma primeira viagem à ilha e que lhe ensinou meditação no estilo balinês e outras coisas. Em Bali ela encontrou também o romance com o brasileiro Felipe, com que posteriormente se casou.
A consistência lógica não é o ponto forte do livro de Gilbert, mas ela é divertida, frequentemente despudorada em relação ao sexo, sincera em relação à sua devoção e coloquial a ponto de que vários leitores, imagino, possam se sentir íntimos dela. Em resumo, trata-se do livro de viagens e reflexões de uma mulher de trinta e poucos anos, traumatizada por um divórcio difícil e em busca de sentido. E em busca de sentido todos estamos, não é?