quinta-feira, agosto 14, 2014

Artur Avila e a Medalha Fields

O ano de 2014 foi planejado pelo Brasil para ser aquele em que a seleção brasileira de futebol ganharia a mesma coisa pela sexta vez. Não deu. Em vez disso, 2014 ficará marcado como o ano em que um brasileiro ganhou a Medalha Fields de Matemática pela primeira vez, o ano em que Artur Avila teve seu nome inscrito na curta lista de nomes (56) que receberam esse prêmio, concedido pela União Internacional de Matemática (UIM) a cada quatro anos e no máximo a quatro matemáticos com idades inferiores a 40 anos.

Esta medalha, apelidada de "Nobel da Matemática", reconhecida como uma das maiores honras que um matemático pode receber (outras duas são o Prêmio Abel e a Medalha Chern), foi concedida pela primeira vez em 1936 e é denominada oficialmente International Medal for Outstanding Discoveries in Mathematics ("Medalha Internacional por Descobertas Marcantes em Matemática")

O nome coloquial da medalha é dado em homenagem ao matemático canadense John Charles Fields (1863 - 1932), que tinha sobre o prêmio uma visão muito diferente da qual temos sobre qualquer outro prêmio: "Devemos enfatizar novamente o fato de que as medalhas devem ser de caráter tão puramente internacional e impessoal quanto possível. Não devem ser associados a ela, de modo algum, os nomes de quaisquer instituições ou pessoas" [1].

Contudo, somos apenas humanos e não conseguimos premiar uma descoberta, ou um conjunto de descobertas, de maneira tão impessoal. E também não conseguimos evitar a associação de um país a uma pessoa ou vice-versa. O Prêmio Nobel, por exemplo, é concedido apenas a pessoas, não a países, mas não conseguimos evitar fazer listas de Nobéis por países e coisas parecidas.

A história do Nobel de Einstein, por exemplo, é bastante curiosa. Nascido na Alemanha, Einstein renunciou à cidadania alemã em 1896, para evitar o serviço militar, e migrou para a Suíça, passando a estudar e, mais tarde, a trabalhar lá. Entre os períodos de estudo e trabalho, naturalizou-se suíço. Em 1905, Einstein publicou seus primeiros trabalhos e começou a ficar conhecido na Europa. Em 1914, Einstein voltou para a Alemanha, tornando-se diretor do Instituto Kaiser Guilherme de Física, onde ficaria até 1933, mas nunca renunciou à cidadania suíça. Assim, quando Einstein ganhou o Nobel de Física em 1921, os suíços contabilizaram automaticamente o prêmio no rol suíço. Os alemães tiveram um pouco mais de trabalho para fazer o mesmo, já que Einstein havia renunciado à cidadania alemã e nunca havia requerido a mesma novamente. Os alemães então argumentaram que Einstein, sendo diretor do Instituto Kaiser Guilherme, era funcionário público, e, como apenas cidadãos alemães podiam ser funcionários públicos, Einstein era automaticamente alemão. E contabilizaram o Nobel de Einstein no rol alemão.

Curiosamente, algo semelhante está acontecendo no caso de Artur Avila Cordeiro de Melo, que nasceu no Rio de Janeiro, graduou-se em matemática na UFRJ, e completou o mestrado e o doutorado no IMPA (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), onde é professor visitante. Mas, em 2003, Avila tornou-se também pesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique, da França, onde continua [2], tendo se tornado também cidadão francês [3]. Assim, para desespero de John Fields, tanto Brasil quanto França contabilizam uma medalha a mais em suas relações [4]. Apesar disso, a colaboração entre países nas áreas científicas, mesmo em uma área tão abstrata quanto a matemática, é benéfica para todos e começou muito antes do que no futebol, ao contrário do que alguns possam pensar. E certamente esta colaboração será benéfica para o Brasil, assim como esta primeira Medalha Fields.

[1] https://cs.uwaterloo.ca/~alopez-o/math-faq/mathtext/node19.html
[2] http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4794781E6
[3] http://www.simonsfoundation.org/quanta/20140812-a-brazilian-wunderkind-who-calms-chaos/
[4] http://pt.wikipedia.org/wiki/Medalha_Fields


terça-feira, agosto 05, 2014

Suzana Herculano-Houzel no TED: por que nos tornamos humanos?

Suzana Herculano-Houzel, uma das mais conhecidas neurocientistas brasileiras, fez uma palestra no TEDGlobal 2013, em junho do ano passado, em Edimburgo, Escócia. Divulguei o evento aqui neste blog alguns meses depois.

Agora a palestra de Suzana está sendo divulgada pelo TED por e-mail e foi classificada pelos editores para ser colocada na primeira página do site do evento. A palestra, que já conta com mais de 1,4 milhões de visualizações e já foi legendada em 34 línguas, pode ser conferida aqui.

A resposta de Suzana às perguntas "por que nos tornamos humanos?" ou "o que há de tão especial sobre o cérebro humano?" deve ser de conhecimento de todos aqueles que frequentam as listas científicas ou redes sociais científicas ou mesmo o facebook: nós cozinhamos, coisa que nenhuma outra espécie faz. Cozinhar possibilita obter três vezes mais calorias dos alimentos e permitiu a nossos cérebros crescerem em um curto período de tempo.

Nada de esoterismos, nada de energias ocultas, nada de conexões com dimensões superiores, apenas um dos mais prosaicos hábitos humanos: o hábito de sentar em volta de uma fogueira (ou mesa, mais modernamente) e jogar conversa fora.

Quem quiser receber os e-mails do TED, pode se cadastrar em www.ted.com, parte de baixo, lado direito.