sexta-feira, junho 15, 2007

Vamos relaxar!?

De acordo com estatísticas da Organização Mundial do Turismo, o Brasil, esse país enorme e abençoado com recursos naturais exuberantes, recebe anualmente cerca de metade dos turistas que recebe a Holanda, um país que tem pouco menos de 0,5% do nosso território e 8,8% da nossa população. Enquanto o Brasil recebe 4,8 milhões de turistas ao ano, a Holanda recebe 9,6 milhões (dados de 2004 [1][2]). E mesmo a Holanda não é páreo para a campeã mundial do turismo: a França, que abocanha anualmente 75 milhões de turistas. Como prêmio de consolação, cabe mencionar que a Argentina recebeu em 2004 aproximadamente 3,4 milhões de turistas, 30% menos do que nós, portanto.

À luz desse cenário, e considerando nossos problemas com violência, falta de infra-estrutura e uma moeda excessivamente valorizada, fato que torna o Brasil mais caro do que outros países latino-americanos, seria de esperar que o governo fizesse todo o possível para incentivar a vinda de turistas para cá. Mas agora, além de ficar em dúvida se deve visitar um país que frequentemente aparece mais nas páginas policiais do que em outras, o turista estrangeiro terá a certeza de que, ao enfrentar a crise nos aeroportos, será tratado com o desdém oficial e receberá a recomendação de “relaxar e gozar”.

Como todos os brasileiros sabem, a frase foi dita pela ministra Marta Suplicy, na última quarta-feira, 13 de junho, após o lançamento do Plano Nacional de Turismo. “Relaxe e goze porque você vai esquecer dos transtornos”, disse a ministra, usando uma péssima metáfora [3]. Pouco depois, a ministra divulgou uma nota onde se desculpava por ter usado os termos que usou, acrescentando que queria ter dito “viajar vale a pena”. Todavia, qualquer estudante de psicologia sabe que é impossível desfazer um ato falho. É o inconsciente falando e expressando um desejo ou idéia que o sujeito não gostaria de expressar conscientemente.

Infelizmente, não é possível relaxar frente às conseqüências econômicas da violência urbana e da nossa infra-estrutura deficiente. Nossa baixa visitação por turistas é apenas um reflexo disso. Não adianta fazer de conta que o problema não existe e, como o governo atual, dizer que parte da culpa é da imprensa, por não destacar os pontos positivos do país. Imprensa serve para isso mesmo: para alertar a sociedade sobre os problemas da nação, para apontar os erros do governo e da iniciativa privada, para propor soluções e sugerir correções de rumo, além de fazer o mea culpa quando necessário. Muitos brasileiros ficariam horrorizados, por exemplo, se pudessem entender o que a imprensa norte-americana diz, movida pelo verdadeiro espírito da liberdade de expressão. Nossa imprensa é até boazinha com os governantes, pois todos entendem que a democracia brasileira é jovem e precisa amadurecer. Neal Boortz, Rush Limbaugh e Bill O’Reilly, por outro lado, não serão nem de longe tão bonzinhos com o próximo presidente democrata que vier a ocupar o salão oval. De forma alguma eles irão relaxar.

[1] http://www.unwto.org/facts/eng/pdf/indicators/ITA_Americas.pdf
[2] http://www.unwto.org/facts/eng/pdf/indicators/ITA_europe.pdf
[3] http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL51536-5601,00.html

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