quarta-feira, agosto 31, 2011

Observações sobre os resultados do leilão A-3/2011 do ACR

O leilão de energia A-3, inicialmente previsto para julho, foi realizado no último 17 de agosto. Para realização do leilão a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) precisa analisar todos os projetos inscritos e os editais devem ser publicados com antecedência mínima de 30 dias. O atraso foi assim causado pela grande quantidade de projetos de geração inscritos (321), representando 14.083 MW de potência instalada habilitada, conforme a Tabela 1.

Os leilões A-3 e A-5 são realizados no Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e destinam-se ao suprimento de energia a consumidores cativos, por meio da contratação de fontes de energia com horizontes de entrega (início da operação) de três e cinco anos, respectivamente. Os contratos do ACR não são formalizados diretamente entre vendedores e consumidores, como acontece no ACL, mas sim entre vendedores (comercializadores, geradores, produtores independentes ou autoprodutores) e distribuidoras, que suprem os consumidores cativos por meio de tarifas reguladas pela ANEEL. Além dos leilões A-3 e A-5 (energia nova), há também leilões A-1 (energia existente), de reserva e de ajuste, cujos objetivos são aumentar a segurança energética do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Uma característica marcante do leilão A-3 recente foi a presença das usinas eólicas: 44 projetos contratados, somando 1.068 MW de potência instalada e garantia física ("energia assegurada") de 484 MW médios, a um preço médio de R$ 99,58/MWh. Nos leilões realizados em 2010, para fins de comparação, o preço médio das usinas eólicas havia ficado em R$ 133/MWh. Em julho, pouco antes do leilão, o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) falava em preços de R$ 110/MWh [2]. Uma explicação aventada para a queda dos preços foi a redução da demanda por turbinas eólicas na Europa, o que teria causado acúmulo de equipamentos disponíveis para o Brasil e outros países. Alguns geradores falam que o setor está em uma fase de otimização de custos, enquanto fabricantes como a Wobben revelaram-se preocupados com a euforia causada por "preços irreais". Contudo, vale observar que 196 dentre os 240 projetos eólicos habilitados ao leilão, com maiores custos de geração e certamente menores fatores de capacidade, foram deixados de fora, talvez esperando uma valorização futura.

TABELA 1 - Resultado final do leilão A-3/2011
Fonte
Projetos
habilitados
Potência
instalada
habilitada
(MW)
Projetos
contratados
Potência
instalada
contratada (MW)
Preço médio
(R$/MWh)
Eólica
240
6.052
44
1.068
99,58
Gás Natural
10
4.388
2
1.029
103,26
Hidro (Jirau)
1
450
1
450
102,00
Biomassa
43
2.750
4
198
102,41
PCHs
27
443
0
0
TOTAL
321
14.083
51
2.745
102,07
FONTE: [1]

Um problema que todo participante de leilões de energia nova do ACR deve resolver é projetar o futuro com base em informações reduzidas sobre o presente. No presente caso, os geradores eólicos definiram ser viável fornecer energia durante 20 anos a preços próximos a R$ 100/MWh, bem como conseguir entrar em operação dentro de três anos. Caso algum atraso aconteça, a energia contratada deverá ser buscada no Mercado Livre (ACL), cujos preços se baseiam no PLD, sempre volátil e sujeito a surpresas. Para fins de comparação, as usinas contratadas no leilão A-3 de setembro de 2008 deveriam ter entrado em operação no início de janeiro de 2011. Contudo, somente 96 MW médios foram disponibilizados ao ACR no prazo. Os demais 980 MW médios, oriundos de usinas a gás natural e óleo combustível tinham, em janeiro, a previsão de atrasar a entrada em operação entre 6 e 23 meses, expondo-se ao ACL e causando distorções nos preços deste mercado [3]. Situação semelhante pode vir a ocorrer com as eólicas recentemente contratadas ou, ainda pior, estas podem se revelar inviáveis no futuro, quando a conjuntura mudar, mas não a estrutura já contratada. Sendo assim, talvez já esteja na hora de os geradores eólicos começarem a pensar no ACL, com sua estrutura de contratação mais flexível e possibilidade de obtenção de preços mais em conta.

[1] EPE, Informe à imprensa - Leilão de energia A-3/2011, 17 de agosto de 2011, http://bit.ly/ouoeWP  
[2] BRASELCO NOTÍCIAS, Abeeólica vê preço em queda, e diz que especialistas já falam em parques por R$110/MWh no leilão, 11 de julho de 2011, http://bit.ly/nMpPI9
[3] ABRACEEL NOTÍCIAS, Atraso em usinas do leilão A-3 de 2008 poderá causar impacto de 980 MW médios no mercado, http://bit.ly/qDBZ09

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