segunda-feira, agosto 15, 2011

Bueiros explosivos e redes subterrâneas de energia elétrica

Em junho de 2010 um bueiro explodiu em Copacabana, vitimando um casal de norte-americanos em férias. A mulher teve entre 80% e 100% do corpo queimado e o homem também teve queimaduras na cabeça e braços. Passado mais de um ano, outros vinte bueiros explodiram no Rio de Janeiro e pelo menos outros quatro mil estariam correndo risco de explosão.

As explosões têm sido frequentemente noticiadas como misteriosas e as causas não têm sido suficientemente explicadas pela mídia. Contudo, o fenômeno não é novo e, de fato, outros bueiros já explodiram em cidades como Nova Iorque, Boston e Washington. Ao contrário dos cabos de linhas aéreas, os cabos subterrâneos são fortemente isolados, como mostrado na Figura 1. De vez em quando pode ocorrer um problema de fabricação dos cabos, ou então uma emenda pode não ter sido bem feita, enfraquecendo o isolamento. Mais frequentemente, os isolamentos dos cabos podem ser lentamente corroídos por água ácida que entra pelos bueiros, expondo os condutores de alta tensão.

Figura 1 – As linhas subterrâneas tornam os “gatos” muito
mais difíceis, mas exigem manutenção preventiva cuidadosa

O estopim da explosão é sempre uma faísca, resultante de isolamentos danificados. O combustível da explosão pode ter várias origens: gás de esgoto, gás natural, combustível automotivo e óleo de transformadores ou de outros equipamentos elétricos, todos tendo entrado indevidamente na galeria dos condutores elétricos. Outro combustível possível é o monóxido de carbono, gás inflamável, incolor, inodoro, pouco mais leve do que o ar, que pode se acumular nas galerias mal ventiladas.

Apesar dos acidentes recentes, uma manutenção preventiva bem feita torna as redes subterrâneas seguras e livres de explosões. Além disso, tais redes apresentam ao menos quatro vantagens sobre as redes aéreas convencionais. A primeira é reduzir a frequência e a gravidade dos desligamentos, a segunda é reduzir o número de ligações clandestinas ("gatos", ver Figura 2), a terceira é possibilitar o aumento da densidade de potência distribuída e a quarta é melhorar o aspecto visual dos grandes centros, tornando-os mais adequados ao turismo e à vida dos habitantes. A poda das árvores também se torna quase desnecessária, o que reduz custos e evita a deterioração das árvores, por causa da entrada de micro-organismos pelos cortes dos galhos.

Figura 2 - Um dos muitos casos dos famosos “gatos”

As desvantagens das redes subterrâneas são, em primeiro lugar, os custos de instalação, que podem ser até 10 vezes superiores aos custos das redes aéreas. Os custos de manutenção também aumentam, mas quase toda ela se torna preventiva, pois os defeitos se tornam menos frequentes, embora o tempo para detectá-los e consertá-los aumente.

No Brasil, os custos de instalação das redes subterrâneas têm consistido no principal impedimento para a adoção das mesmas, a não ser em grandes centros, como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, nos quais a densidade de potência a ser distribuída impede a utilização das linhas aéreas. Mas outras razões também estão surgindo aos poucos. Por exemplo, a Câmara dos Deputados analisa no momento o Projeto de Lei 798/11, que obriga a instalação de redes subterrâneas em conjuntos urbanos de reconhecido valor histórico e cultural, especialmente aqueles tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [1].

O que não pode ocorrer é que, ao se enterrarem as redes, enterrem-se também os problemas. E daí voltamos aos bueiros explosivos. É um tanto assustador que, mesmo sabendo-se que o subsolo seja usado para diversas finalidades, tais como redes elétricas, de gás, de esgoto e telefônicas, não haja um mapeamento detalhado das mesmas. Na opinião de Eduardo José Bernini [2], ex-presidente da Eletropaulo, defensor das redes subterrâneas, a ausência de uma política pública fez com que o subsolo das grandes cidades brasileiras fosse ocupado de maneira desordenada. Isso está mudando e um mapeamento já está sendo realizado, ao menos no caso do Rio de Janeiro, dentro da velha tradição brasileira de se buscar uma solução após a explosão. Nesse caso, literalmente.

[1] Projeto prevê rede elétrica subterrânea obrigatória em cidades históricas, 8/8/2011, http://bit.ly/o95etz
[2] 'Rede elétrica está no limite', diz ex-presidente da Eletropaulo, 2011, http://bit.ly/r0gE35

2 comentários:

  1. As redes subterraneas apenas serao seguras se operadas dentro dos parametros especificados pelos fabricantes. Logo, a filosofia de "queima livre", onde os condutores devem derreter para "interromper" curto-circuitos, tem foco na continuidade operacional, e nao na segurança. As redes subterraneas jah custaram 10 vezes mais que as aereas, mas hoje estao por volta de 4 x. O mapeamento das diversas concessionarias apenas evita danos em casos de obras, mas nao evita explosoes como as atuais, que surgem "do nada". Uma explicaçao interessante estah em http://oglobo.globo.com/rio/especialista-diz-que-light-nao-investiga-explosoes-2688233

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  2. Obrigado por seus comentários, Roberto.

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