A execução de Hussein foi um erro
A execução de Hussein traz à memória uma cena de “Coração Valente”, dirigido e estrelado por Mell Gibson em 1995. No filme, o escocês William Wallace tem a esposa barbaramente degolada pelo xerife local, após ter agredido um soldado inglês que tentara violentá-la. Wallace rapidamente prepara um contra-ataque, reunindo alguns conterrâneos sedentos de vingança e cansados da opressão inglesa na Escócia. Após invadir a propriedade do xerife, Wallace o captura, encosta-o a um poste e o degola. E é só isso. Wallace, em uma mistura de exaustão, fúria e decepção, permanece olhando, como quem espera que todos aqueles anos de tensão e ódio acumulado escoem junto com o sangue.
Contra a pena de morte sempre há argumentos humanitários, mas esse não parece ser o caso de Hussein, contra quem pesavam acusações muito sérias e irrefutáveis. Mesmo assim, existiam pelo menos duas razões contra a execução dele. A primeira delas é o risco de transformá-lo em mártir.
Em outros tempos e em outras civilizações, um ex-ditador ou guerreiro jamais teria se deixado capturar com vida. O romano Marco Antônio, acusado de traição pelo compatriota Otávio Augusto, tirou a própria vida no fio da espada. Muitos anos antes, o cartaginês Aníbal preferiu ingerir veneno a se deixar capturar pelos romanos. Da mesma forma, nenhum bom samurai hesitaria em cometer harakiri muito antes de ser ameaçado com a pena de morte. Mesmo Hitler, com quem Hussein frequentemente é comparado, agiu de forma mais honrada.
Hussein, por outro lado, parecia desejar a execução, e os iraquianos lhe deram justamente aquilo que ele queria. Morrendo como mártir, colocando-se na condição de vítima e segurando o Corão até pouco antes do instante final, ele deve ter apostado no fato de que sempre existe gente louca o suficiente para seguir um maníaco que mostrou ser capaz de qualquer método de governo.
A segunda razão contra a execução é que, como descobriu o William Wallace do filme, a sede de vingança não pode ser aplacada durante os poucos segundos em que um corpo se debate na forca, agoniza na cadeira elétrica ou em qualquer outro aparelho inventado para tirar vidas. Os parentes das 80 pessoas mortas hoje, depois da execução de Hussein, talvez tenham uma medida mais exata da inutilidade da vingança.
A verdadeira vingança do povo iraquiano teria sido deixar Hussein viver, perpetuamente trancado em uma prisão de segurança máxima, e mostrar que é possível construir um país livre e próspero sem ele. Mas isso é muito difícil. A execução na forca, por outro lado, só exige alguns metros de corda, um cadafalso e dois homens mascarados.
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