quarta-feira, setembro 26, 2007

O ataque da aranha marrom

Curitiba, capital do estado do Paraná, é também a capital nacional da aranha marrom. Basta entrar no Google com as palavras "aranha marrom" e "Curitiba" para se obter centenas de links. Os alunos da Universidade Federal do Paraná já publicaram várias dissertações de mestrado e teses doutorado sobre o assunto e o aracnídeo é bastante pesquisado por aqui (dentro das possibilidades financeiras atuais). Existem, por exemplo, pesquisas que utilizam clonagem molecular [1], pesquisas sobre os hábitos das aranhas [2] e pesquisas em busca de vacinas [3].

Os acidentes por picadas de aranha marrom em Curitiba somaram 2.483 casos em 1995, aumentando para 3.741 casos em 2004 e caindo para 2.400 em 2006. O ano de 2007 certamente será encerrado com mais de 1.000 casos. No Paraná, ao contrário do que ocorre em outros estados, os acidentes com aranhas correspondem a 35% dos casos de envenenamento [4]. Os ataques são mais numerosos durante a primavera e o verão, quando as aranhas se tornam mais ativas, mas ocorrem em algum grau durante o ano todo.

A aranha marrom mais comum em Curitiba (Loxosceles intermedia) foi identificada por Mello-Leitão em 1964. Em outros estados do sul e do sudeste também são comuns as espécies Loxosceles laeta e Loxosceles gaucha. A aranha marrom não é agressiva, mas ataca quando se sente ameaçada, especialmente quando comprimida contra a pele, o que pode acontecer quando as pessoas se vestem ou se calçam. A picada não é particularmente dolorida e após algumas horas o local pode ficar avermelhado. Contudo, entre 12 e 24 horas após a picada, a região atacada pode ficar arroxeada, evoluindo nos dias seguintes para necrose (morte do tecido). Em vários casos é necessária a realização de cirurgia plástica reparadora [5].

As toxinas presentes no veneno também podem causar insuficiência renal, principal causa de morte por picada de aranha marrom. Felizmente, os casos fatais são raros. Em Curitiba, o Centro de Controle de Envenenamentos (CCE) do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), opera um serviço gratuito pelo telefone 0800-41-0148. O serviço funciona 24 horas por dia e orienta a população a respeito dos acidentes com aranha marrom. O atendimento aos acidentados é feito também por meio de 107 unidades municipais de saúde. Em todas as unidades 24 horas é possível fazer tratamento com soroterapia.

Em caso de suspeita de picada por aranha marrom, recomenda-se que a vítima beba bastante líquido, não manuseie nem coloque soluções caseiras sobre a ferida e procure rapidamente uma unidade de saúde, à qual se deve retornar diariamente durante os próximos dois ou três dias, para fins de acompanhamento. Dependendo da quantidade de veveno injetada, da idade e condições de saúde da vítima, o acompanhamento pode se estender por trinta dias.

Atualmente não existe veneno eficaz contra a aranha marrom, mas algumas providências podem ser tomadas para minimizar o aparecimento do animal. A primeira delas é manter a casa em boas condições de limpeza. A aranha gosta de se esconder detrás de papeis, quadros, cantos escuros, móveis, etc. Não é suficiente limpar. É necessário limpar e manter limpo. É claro que isso dá trabalho e é mais fácil de falar do que de fazer, mas não há alternativa. A segunda providência é verificar se as aranhas não estão presentes em roupas, antes de vestí-las, e em sapatos, antes de calçá-los. A terceira providência é tentar conseguir algumas lagartixas. Isso é difícil, pois algumas pessoas têm medo de lagartixas e esses animais são difíceis de se encontrar. De fato, o desaparecimento das lagartixas no meio urbano é uma das possíveis razões para a proliferação de aranhas e insetos.

Sendo eu um morador de Curitiba, minha convivência com a aranha marrom vem de longa data. Esse peçonhento aracnídeo esteve presente nos três lugares onde morei. Comia de graça, não pagava aluguel e reproduzia-se de maneira promíscua e incestuosa. Dois desses lugares eram casas, mas um deles era um apartamento relativamente novo e fácil de limpar. Ainda assim, a aranha marrom estava por todos os cantos. Mata-se um punhado delas e outras aparecem no dia seguinte. Na minha residência atual, contabilizei 23 aranhas no último verão, após uma única noite de matança. No dia seguinte, voltei a encontrar algumas sobreviventes. É por esse motivo que um conhecido professor da UTFPR costuma dizer que a aranha marrom é o único animal conhecido que se reproduz por geração expontânea. Desconfio que, se Pasteur fosse curitibano, ele teria ficado em dúvida sobre o assunto!

As fotografias que ilustram esse post não são para estômagos fracos e foram retiradas da referência [6], embora estejam espalhadas por vários sites. Não sei porque a vítima demorou três dias para procurar ajuda médica e nem se ela teve problemas renais. Há alguma evidência de que a picada tenha se originado de uma Loxosceles reclusa (brown recluse spider), nativa dos Estados Unidos e presente desde o Meio-Oeste até o Golfo do México. A vítima em questão seria um residente do Texas e foi sumbetida posteriormente a uma cirurgia reparadora, com enxerto de pele retirada da região abdominal [7]. Há alguma dúvida se as lesões exibidas se devem realmente à picada de uma loxosceles [8], pois na internet não se pode ter certeza sobre a veracidade de algumas informações. De qualquer forma, a julgar por imagens encontradas em outros lugares [3], essas fotografias podem muito bem ser reais. Assim, se seu dedo começar a necrosar e, especialmente, se ele começar a se desgrudar do resto da sua mão, não tarde em buscar ajuda médica!


[1] http://www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=15784
[2]http://www.jornaldoestado.com.br/index.php?VjFSQ1VtUXlWa1pqU0ZKUFVrZDRUMWxYZUZaTlJsSjFZMFZLYVZadVFsWlVWVkpUVkRGV1ZVMUVhejA9
[3] http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/411
[4]http://www.jornaldoestado.com.br/index.php?VjFSQ1VtUXlWa1pqU0ZKUFVrZDRVRlZyVlhkbFZsSldWVzAxYVZadVFsWlVWVkpIVkd4V1ZVMUVhejA9
[5] http://www.butantan.gov.br/materialdidatico/numero9/numero09.pdf
[6] http://www.evangelicosaude.com.br/publicador/site/noticia.asp?ncod=59
[7] http://kcfac.kilgore.cc.tx.us/mobleypageap1/brown_recluse.htm
[8] http://www.snopes.com/photos/bugs/brownrecluse.asp

3 comentários:

  1. Boa tarde.
    Em seu blog está escrito que não há produto que elimine a aranhã marrom, mas tenho realizado algumas aplicações (pulverização)em residencias e estabelicimentos comerciais com um produto realmente eficiente. Constatei que em contrário as aranhas "normais", formigas, baratas e pulgas, as aranhas marrons tem sua resistencia um pouco maior, mas são também eliminadas com este produto.
    Caso seja de seu interesse, poderiamos agendar uma data e local para eu poder lhe apresentar este produto que acho eficientíssimo.
    Abraço.
    Vitor Souza - 9905-7487
    vitorsouza1@gmail.com

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  2. Anônimo10:56 PM

    Isso é o que eu chamo de um bom vendedor...

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  3. Olá professor,lí seu comentário sobre a aranha marrom e recentemente um médico em minha cidade teve o dedo amputado pela picada desse inseto. Gostaria de saber sehj já existe algum veneno realmente eficaz contra essas aranhas... Grata

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