segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Produção termelétrica e riscos de déficit

Após reunião recente do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), o governo admitiu pela primeira vez que o país enfrenta um risco de déficit ("apagão"), embora baixíssimo. A forma como a declaração foi feita é curiosa: o governo afirma que o fornecimento de energia está garantido para 2014, "a não ser que ocorra uma série de vazões pior do que as já registradas" [1].

Ora, para avaliarmos riscos, devemos incluir todos os cenários possíveis. Logo, devemos incluir também o cenário no qual as vazões continuam a piorar. Logo, se existe tal cenário, existe risco de déficit.

Na verdade, a existência de riscos de déficit em um sistema hidrotérmico como o brasileiro não é novidade para profissional algum do setor. Construir um sistema hidrotérmico de risco zero seria caríssimo, por causa do número elevado de usinas térmicas que deveria ser adicionado ao sistema. Assim, a teoria diz que o sistema deve ser planejado de modo que o risco de déficit seja não nulo, algo como 5%. Isso significa que, se dispuséssemos de uma fictícia máquina do tempo, capaz de voltar ao início de um dado período de tempo e "rodar" o sistema elétrico vinte vezes, ao menos em uma dessas vezes o sistema apresentaria déficit.

No momento, já que não dispomos de máquinas do tempo e nem de usinas térmicas baratas em número suficiente, estamos usando ("despachando") todas as usinas térmicas disponíveis, incluindo as caríssimas usinas a óleo combustível. A Fig.1 abaixo mostra que a produção termelétrica recente tem atingido picos superiores a 15.000 MW médios. Comparativamente, o maior despacho térmico em 2013 foi de 14.528 MW médios (em 19/junho, pleno período seco).

Talvez nas próximas semanas as vazões continuem aumentando e aumentem com elas os armazenamentos dos reservatórios das hidrelétricas, especialmente no Sudeste/Centro-Oeste. Talvez as temperaturas continuem em redução e com elas seja reduzido o consumo de energia devido ao ar condicionado. Talvez. Mas, de qualquer forma, é desconfortável saber que estamos nas mãos de variáveis aleatórias em tal número que, no final de 2013, o ONS, prevendo o aumento das vazões, reduziu o despacho térmico. Então as vazões não chegaram e o despacho térmico teve de ser elevado novamente. E o final de 2013 foi praticamente ontem!



Fig.1 - Produção Termelétrica (MW médios) [2]


[1] Canal Energia. Sueli Montenegro. CMSE reafirma que não há risco de desabastecimento em 2014.
[2] Operador Nacional do Sistema Elétrico. ONS. Informativo Preliminar Diário da Operação - IPDO.





sábado, fevereiro 08, 2014

Vazões afluentes às hidrelétricas e PLDs em 06/02/2014

Em sistemas hidrotérmicos como o brasileiro a vazão afluente aos reservatórios é proporcional à energia hidrelétrica que se pode produzir. Por isso tal vazão é denominada Energia Natural Afluente (ENA) e medida, não em metros cúbicos por segundo, mas em megawatts médios (MW médios).

No submercado Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO) a vazão histórica média, ou Média de Longo Termo (MLT) é maior nos meses de dezembro a abril, denominado "período úmido", e menor de maio a novembro, denominado "período seco". Neste início de 2014, como mostra a Fig.1, as vazões do submercado SE/CO estão muito abaixo da MLT mensal.

A Fig.2 mostra que as vazões do submercado Sul são mais imprevisíveis, e até mesmo a MLT deste submercado não deixa clara a divisão entre um período seco e um período úmido. Já no caso do submercado Norte, como mostra a Fig.3, nunca é fácil prever se o período seco vai demorar mais ou menos para chegar, mas sempre é possível prever que, por volta de julho, ele terá se estabelecido. Situação semelhante ocorrer para o submercado NE, como mostra a Fig.4. Contudo, neste submercado, embora o período seco seja sempre seco, o período úmido nem sempre é tão úmido quando gostaríamos. É o que está acontecendo neste início de fevereiro, quando as vazões do NE estão aproximadamente duas vezes e meia abaixo da MLT mensal.

Por causa deste cenário pessimista de vazões, foi necessário acionar várias termelétricas, incluindo as caríssimas termelétricas a óleo. Como resultado, o PLD da semana passada "bateu no teto" de R$ 822,23/MWh em todos os submercados. Nesta segunda semana de fevereiro, embora o PLD continue no valor máximo no SE/CO e no Sul, os PLDs semanais médios no Norte e no NE fecharam respectivamente em R$ 204,95MWh e em R$ 740,56/MWh, conforme mostra a Tabela 1. Sinal de que o Operador Nacional do Sistema (ONS) está prevendo vazões levemente mais otimistas para o Norte e para o NE na semana operativa que se inicia. No SE/CO e no Sul, contudo, o cenário continua pessimista.

Fig.1 - Vazões do submercado SE/CO

Fig.2 - Vazões do submercado Sul

Fig.3- Vazões do submercado Norte

Fig.4 - Vazões do submercado NE

Tabela 1 - PLDs semanais médios para fev/2014

quarta-feira, fevereiro 05, 2014

Armazenamentos das hidrelétricas em 04/02/2014

Deve ser apenas brincadeira da natureza que em 04/02/2013 o armazenamento das hidrelétricas do SE/CO estivesse no mesmo valor que atingiu ontem, 04/02/2014: 39,2%. A vantagem de 2013 é que, naquela data, o armazenamento estava subindo, enquanto no momento está em leve queda, como mostra a Fig.1.

A Fig.2 mostra os armazenamentos do Sul, sempre muito variáveis, e a Fig.3 mostra os armazenamentos do Norte, que demoram um pouco mais ou um pouco menos para atingir 100% em maio, mas sempre chegam lá. A Fig.4 mostra os armazenamentos do Nordeste, indicando que 2014 poderá ser um ano tão difícil para este submercado quando foi 2013.

Ainda é cedo para se dizer se 2014 será tão difícil para o Setor Elétrico quando foi 2013, ano em que a produção termelétrica oscilou entre 11% e 23% da produção total. É possível, embora não altamente provável, que os reservatórios do SE/CO se recuperem, aos menos parcialmente, até o final de maio, quando novas elevações não são historicamente esperadas. De qualquer forma, os próximos meses serão tensos.

Fig.1 - Armazenamentos do submercado Sudeste/Centro-Oeste

Fig.2 - Armazenamentos do submercado Sul

Fig.3 - Armazenamentos do submercado Norte

Fig.4 - Armazenamentos do submercado Nordeste