domingo, junho 18, 2006

Paul McCartney faz 64!

Em 1966, Sir James Paul McCartney sentou-se para escrever uma canção destinada a fazer parte do lendário LP Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band, lançado em junho de 1967. O resultado foi When I'm 64, uma melodia agradável com uma letra simples que conta uma historinha também simples, bem ao estilo McCartney.

Comparada a outras canções de Sargent Peppers, When I'm 64 é de uma ingenuidade contrastante. Não há duplos sentidos, como em Lucy in the Sky with Diamonds ou Being for the Benefit of Mr. Kite (Lennon), não há preocupações espirituais, como em Within You Without You (Harrison) e não há epopéias sonoras e inovações tecnológicas, como em A Day in the Life (Lennon-McCartney).

When I'm 64 resume o dia-a-dia de um casal de velhinhos da década de 60, vivendo da maneira como os velhinhos viviam na década de 60: poupando, fazendo tricô, passeando, cuidando dos netos e do jardim, etc.

Perto de outras canções de Sargent Peppers, When I'm 64 não tem muita relevância, a não ser hoje, quando Paul McCartney completa 64 anos.

É claro que não se pode pretender que McCartney, então no auge dos 26 anos, tenha tentado prever como seria a vida 38 anos depois. Se inquirido, ele poderia responder, ao estilo de John Lennon: "It's only noise, man!". Mas é impossível deixar de mencionar que a canção não se tornou verdade, nem para McCartney, que tem dinheiro suficiente para não precisar "alugar um casa de campo na Ilha de Wight", nem para a maioria dos sexagenários europeus e de outros países, que não se contentam mais apenas em "fazer tricô, cuidar do jardim e sair para um passeio aos domingos."

No Brasil, naturalmente, os idosos são tratados como lixo. A obsessão brasileira por magreza, beleza e juventude, aliada a uma população ainda muito jovem, a um serviço público de saúde decrépito e a uma previdência pública falida, tornam muito difícil a vida de nossos velhinhos.
Ainda assim, apesar dos contrastes entre os velhinhos europeus e os nossos, é estranho viver em um mundo no qual Paul McCartney é um sexagenário.

Happy birthday, Paul! Segue a letra completa de When I'm 64.

When I get older, losing my hair, many years from now,
Will you still be sending me a Valentine, birthday greetings, bottle of wine?

If I'd been out 'till quarter to three,would you lock the door?
Will you still need me, will you still feed me,
When I'm sixty-four?

You'll be older, too. Aaah, and if you say the word, I could stay with you.

I could be handy, mending a fuse, when your lights have gone.
You can knit a sweater by the fireside, sunday mornings, go for a ride.
Doing the garden, digging the weeds, who could ask for more?
Will you still need me, will you still feed me, when I'm sixty four?

Every summer we can rent a cottage in the Isle of Wight if it's not to dear.
We shall scrimp and save.Ah, grandchildren on your knee, Vera, Chuck, and Dave.

Send me a postcard, drop me a line stating point of view.
Indicate precisely what you mean to say, yours sincerely wasting away.
Give me your answer, fill in a form, mine forever more.
Will you still need me, will you still feed me, when I'm sixty four?

quarta-feira, junho 14, 2006

De como o Brasil trata a ciência e a tecnologia, 2ª Parte: Sir Peter Brian Medawar

Sir Peter Brian Medawar, ao contrário de outros brasileiros de sucesso que fixaram residência no exterior, é pouco conhecido de nós. Medawar, nome estranho ao ouvido brasileiro, mas não mais estranho do que Karl Rischbieter e outros tantos, nasceu em Petrópolis, em 1915, filho de mãe inglesa e pai libanês naturalizado inglês.

Por volta de 1925, talvez pudéssemos encontrar o pequeno Peter chutando uma bola ou outra, como tantos outros guris brasileiros, e correndo pelas ruas do Rio de Janeiro, onde seu pai havia aberto a "Ótica Inglesa", que existe até hoje. Mas havia uma pequena diferença: Peter era tão bom aluno que, aos 14 anos, seus pais resolveram enviá-lo à Inglaterra, para que tivesse acesso a melhores condições de ensino.

Na Inglaterra, Medawar completou seus estudos no Marlborough College e na Universidade de Oxford, no Magdalen College, formando-se em zoologia em 1932. Educação de primeira nas melhores escolas do mundo.

Pouco depois, Medawar começou a se interessar por medicina e biologia, mas foi chamado pela pátria, o Brasil, para prestar o serviço militar obrigatório. Os pais de Medawar procuraram então o Ministério da Aeronáutica e pediram dispensa, explicando que o filho estudava no exterior. O pedido foi negado. Não tendo outra alternativa, Peter Medawar abriu mão da cidadania brasileira e abraçou a inglesa, preferindo as pesquisas científicas às atividades militares em um país imerso em revoluções. A biografia oficial de Medawar não menciona esse singelo acontecimento, mas vai logo ao que interessa: as pesquisas de Medawar sobre transplantes de tecidos vivos.

Por volta de 1949, as pesquisas sobre rejeição de transplantes já estavam bastante avançadas, tendo-se descoberto que, em determinadas situações, uma certa "força biológica" inibia a rejeição. Trabalhando com Frank Burnet, 16 anos mais velho, Medawar descobriu que a inibição se devia à ação de certos anticorpos, e ambos desenvolveram a teoria da Tolerância Imunológica Adquirida.

O trabalho de Medawar e Burnet possibilitou o desenvolvimento dos transplantes modernos, que hoje salvam milhares de vidas. Em decorrência desse trabalho, Medawar foi eleito Fellow of the Royal Society (FRS) com a idade de apenas 34 anos. Em 1960, ele e Burnet foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia.

Medawar foi um cientista de grande originalidade, tendo recebido praticamente todas as honras possíveis do mundo científico. Além do Nobel e do FRS, ele foi escolhido Companion of Honour (1972), Member of the Order of Merit (1981) e foi o primeiro presidente da Sociedade Internacional de Transplantes. Em 1965, Medawar foi condecorado cavaleiro pela rainha Elisabeth, tornando-se Sir Peter Brian Medawar.

Alguém poderia argumentar que não temos nada com isso, já que Medawar não era filho de brasileiros. Contudo, por um lado, não é esse o caso de todos nós? Por outro lado, Jean Piaget argumentava que todas as estruturas mentais de um indivíduo são formadas até os 14 ou 15 anos de idade. Assim, o cérebro de Medawar foi integralmente formado em território brasileiro. E nós o chutamos fora.

Medawar morreu em 1987 e seus pais permaneceram no Brasil, país que só se deu conta da existência de Medawar em 2001, quando a Fundação Cultural de Petrópolis inaugurou uma placa nos jardins do Palácio Itaboraí, sede da Fiocruz. Imagino que tenham havido protestos dos habitantes por se desperdiçar dinheiro público com homenagens a um estrangeiro...

E essa é a história de como o Brasil perdeu seu primeiro Nobel!

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Posfácio: muito tempo depois de ter escrito este post, fiquei sabendo que Sir Peter Medawar é nosso segundo Nobel perdido. O primeiro é Carlos Chagas. Mais detalhes em http://adonaisantanna.blogspot.com.br/2012/09/o-nobel-brasileiro.html

terça-feira, junho 13, 2006

A irrelevância da Copa do Mundo

Conta a lenda que o grande lógico-matemático brasileiro Newton da Costa chegou certa vez para dar aulas na Universidade de São Paulo e encontrou o campus deserto. Em busca de respostas, talvez temendo uma revolução ou hecatombe nuclear, logo descobriu que as aulas haviam sido suspensas por causa de um jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo.

Newton da Costa, internacionalmente conhecido por seus trabalhos em lógica paraconsistente, certamente tinha mais o que fazer da vida do que assistir uma mera partida de futebol e deve ter voltado para casa reclamando desses brasileiros "cabeça-de-torpedo".

Ninguém pretende, obviamente, que brasileiros comuns tenham a dimensão intelectual de da Costa, nem mesmo que cheguem perto disso. Do brasileiro pobre, que passa a vida se espremendo em filas de ônibus, fugindo de balas perdidas e esperando que o fim do mês chegue logo, infelizmente não se pode esperar grandes arroubos intelectuais. Não se pode esperar isso nem mesmo do brasileiro razoavelmente escolarizado, mas que pensa que "Quem mexeu no meu queijo" é um livro de Administração.

Desses brasileiros eu entendo o apego excessivo ao futebol e à Copa do Mundo. Também entendo quando é o caso de pessoas que nasceram em uma "família futebolística", na qual a paixão pelo esporte se propaga como um meme de uma geração a outra. Sei disso, pois vivo com uma delas, atleticana fanática. Nos outros casos, é melhor abandonar qualquer esperança de se encontrar uma explicação racional.

É claro que a nossa não é a primeira civilização a prezar os esportes a ponto de considerá-los manisfestações divinas. Na Grécia antiga, por exemplo, as competições esportivas eram dedicadas aos deuses do Olimpo.

Os atletas gregos, assim como os atuais, passavam uma vida dedicada ao esporte, recebiam tratamento especial, eram venerados e idolatrados.

E, ao contrário aos atletas atuais, que não passam de dondocas milionárias hospedadas em hotéis cinco estrelas, reclamando de febre e bolhas nos pés, os atletas gregos se dispunham a competir até a morte, coisa que acontecia com frequência inadmissível na atualidade.

Apesar disso, alguém sabe quem foram esses atletas gregos? Alguém, que não seja um professor de história, sabe citar ao menos o nome de um deles? Quem eram esses semi-deuses que dedicavam a vida ao esporte? Ninguém sabe. Contudo, qualquer estudante de ensino médio sabe (ou deveria saber) citar uma meia dúzia de filósofos gregos, uns três artistas e talvez um ou dois estadistas.

Os Jogos Olímpicos da antigüidade, que inspiraram os jogos modernos, foram totalmente ofuscados pelas outras contribuições gregas à cultura ocidental, todas elas muito mais importantes.

Ninguém sabe quem foi Leônidas de Rodes, mas todos sabem quem foi Aristóteles. Ninguém sabe quem foi Milo de Croton, mas todos sabem quem foi Euclides. Ninguém sabe quem foi Quiônis de Esparta, mas todos sabem quem foi Arquimedes.

E, da mesma forma que aconteceu com os gregos, nossa herança para as gerações futuras deverá ser intelectual, não desportiva, ao menos se quisermos ser vistos como uma civilização digna de alguma consideração.

Descontando a questão do condicionamento físico, esporte é irrelevante. O corredor mais rápido que existe perderia o fôlego se tentasse alcançar uma chita manca. O nadador mais rápido seria humilhado por um golfinho com uma nadadeira nas costas. O halterofilista mais bem preparado não teria chances contra um gorila adolescente.

E, ainda que esportes coletivos dependam mais de coordenação e trabalho em equipe do que de força bruta e velocidade, qualquer grupo de humanos que tentasse acompanhar uma matilha de lobos durante uma caçada veria que há muitas coisas que é melhor deixar que os (outros) animais façam.

As únicas coisas que fazemos melhor do que os animais dizem respeito ao raciocínio e à comunicação. É nessas coisas que devemos nos esmerar, não em correr, pular e nadar, coisas que os outros animais fazem muito melhor.

Dentro de um ou dois milênios, ninguém mais se lembrará de Pelé, Maradona, Ronaldo, Ronaldinho e outros, mas os nomes de Einstein, Feynman, Hawking, Newton da Costa, Leonardo, Picasso e outros ecoarão ecoarão pela eternidade. Além disso, se for para escolher um esporte, prefiro muito mais tênis feminino do que esses marmanjos peludos que são pagos para brincar de bola.

Brasil e Croácia: 90 minutos de chatice

Com a maior boa vontade do mundo, sentei-me para assistir ao jogo no qual o Brasil demoliria a seleção da Croácia. Depois de várias semanas ouvindo a propaganda de Parreira & Cia, eu tinha certeza que nossos heróis da super-hiper-mega-ultra seleção pentacampeoníssima do mundo não dariam a menor chance para aquele timinho vestido com toalhas de cantina italiana. Mesmo do fundo do meu coração de anti-torcedor, eu tinha certeza que o Brasil passaria com folga pela Croácia e que só viria a encontrar dificuldades com a Austrália. Como não sou entendido em futebol, me enganei.

O que vi foram 90 minutos da mais pura e indescritível chatice, e não me refiro somente à narração de Galvão "Magdo" Bueno. Foram 90 minutos que poderiam ser confortavelmente comprimidos em menos de 5, incluindo aquele gol que até um canguru perneta faria. É por isso que os norte-americanos não gostam de futebol. Eles sabem que tempo é dinheiro.

O fator de capacidade do futebol é realmente decepcionante. São minutos e mais minutos da mais pura chateação: jogadores passando a bola um para o outro, faltas, escanteios, laterais, tiros de meta, torcedores invadindo o campo. De vez em quando, muito de vez em quando, acontece alguma coisa diferente e os torcedores inocentes saem com a sensação de que aqueles momentos valeram pelo jogo inteiro. Pois eu declaro solenemente que não valeram! Futebol é enganação.

Estamos todos sendo enganados pela mídia e por essa cultura futebolística. É preciso retirar o foco do futebol e direcioná-lo para as coisas que realmente importam, como prêmios Nobel, tecnologia de ponta, livros, ciência, educação. Enquanto formos apenas o país do futebol, nunca conseguiremos dos outros países o respeito tão desejado por essa nossa alma latina atormentada por um complexo de inferioridade perene.

E, para mostrar que desgraça pouca é bobagem, depois de vermos nossos jogadores milionários penarem para bater a Croácia, um país que poucos brasileiros conseguem identificar no mapa, com o "Magdo" dizendo que essa é a "maior Copa do Mundo de todos os tempos", a televisão ainda nos brindou com as imagens de Zagallo, com aquele jeitão de Prof. Farnsworth, pedindo pateticamente para alguém trocar de camisa com ele.

Mas domingo que vem tem mais. Como estarei em casa, pelo menos poderei adiantar a leitura de "O Tecido do Cosmo" durante o jogo. Brian Greene, ao contrário de Parreira & Cia, nunca decepciona.

sexta-feira, junho 09, 2006

De como o Brasil trata a ciência e a tecnologia, 1ª Parte: Marcos Pontes

Marcos Pontes, primeiro engenheiro brasileiro no espaço, é um desses brasileiros nascidos durante a corrida espacial que sonhou em fazer parte dela. Ao contrário de todos nós, ele conseguiu realizar seu sonho, ainda que não a bordo do ônibus espacial, como inicialmente planejado.

O currículo de Marcos Pontes é invejável: engenheiro aeronáutico (ITA, um dos vestibulares mais difíceis do Brasil), mestre em engenharia de sistemas (Naval Postgraduate School - NPS, Califórnia), piloto de provas, piloto militar, oficial de segurança de vôo, astronauta e condecorado com 19 prêmios, a maioria deles antes da missão espacial de 2006. Nascido em família de classe média, pouquíssimos brasileiros podem exibir currículo semelhante. Apesar disso, a maneira como Pontes foi tratado pela imprensa brasileira é humilhante.

Após a missão espacial, que recebeu críticas intensas por causa do alegado desperdício de US$ 10 milhões (metade do custo de um único traje espacial para atividade extra-veicular), Pontes resolveu passar para a reserva da Força Aérea Brasileira. A imprensa tratou a decisão como se fosse uma "aposentadoria", o que não é verdade, pois o militar da reserva pode ser chamado de volta à ativa a qualquer momento, em tempo de paz ou de guerra. Pontes, no momento o único astronauta brasileiro, e certamente o único durante muitos anos que se seguirão, foi tratado como aproveitador. Poucos jornalistas, contudo, se esqueceram de mencionar que um piloto da FAB, com todos aqueles títulos e anos de formação, ganha menos que um motorista do Planalto.

Relembrando, Pontes foi selecionado em 1998 para cumprir os seguintes objetivos: (a) treinar e representar o Brasil como astronauta junto aos outros 15 países participantes do Programa da Estação Espacial Internacional (ISS); (b) realizar como tripulante a primeira missão espacial brasileira; (c) realizar experimentos nacionais, que não foram desenhados por ele, a bordo da ISS.

Tendo cumprido todos esses objetivos, com excelente desempenho, a missão para a qual Pontes foi selecionado está cumprida. O dinheiro foi investido e bem gasto, e Pontes pode fazer de sua vida o que bem quiser, como todos nós. E o Brasil ganha, de quebra, um especialista em missões espaciais, com conhecimento de ponta e treinamento de primeira, coisa que nunca tivemos.

Seria interessante se Pontes tivesse recebido um décimo do tratamento reservado a nossos jogadores de futebol ora na Alemanha em busca de mais um títutlo internacional. Embora realizem missões que exigem dotes intelectuais infinitamente menores, e ganhem uma soma de dinheiro infinitamente maior, nossos jogadores são tratados como heróis, capazes de paralisar as atividades do país durante os jogos. Nosso astronauta, em vez disso, é tratado como vigarista.

É preciso que o Brasil aprenda a ter um mínimo de respeito por ciência e tecnologia. É preciso ensinar isso às criancinhas, aos adolescentes e aos adultos. É preciso que os jornalistas parem de falar de coisas que não entendem e que os chefes do executivo parem de se preocupar com futebol, e passem a se preocupar também em erguer troféus de modalidades científicas e tecnológicas.

Caso contrário, estaremos para sempre condenados a dirigir automóveis alemães e de outras nacionalidades, a pilotar computadores norte-americanos, equipados com software também norte-americano, a voar em espaçonaves russas e a tentar aumentar o saldo da nossa balança comercial exportando commodities e importando todo o resto.

quinta-feira, junho 08, 2006

Livro de Décio Krause e Steven French

Deve sair ainda em junho, pela Oxford University Press, o livro"Identity in Physics - A Historical, Philosophical, and Formal Analysis", deDécio Krause (UFSC) e Steven French (University of Leeds, UK). São 480 páginas por um preço um pouco salgado (£50.00, em capa dura). Os assuntos tratados são aqueles tão caros ao Décio: individualidade em física clássica e em mecânica quântica, quase-conjuntos, matemática da não-individualidade, lógica não-reflexiva, lógica quântica.

É bom saber que fui "quase-aluno" (i.e., um aluno não formal) do Décio, que se tornou um pesquisador internacionalmente reconhecido, mesmo trabalhando nesse país que trata seus cientistas e astronautas com tanto descaso e displicência.

quarta-feira, junho 07, 2006

Comercialização de Energia na revista Eletricidade Moderna

A edição de maio de 2006 da revista Eletricidade Moderna traz um artigo inusitado: "A comercialização de energia elétrica no varejo - riscos e oportunidades". Trata-se do meu artigo apresentado no XVIII SNPTEE (GME-28). Eu pensei que a edição de maio seria especial, apenas com artigos do SNPTEE, mas não foi. Os outros 10 artigos foram apresentados em outros eventos, como SBQEE, CIRED, LuxEuropa, RightLight, ou publicados em outros periódicos. É incrível que, dentre 518 trabalhos do SNPTEE, apenas o meu tenha sido escolhido para publicação nessa edição dessa conceituada revista (lida por mais de 30 pessoas, ao contrário dos outros lugares onde apareceram artigos meus). O assunto, em voga no momento, sem dúvida ajudou bastante, e, embora as próximas edições da Eletricidade Moderna venham a trazer mais artigos do SNPTEE, é bom cruzar a linha entre os primeiros.

segunda-feira, junho 05, 2006

Heloísa Helena para presidente?

A revista Veja desta primeira semana de junho traz uma reportagem de duas páginas sobre Heloísa Helena, na qual a senadora aparece em uma fotografia inusitada: maquiada, com cabelos soltos e vestida com algo que não é uma camiseta. Anteriormente, visual semelhante havia ocupado as páginas da revista Cláudia. A ilustre senadora, agora candidata a presidente da República pelo PSOL, parece aproveitar a notoriedade ganha com a expulsão do PT e com a participação na CPI para mostrar que é gente comum, capaz de soltar os cabelos e deixar de lado a roupa de lavadeira. O problema é que já vimos esse filme antes.

Não tenho dúvida que a senadora Heloísa Helena é uma das pessoas mais íntegras desse país. Mas ela é também comunista de carterinha, daquelas capazes de misturar Marx com citações bíblicas descontextualizadas ("O camarada Jesus Cristo dizia: ou quente ou frio, o morno se vomita"). E uma pessoa capaz dessas misturas pode ter outros hábitos desagradáveis.

Não tenho dúvidas que a senadora Heloísa Helena é uma das pessoas mais combativas e favoráveis à moralidade na política. Mas ela é também raivosa e emocional demais. Ela mesmo confessa ser agressiva e intolerante em alguns momentos, como quando ameaça cortar o pescoço de quem fala mal dela.

Não tenho dúvidas que a senadora Heloísa Helena foi expulsa do PT por se opor às práticas de corrupção do partido. Mas ela é também contra a reforma da Previdência, a qual ela diz só interessar aos "gigolôs do FMI".

Com esse perfil, a eleição de Heloísa Helena para o Planalto é sonho (ou pesadelo?) impossível. Até o eleitor mais humilde sabe que não se pode receber dignitários internacionais de calça jeans e camiseta, mostrando a espada cada vez que alguém se pronuncia a favor do "capital".

Como Heloísa Helena, Lula já foi muito mais aguerrido e combativo. Pouco antes de ser preso em abril de 1980, Lula concedeu uma entrevista defendendo os direitos dos trabalhadores, afirmando que não tinha pretensões político-eleitorais e que não desejava se candidatar a nada. Após perder três eleições para presidente, teve de deixar de lado a imagem de sapo barbudo e, ao contrário do que afirmava naquela entrevista de 1980, teve que mudar.

Eu espero que Heloísa Helena não mude. Se mudar, corremos o risco de que ela seja eleita presidente, e daí a desgraça estará feita. De fato, o caminho para o Planalto está semeado de acordos que ela diz não poder fazer e de amigos que ela diz não poder vender. Se ela for eleita, algo terá mudado, indicando perigo. Além disso, depois que ela tiver declarado a moratória da dívida externa, rompido com os bancos e defenestrado as multinacionais, perceberemos que não terá sobrado muito mais do que isso e que, a exemplo da esquerda de todos os tempos e lugares, sobra vapor no discurso, mas falta conteúdo.