quinta-feira, janeiro 19, 2012

A revisão das Curvas de Aversão ao Risco

Na última terça-feira, 17 de janeiro, a ANEEL publicou sua decisão final sobre a revisão das Curvas de Aversão ao Risco (CARs) dos submercados Sul, Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste [1]. Os novos valores são válidos para o biênio 2012/2013 [2].

As CARs correspondem ao armazenamento mínimo a ser observado para cada submercado e têm dois efeitos sobre o sistema elétrico. Primeiro, quando o armazenamento em determinado submercado se torna inferior à respectiva CAR, todas as usinas térmicas deste submercado devem em princípio ser acionadas, o que eleva os Encargos do Serviço do Sistema (ESS), por causa do maior consumo de combustível. Segundo, as CARs são incorporadas no cálculo dos próprios PLDs. Assim, quando os armazenamentos se tornam próximos às respectivas CARs, mesmo sem atingi-las, os PLDs resultantes são maiores do que aqueles que seriam calculados sem as CARs

As CARs são calculadas para cada biênio e devem ser revistas anualmente pelo ONS até outubro de cada ano, podendo também ser revistas a qualquer momento. As CARs de 2012 já existiam, conforme mostra a figura abaixo (curvas tracejadas). A revisão do último dia 17 (curvas cheias) produziu as seguintes modificações: (1) para os submercados Nordeste e Sul, houve uma redução do armazenamento mínimo de janeiro a novembro e uma elevação em dezembro; (2) para o submercado SE/CO houve uma redução de janeiro a março e um aumento de abril a dezembro. Assim, tornou-se mais fácil garantir os armazenamentos mínimos no Nordeste e no Sul e um pouco mais difícil no SE/CO, embora não muito.

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Desde que foram criadas, em 2001, a CAR menos problemática tem sido a do Sul, nunca atingida. A CAR do Nordeste quase foi atingida em outubro de 2010, fazendo com que os PLDs mensais do Norte e do Nordeste atingissem R$ 229 /MWh, enquanto os PLDs do Sul e do SE/CO mantiveram-se em R$ 138/MWh. Finalmente, a CAR do SE/CO foi atingida em janeiro de 2008, fazendo com que o PLD mensal atingisse aproximadamente R$ 500/MWh em todos os submercados.

A revisão das CARs é um dos três fatores que podem afetar o PLD em 2012. Os outros dois são: (1) a revisão do consumo de energia (carga) usado para calcular o PLD e; (2) a decisão do que fazer com algumas usinas da Bertin consideradas no modelo que calcula o PLD. Tais usinas, que deveriam ter entrado em operação em 2011, não devem acarretar problemas no fornecimento de energia, mas podem elevar o PLD se retiradas do modelo [3]. Apesar de tudo, 2012 deverá ser um ano de PLDs baixos ou médios.

[1] ANEEL aprova revisão das Curvas de Aversão ao Risco para biênio 2012/2013, http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/noticias/Output_Noticias.cfm?Identidade=5114&id_area=90
[2] CARs para 2012/2013, http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/Curvas%202012.pdf
[3] Governo avalia exclusão de usinas da Bertin do sistema, http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/governo-avalia-exclusao-de-usinas-da-bertin-do-sistema

quinta-feira, janeiro 05, 2012

O ritmo das chuvas no Sudeste

Assunto onipresente nos noticiários brasileiros atuais são as enchentes em Minas Gerais e em outros estados do Sudeste. Junto com as chuvas voltam à cena os questionamentos sobre a necessidade de investimentos em prevenção e contenção de cheias, os quais se atenuarão exponencialmente a partir de março, extinguindo-se quase completamente por volta de julho. Todavia, o ritmo das chuvas na região Sudeste é tão conhecido que o Setor Elétrico, por exemplo, trabalha há muito tempo com os conceitos de "período seco" (de maio a novembro) e "período úmido" (de dezembro a abril).

O gráfico abaixo mostra o comportamento da "Energia Natural Afluente" (ENA), ou simplesmente "vazão afluente", para os cinco últimos anos do submercado Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO). Embora a ENA não represente toda a vazão em determinada região, mas apenas aquela parcela que entrou nos reservatórios das usinas hidrelétricas, já dá para se ter uma ideia muito boa do quadro geral das chuvas. A "Média de Longo Termo" (MLT) representa as vazões médias mensais calculadas para a série histórica de vazões, que contém dados desde 1931.


O gráfico deixa claro que os últimos quatro anos se encerraram com vazões acima da MLT. Para os consumidores de energia isso em geral é bom, pois significa que os reservatórios estão se enchendo, de modo que o período seco poderá ser enfrentado de maneira mais confortável, sem que muitas usinas termelétricas sejam acionadas. Para quem mora em áreas afetadas por enchentes, contudo, vazões acima da MLT não são notícia tão boa, como deixam claro as cenas de cidades alagadas e casas submersas. O detalhe é que tais cenas sairão dos noticiários à medida que as águas forem baixando e só retornarão por volta de dezembro próximo, dando a ilusão de que o problema fora resolvido em meados do ano.

E assim prossegue o ritmo das chuvas.