segunda-feira, dezembro 31, 2012
domingo, dezembro 30, 2012
Minhas palestras no YouTube
- "A Ciência de Jornada nas Estrelas": http://www.youtube.com/watch?v=0Y33oKMWIts
- "Catástrofes e Profecias do Fim do Mundo": http://www.youtube.com/watch?v=UfclEXAGz8E
- "Einstein e a Relatividade Geral": abril de 2013.
- "Einstein e a Mecânica Quântica": julho de 2013.
- "Feynman e a Eletrodinâmica Quântica": novembro de 2013.
- "Ciência e pseudociência".
- "Caos e complexidade".
sábado, dezembro 22, 2012
Slides da palestra "Catástrofes e profecias do fim do mundo"
Obrigado a todos os presentes!
quarta-feira, dezembro 19, 2012
Palestra especial: "Catástrofes e profecias do fim do mundo"
Horário: 19h30 às 21h00.
Local: MINIAUDITÓRIO do campus Curitiba da UTFPR (Av. Sete de Setembro, 3165).
Programa resumido:
1. Os cinco graus de catástrofes de Asimov.
2. O fim do Universo.
3. Algumas profecias que não deram certo (como sabemos).
4. Ciência e pseudociência.
5. Os vogons estão chegando, mas não entre em pânico ainda!
A entrada é gratuita e o acesso é aberto ao público. Vale como Atividade Complementar para alunos da UTFPR.
sábado, dezembro 08, 2012
Homenagem a Alan Turing na UTFPR
Programação:
- 15h30 - Abertura - Quem foi Alan Turing?
- 16h00 - Palestra do professor Jorge Stolfi
sábado, novembro 24, 2012
Professor da UTFPR conquista o Jabuti de melhor romance
O romance narra a história de um imigrante japonês, Hideo Inabata, que desembarcou no Brasil no início do século XX com o mesmo objetivo dos imigrantes brasileiros que desembarcavam no Japão há até pouco tempo: enriquecer e voltar à terra natal. Eu não me atreveria a escrever mais do que isso sobre um livro que ainda não li, mas vários comentários e críticas estão listadas no blog do próprio professor Oscar: http://oscarnakasato.wordpress.com.
Ao professor Oscar, meus votos de parabéns pelo sucesso e de que "Nihonjin" seja apenas o marco inicial de uma frutífera carreira literária.
terça-feira, outubro 09, 2012
Prof. Ricardo Luiz Knesebeck (1932 - 2012)
O professor Ricardo Luiz Knesebeck, que foi diretor da antiga Escola Técnica Federal do Paraná (ETFPR, mais tarde CEFET-PR, mais tarde UTFPR) entre 1966 a 1972, faleceu ontem. Em 1970 o professor Ricardo, juntamente com o professor de história Niquelson Rodrigues dos Santos, viriam a introduzir o sistema de avaliação por objetivos na ETFPR, seguindo um modelo de educadores norte-americanos e conforme descrito por Pinto e Novaes [1]. Mais tarde o professor Ricardo viria a concluir um Mestrado em Educação pela FGV, Rio de Janeiro [2].
Conheci o professor Ricardo no final da década de 80, quando eu era aluno do curso de Engenharia Elétrica do CEFET-PR e monitor do Departamento Acadêmico de Matemática. Na época, por razões das quais não me lembro muito bem, o professor Paulo Aléssio, então chefe do departamento, convidou o professor Ricardo para dar uma palestra sobre tensores. Como eu estava interessado em Relatividade Geral, achei aquilo fascinante e, embora não me lembre muito bem da palestra, lembro do professor Ricardo dizendo que as pessoas acham tensores uma coisa muito complicada, mas na verdade trata-se apenas de um "algoritmo para se lidar com índices". Ele pronunciava a palavra "algoritmo" de uma forma especial, bem diferente da forma que geralmente usamos no sul, a qual se aproxima mais de "algorítimo". Até hoje devo ter um texto dele sobre relatividade.
[1] PINTO, N.B.; NOVAES, B.W.D. Marcas históricas da avaliação da aprendizagem na Escola Técnica Federal do Paraná nas décadas de 1960 e 1970. VIII EDUCERE, 2008. Disponível em: Educere 2008.
[2] KNESEBECK, R.L. Avaliação de desempenho de dirigentes de sistemas educacionais. Dissertação de Mestrado, FGV, Rio de Janeiro, 1979. Disponível em: Dissertação Mestrado.
quarta-feira, setembro 05, 2012
Fronteiras da Ciência: um programa genial
Fronteiras da Ciência é um programa apresentado pela rádio da UFRGS desde abril de 2011, já estando em sua segunda temporada. Os arquivos dos programas gravados podem ser encontrados em http://www.ufrgs.br/frontdaciencia. Nem só assuntos científicos são abordados, mas também ficção científica e pseudociência. Tudo do ponto de vista de cientistas, como Jeferson Arenzon e Marco Aurélio Pires Idiart, ambos do
Departamento de Física da UFRGS, Jorge A. Quillfeldt, do Departamento de Biofísica, e convidados. Vale a pena!
domingo, agosto 26, 2012
Neil Armstrong (1930-2012)
Anos mais tarde, já na era da internet, quando, para minha desolação, eu já havia descoberto que não havia astronautas no Brasil, pude tomar contato com arquivos de áudio e vídeo da missão Apollo 11. Hoje, na era do YouTube, esses vídeos são mais fáceis de encontrar do que as canções do outro Armstrong. Para mim, a frase mais importante da missão não foi aquela pronunciada por Armstrong ao pisar sobre o solo lunar, ensaiada e dita após toda a tensão do pouso, mas sim a frase dita quando a Águia pousou: "Houston, Tranquility Base here. The Eagle has landed". Hoje, quem acompanha as calmas palavras de Armstrong antes do pouso, imagina que ele estivesse descrevendo um percurso conhecido e tranquilo e não um caminho jamais trilhado, em meio ao mais hostil dos ambientes. Eu certamente ficaria mais nervoso do que aquilo jogando videogame!
Armstrong dizia não merecer todas as homenagens que recebeu, pois a missão Apollo 11 foi resultado do esforço coletivo de muitos profissionais, não só dele. Ele está certo, claro, mas houve ao menos um momento em que tudo dependeu dele. Ao notar que o Módulo Lunar estava se dirigindo a um local de pouso provavelmente inseguro, Armstrong assumiu o controle manual e tentou encontrar um local mais seguro, demorando mais do que o previsto para pousar e deixando o módulo com não mais de 50 segundos de combustível. Esta mudança do local de pouso salvou a missão, mas deu origem a muitas teorias da conspiração. Segundo uma delas, o local original de pouso estaria ocupado por uma base alienígena, daí a necessidade da mudança!
A teoria da conspiração mais famosa diz que tudo não passou de uma simulação, de um filme produzido pelos melhores estúdios norte-americanos. Embora até os MythBusters já tenham provado que tais teorias não podem ser corretas, para mim, a maior prova de que a missão Apollo 11 foi real é que, pouco depois do pouso da Águia, os soviéticos começaram a desmontar seu próprio programa lunar. E, certamente, não havia ninguém mais bem informado sobre as ações dos norte-americanos do que os soviéticos! Os adeptos das teorias da conspiração, é claro, dirão que os soviéticos faziam parte da conspiração e prosseguirão com sua perda de tempo.
E ontem, pouco mais de 43 anos depois daquele célebre pouso no Mar da Tranquilidade, Armstrong nos deixou. Depois do encerramento do programa Apollo, depois até mesmo do encerramento do programa de ônibus espaciais norte-americanos, não é apenas triste enfrentarmos o fato de que até mesmo heróis como Armstrong devem nos deixar. É também triste enfrentarmos o fato de que, a cada ano que passa, fica mais difícil explicarmos para as crianças quem foram aqueles heróis de julho de 1969, bem como convencê-las de que tudo aquilo realmente aconteceu.
quarta-feira, agosto 08, 2012
A maior impossibilidade de Star Trek
Obs.: não confundir "inteligência artificial" com "consciência artificial".
sábado, agosto 04, 2012
Vídeo do programa Light News sobre Star Trek
Obs.: ao contrário do que eu disse durante o programa, Michio Kaku não é um japonês radicado nos EUA, mas um norte-americano, filho de imigrantes japoneses.
quarta-feira, julho 04, 2012
A Ciência fica mais pobre
O Prof. Luiz Ferraz Netto, conhecido entre todos como Léo, deixou-nos hoje. Fiquei sabendo disso logo de manhã, assim que abri a ciencialist, que ele frequentava e habitava e na qual travávamos umas boas brigas desde os anos 90. Não o conheci pessoalmente e, embora eu soubesse de sua idade razoavelmente avançada, esperava poder brigar com ele ainda por uns vinte anos.
Uma mensagem muito melhor do que a que eu poderia escrever foi escrita pelo amigo Roberto Takata, companheiro do
ciencialist e de outras paragens internéticas. Homens e mulheres de ciência ficam meio sem jeito nessas horas em que o fim chega, mas o Roberto soube dizer tudo o que era necessário: "Amigos deveriam ser imortais".
Einstein and Eddington – o filme
O filme se desenrola como uma espécie de díptico, com as vidas de Einstein e Eddington sendo contadas em paralelo, ambos se encontrando apenas na cena final. É 1914, Einstein tem 35 anos, Eddington tem 32. Einstein acaba de se mudar para Berlim, tendo sido apontado diretor do Instituto de Física Kaiser Wilhelm (mais tarde englobado pela Sociedade Max Planck), onde ficaria até 1932. Eddington está em Cambridge e acaba de descobrir os trabalhos de Einstein, que irá se encarregar de apresentar ao público de língua inglesa.
Einstein é apresentado no filme como o mulherengo que sempre foi. Eddington é apresentado como um Quaker de tendências levemente homossexuais (coisa perigosa na Inglaterra da época), que se recusava a participar da Primeira Guerra e estudava a literatura do inimigo (coisa ainda mais perigosa).
Elsa Löwenthal, que viria a ser a segunda esposa de Einstein, é apresentada como uma jovem de vinte e poucos anos. Na verdade, por volta de 1914 ela já estava com quase quarenta anos, era divorciada e tinha duas filhas: Ilse (n. 1897) e Margot (n. 1899). Mais tarde Einstein viria a ter, digamos, um "rabicho" com Ilse, da qual teve de desistir para ficar com Elsa.
O Einstein do filme é visto quase como um adolescente inconsequente, mas simplesmente não pode ter sido assim. Em 1914 ele já era um físico bastante conhecido na Europa. Por exemplo, os registros da Comissão Nobel mostram que ele foi nomeado para o Nobel de Física em todos os anos, de 1910 a 1922, com exceção de 1911 e 1915 [1, cap. 30].
O filme também dá a entender que, para conseguir a forma final da relatividade geral, ou ao menos aquela forma que possibilitou as medições do eclipse de 1919, Einstein teria pedido a ajuda de Planck. No entanto, Abraham Pais faz um minucioso levantamento de todos os cobaloradores de Einstein [1, cap. 29] e Planck não consta dela. Teria sido mais adequado incluir Hilbert no filme, que de fato ajudou Einstein com a matemática da relatividade, mesmo sem assinar artigos com ele. Mas Hilbert estava em Göttingen e talvez as verbas de produção já estivessem curtas. O Planck do filme também parece mais entusiasmado com a relatividade geral do que deve ter sido antes de 1919. De fato, dizem que, ao ter sabido de Einstein que a generalização da relatividade poderia conduzir a uma nova teoria da gravitação, Planck teria dito: "Você não vai conseguir e, caso consiga, ninguém acreditará em você!".
Finalmente, o filme deixa a impressão de que a mídia ficou sabendo dos resultados das medições do eclipse antes do próprio Einstein e correu para a porta dele com máquinas fotográficas em punho, que recebeu a todos e fez a famosa pose da língua de fora. Não é nada disso. A foto da língua é de muitas décadas depois, em 1951, nos EUA. Em 1919 o próprio Einstein, que estava de cama e um pouco adoentado, ficou sabendo das notícias do eclipse, por meio de um telegrama de Lorentz, e disse simplesmente: "Eu sabia" [2, p.242].
Embora conte quase tudo errado, o filme até que é interessante. Primeiro, porque é um filme biográfico sobre Einstein, personagem histórico que até hoje não tem um filme biográfico decente (num mundo em que até Zezé di Camargo e Luciano têm um filme biográfico!). Segundo, por nos contar algo da biografia de Eddington, o experimentalista responsável pela descoberta de 1919, mas que não passou para a história da mesma forma que Einstein. Infelizmente, é sempre assim: a física é uma ciência essencialmente experimental, que não vive só da teoria, mas os teóricos são sempre muito mais lembrados do que os experimentalistas. O filme também é interessante por mostrar a qualquer um que pessoas tão diferentes quanto Einstein e Eddington podem se unir por mais de um laço comum: a física e o pacifismo.
[1] PAIS, Abraham. Subtle is the Lord, 1982.
[2] LEVENSON, Thomas. Einstein em Berlim, 2003.
sexta-feira, junho 08, 2012
Ray Bradbury (1920 - 2012)
A reportagem do Jornal Nacional, assim como todas as outras sobre a morte de Bradbury, identificou-o como o autor de "Farenheit 451". De fato, deixar este livro de fora seria como falar de Asimov sem falar da trilogia "Fundação" ou falar de Clarke sem falar de "2001: uma Odisseia no Espaço". Ainda assim, tenho de confessar que nunca li "Farenheit 451". Minha introdução a Bradbury, lá pelo final da minha adolescência, quando eu estava muito mais interessado em ficção científica do que no momento, deu-se com "Crônicas Marcianas" (1950), um livro totalmente enigmático para mim na época.
Enquanto Clarke fazia o possível para respeitar as leis da física, inclusive pedindo desculpas quando deixava de fazê-lo, e Asimov frequentemente descrevia um futuro tão longínquo que a tecnologia se tornara quase indistinguível da magia, Bradbury simplesmente passava por cima de tudo isso e criava um Marte que só podia existir na imaginação. Para Bradbury não existiam espaçonaves sofisticadas movidas por "hyperdrive". Todas espaçonave era simplesmente um "foguete", como fica mais evidente ainda em sua coletânea de contos "F de Foguete" (1962). E a atmosfera de Marte era respirável e o planeta era cortado por canais navegáveis, construídos por uma civilização mística.
Mas também tenho de confessar que o livro de Bradbury mais marcante para mim foi "O Vinho da Alegria" (1957), um romance vagamente autobiográfico no qual Bradbury descreve as aventuras de Douglas Spaulding, um menino de 12 anos, em uma pequena cidade da América dos anos 20. O "vinho da alegria" ("dandelion wine", no original) é uma bebida feita com as pétalas do dente-de-leão, tomada no livro como o símbolo do verão. Não há ficção científica neste romance, mas há um pouco de crítica ao uso da tecnologia. De qualquer forma, Bradbury nunca se considerou um escritor de ficção científica, mas um escritor de fantasia. E que lugar melhor do que a mente de uma criança para se encenar uma obra de fantasia?
domingo, abril 29, 2012
Leilão de camisa autografada do Flamengo
Obs.: este leilão foi encerrado em 30 de maio de 2012.
sábado, abril 21, 2012
Nós, os curitibanos
Jardim Botânico de Curitiba |
Após alguns minutos de silêncio perguntei se ele era curitibano. Ele respondeu que não e acrescentou: "Aposto que você também não é!" Eu perguntei por que ele pensava isso e ele respondeu: "Ora, porque você riu quando eu me sentei", disse ele. Seguiram-se alguns minutos interessantes de uma conversa sobre curitibanos, curitibanices, os problemas enfrentados por brasileiros de outros lugares que resolvem se instalar em Curitiba e também sobre outros assuntos.
Dias depois, talvez em um feriado emendado, eu e minha mulher fomos almoçar no Shopping Barigui. Ao contrário do que pensávamos, a Praça de Alimentação estava fervendo de gente. Ela ficou então responsável por comprar a comida e eu por achar uma mesa vaga. Após apenas alguns instantes de pesquisa visual, percebi alguém almoçando sozinho em uma mesa de quatro lugares, sacudindo com alguma ênfase a mão direita para mim. Olhei para os lados e um pouco para trás, pois talvez ele estivesse acenando para outra pessoa. Não estava. Aproximei-me dele, tendo quase certeza de que era um antigo conhecido ou um ex-aluno. Não era. Pedi licença para me sentar e ele disse algo como: "Casa cheia hoje, hein?", dando a entender que havia percebido minha situação e estava fazendo uma cortesia. Após alguns minutos perguntei se ele era curitibano. Não era, mas sim um paulista recém-instalado em Curitiba.
Então chegou o segundo semestre e precisei fazer um curso toda sexta-feira de manhã, na UTFPR. Por razões de logística, resolvi almoçar todos esses dias no restaurante japonês do Shopping Estação. Por causa do horário em que eu chegava, pouco depois do meio-dia, ao menos uma daquelas mesas circulares de quatro lugares estava desocupada, permitindo que eu me instalasse confortavelmente. Minutos depois o movimento se intensificava e aumentava o número de pessoas com bandejas nas mãos e olhar perdido, pelo menos nas imediações do restaurante japonês. Frequentemente aconteceu de algumas pessoas, não querendo procurar uma mesa vaga, pedirem para dividir a mesa comigo. Sempre que isso aconteceu, resolvi perguntar se a pessoa era curitibana (descobri também que essa é uma ótima forma de iniciar uma conversa com um desconhecido, pelo menos naquela situação). E, com uma única exceção, todas as pessoas que pediram para dividir a mesa comigo eram de fora de Curitiba. A exceção foi uma mulher, provavelmente perto dos 60, tão fechada e calada que não tenho ideia de como teve "coragem" de pedir para dividir a mesa comigo. Desconfio que ela seja curitibana, mas não encontrei maneira de confirmar.
Há muitas teorias para explicar esse caráter "fechado" dos curitibanos. Uma delas coloca a culpa no sotaque e na forma mais "seca" desse povo usar o português. Para identificar um curitibano, dizem, basta pedir que a pessoa fale a frase: "Me dá um copo de leite quente?". Se a frase soar como um sargento dando uma ordem, e não como um simples pedido, trata-se de um curitibano. Na verdade, falar "leite quente" já é suficiente, a ponto de Curitiba ser conhecida como "a terra do leite quente".
O problema com a teoria do sotaque, que não colocaria o interlocutor tão à vontade quanto ao falar com um carioca ou com um mineiro, é a relação de causa e efeito. Afinal, os curitibanos são fechados por causa do sotaque ou o sotaque se desenvolveu ao longo das décadas justamente como reflexo desse caráter mais fechado?
Outra teoria coloca a culpa no frio e na chuva. Gente que tem de ficar enfurnada em casa por causa do tempo tende a ser mais fechada e menos sociável, dizem. Isso me lembra de um show do Lulu Santos, em pleno inverno de 2010 ou 2011, no Teatro Positivo. Depois de uma hora de apresentação, em um teatro completamente lotado (ou tão lotado quanto permite aquele ambiente absurdamente mal projetado), as pessoas continuavam sentadas, enroladas em seus casacos e cachecóis, olhando umas para as outras, talvez se perguntando se era permitido levantar e dançar. Então alguém tomou a iniciativa e os outros foram atrás. Depois de algumas músicas com as pessoas em pé, Lulu agradeceu, acrescentando que não era verdade o que diziam sobre os curitibanos serem fechados, pois na verdade esse povo era mais entusiasmado do que os povos de muitos outros lugares do Brasil. Enquanto as pessoas aplaudiam eu me lembrava daquela frase: "Vossas afirmações, meu caro, parecem-me excessivas."
O problema da teoria do frio é que não faz frio só em Curitiba, mas em todos os lugares ao Sul daqui. E, quando penso nos gaúchos e em suas rodas de chimarrão, não é a imagem de um povo pouco sociável que me vem à mente.
É verdade que minha experiência em mesas de Shopping Centers nada tem de científica. A amostragem foi pequena e minhas conclusões dizem respeito apenas a como os "não curitibanos" se comportam, não exatamente a como os curitibanos se comportam. Houve apenas uma exceção comprovada. Em dada sexta-feira, talvez já perto do Natal, todas as mesas perto do restaurante japonês estavam tomadas, muitas delas por uma só pessoa. Depois de olhar brevemente em volta e sem pensar muito, saí andando com minha bandeja até encontrar uma mesa completamente vaga do outro lado da Praça de Alimentação. Afinal, também sou curitibano!
sexta-feira, abril 20, 2012
PLD da quarta semana de abril
Supondo que os PLDs da quinta semana repitam os valores da quarta semana, os PLDs mensais médios de abril ficarão em R$ 192,95/MWh e R$ 195,99/MW para o SE/CO e Sul, respectivamente, e R$ 183,40/MWh para o Norte e Nordeste. Por outro lado, supondo que os PLDs da quinta semana se elevem 20% sobre os PLDs da quarta semana, os PLDs mensais médios de abril ficarão em R$ 196,78/MWh e R$ 199,82/MWh para o SE/CO e Sul, respectivamente, e R$ 187,23/MWh para o Norte e Nordeste. Interessante quando lembramos que o PLD de fevereiro ficou em R$ 50,67/MWh para o SE/CO e Sul e R$ 12,57/MWh para o Norte e Nordeste.
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sexta-feira, abril 13, 2012
Discurso de formatura - 12 de abril de 2012
Ilustríssimo senhor diretor do campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, professor doutor Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho, demais autoridades já nomeadas, queridos pais, familiares e amigos, prezadas senhoras, prezados senhores, caríssimos Engenheiros e Engenheiras recém-formados.
É sempre uma satisfação e uma grande honra ser escolhido paraninfo de uma turma de formandos. Dessa vez a honra é até um pouco maior, pois, até onde sei, nunca houve uma turma de formandos tão grande no curso de Engenharia. Imagino como devem ter sido as reuniões da comissão de formatura!
Eu gostaria de falar rapidamente sobre três assuntos hoje. Começo prestando uma homenagem a alguns dos heróis dessa noite. É evidente que vocês, formandos, são os heróis dessa noite, mas isso é bastante obvio. Seus pais e familiares também são os heróis dessa noite, mas isso também é bastante óbvio. Mas, nesses 20 anos como professor da UTFPR eu já frequentei algumas formaturas e, até onde me lembro, nunca vi uma certa classe de profissionais ser homenageada aqui: os professores.
Mas não falo de nós, os professores. Falo daqueles que vieram antes de nós: os professores do Ensino Médio, do Ensino Fundamental e do Ensino Básico. Esses são outros dos verdadeiros heróis dessa noite.
Falo isso sem tentativa alguma de proselitismo, sem tentativa alguma de agradar pelo mero ato de agradar. Falo isso simplesmente porque é a mais pura verdade: os professores dos Ensinos Médio, Fundamental e Básico são poucas vezes lembrados em situações como a de hoje. E, se essa profissão já foi mais fácil, na época da palmatória, na época da autoridade absoluta do professor, hoje é uma das profissões mais estressantes que há, mesmo em escolas particulares. Só se exerce essa profissão pela paixão ou por não se conhecer muito bem o buraco em que se estava entrando.
E, no entanto, esses professores estão na base. Sem eles, não estaríamos aqui. São eles, juntamente com os pais, os responsáveis por aquilo que chamamos de Educação. À medida que o aluno vai crescendo, vai diminuindo a quantidade de Educação que ele pode receber, e vai aumentando a quantidade de Ensino. Nós, professores de Ensino Superior, somos muito mais responsáveis pelo Ensino do que pela Educação. De fato, se um aluno chega até nós "estragado", por assim dizer, pouco podemos fazer. Mas se um aluno chega até nós bem preparado, dizemos que ele é "excelente", lembrando apenas vagamente de todos os professores que contribuíram para isso.
Essa lembrança já foi mais fácil para nós, do DAELT, especialmente quando tínhamos o curso técnico em Eletrotécnica, o que significava termos ao nosso lado colegas que lecionavam para o Ensino Médio, embora em disciplinas técnicas. Mas hoje o DAELT tem apenas cursos superiores, o CEFET-PR transformou-se na UTFPR e ainda estamos tentando entender o que isso tudo significa.
Aqui aproveito para emendar no segundo assunto: o futuro do ensino da Engenharia. Ser Universidade não significa apenas estarmos mais distantes dos Ensinos Médio e Fundamental. Significa também que a maneira pela qual somos avaliados mudou. Relembrando rapidamente, nossa instituição nasceu no início do século passado, como Escola de Artífices e aos poucos fomos nos transformando: Liceu Industrial de Curitiba, Escola Técnica Federal de Curitiba, Escola Técnica Federal do Paraná e, no final dos anos 70, quando surgiram os primeiros cursos superiores, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Mas toda essa mudança não alterou uma característica central da nossa instituição: a preparação de profissionais para o mercado.
A mudança para Universidade é um pouco mais drástica. Se antes éramos comparados apenas aos outros CEFETs, agora somos comparados a centenas de Universidades brasileiras, o que significa usar o mesmo critério de avaliação usado pelas Universidades brasileiras e, na verdade, por todas as Universidades do mundo: a necessidade de produção tecnológica e científica. Nesse mundo universitário a graduação não é valorizada diretamente, mas apenas na medida em que possa formar profissionais capazes de realizar pesquisas e publicar artigos.
Para nós, da UTFPR, isso acontecerá de uma forma quase natural, por um simples motivo: novos professores universitários, a não ser em casos muito particulares, devem ter doutorado.
Isso é um pouco estranho, pois vocês, que acabaram de se formar, podem ajudar a projetar uma subestação, uma usina hidrelétrica ou uma planta industrial, podem organizar sistemas de automação industrial, trabalhar em pesquisa tecnológica, na especificação e análise de sistemas, na supervisão da operação e na manutenção de sistemas e equipamentos, podem realizar estudos de viabilidade econômico-financeira de projetos, podem elaborar perícias, vistorias, avaliações, laudos e pareceres técnicos nas áreas de Engenharia Elétrica e de Automação, conforme o caso. Mas ainda não podem dar aulas de nenhum desses assuntos nos nossos cursos de Engenharia ou em curso algum de Engenharia. Para isso vocês precisarão de um doutorado em alguma área da Engenharia, coisa que deve demorar mais seis anos, no mínimo, supondo que vocês já tenham iniciado um mestrado.
Esse fenômeno é tão universal que tem até um nome: "viés acadêmico", ou seja, a tendência das instituições de ensino de aumentarem seus status por meio da adoção dos modelos das instituições de maior prestígio.
Em termos mais simples, daqui a 20 anos, talvez menos, quando todos os nossos professores menos graduados, que foram admitidos como assistentes em uma época na qual o doutorado não era obrigatório, tiverem se aposentado, nosso quadro de professores será formado quase somente por doutores, assim como acontece em Harvard, em Cambridge, assim como já acontece parcialmente na USP. Nós seremos menos CEFET-PR e mais Universidade, mas isso não poderá significar perder a identidade.
Obviamente, ter doutorado não é uma coisa ruim, e eu mesmo estou a caminho do meu, depois de vinte anos dividindo minha vida profissional entre o magistério e a atuação como engenheiro profissional. Mas tenho de confessar que me dá certa aflição saber que nosso curso de Engenharia Elétrica do futuro poderá ser menos orientado para a preparação de profissionais para o mercado e mais orientado para a pesquisa.
Meu último assunto é que talvez eu esteja enganado sobre essa questão. Talvez essa minha aflição seja "século XX demais". Primeiro, porque a integração entre empresas e Universidade, seja por meio de estágios, seja por meio de pesquisas colaborativas, pode servir como forma de apresentação daqueles conteúdos que não cabem em sala de aula. Segundo porque, afinal, o mundo da Engenharia hoje é tão vasto que não caberia nem mesmo em um curso de 15 anos de duração.
Talvez eu esteja confundindo "conhecimento", hoje fartamente disponível em qualquer tablet, com "sabedoria". E é a sabedoria que deve ser transmitida aos alunos pelos professores, sejam eles especialistas, mestres ou doutores.
É essa sabedoria a única coisa capaz de transformar um assustado jovem de 18 ou 19 anos em uma pessoa com "cabeça de Engenheiro".
E, quando penso que vocês, que estão se formando hoje, irão se aposentar lá pelo ano 2060, a única conclusão é que o conhecimento de base contido nessa "cabeça de Engenheiro" é mais importante do que qualquer outra coisa.
É esse conhecimento que permitirá a jovens recém-formados, como vocês, adaptarem-se a qualquer situação que possam vir a enfrentar, seja no mundo acadêmico, seja no mundo do mercado. E, mais importante do que se adaptar, criar novas situações.
A receita daqui para frente não é muito diferente daquela que vocês usaram para chegar até aqui: é preciso ter inteligência, é preciso ter intuição, mas, acima de tudo, é preciso ter raça.
É como diz a canção de Milton Nascimento: "é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre".
***
Que a gana, a raça e a força com vocês estejam. Obrigado por tudo. Vocês são ótimos. Vida longa e próspera!
Discurso de formatura - 15 de março de 2012
Ilustríssima senhora Diretora de Graduação e Educação profissional do campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, professora doutora Denise Rauta Buiar, demais autoridades já nomeadas, queridos pais, familiares e amigos, prezadas senhoras, prezados senhores, caríssimos Engenheiros e Engenheiras recém-formados.
É sempre uma satisfação e uma grande honra ser escolhido paraninfo de uma turma de formandos. Dessa vez foi também uma grande surpresa, pois tenho a missão de discursar para os alunos de todos os cursos de Engenharia do Campus Curitiba. Espero estar à altura.
Quando me deparo com tantas especialidades da Engenharia, sempre me lembro de uma piadinha, meio de humor negro, de um amigo meu, Engenheiro Civil. Ele diz que não é preciso tanta confusão, pois afinal só existem duas Engenharias: a Engenharia Militar, que constrói as armas, e a Engenharia Civil, que constrói os alvos...
Falando um pouco mais a sério, o que separa uma Engenharia da outra é apenas a frequência de operação. Na Eletrônica a frequência é a maior possível, na faixa dos kHz, MHz, GHz. Na Eletrotécnica a frequência é padronizada: 60 Hz, com alguns harmônicos para lá e para cá. Na Mecânica, embora se meçam mais velocidades do que frequências, os fenômenos não parecem ocorrer com frequências superiores a algumas centenas de Hertz. E, na Engenharia Civil, a frequência ideal é zero. Se alguma coisa deve oscilar, que seja bem devagar! E finalmente temos a Engenharia de Automação, que foge um pouco a essa divisão. Afinal, a Automação é uma espécie de mutante transmorfo, composto por uma mistura de Eletrônica, Mecânica e Eletrotécnica, e opera em várias frequências diferentes.
Mas, se as Engenharias têm muitas diferenças entre si, os estudantes de Engenharia têm muito em comum, especialmente no início e no fim do curso. No início todos vocês estavam se batendo com as mesmas disciplinas (Cálculo, Álgebra, Geometria, Física). No fim, independente das disciplinas que estavam cursando, todos vocês só tinham em mente um único evento: a formatura.
Hoje em dia, para tornar a formatura mais concreta, vocês fazem contagens regressivas e postam vários comentários em redes sociais e blogs. No meu tempo de aluno não havia internet e eu escrevia um diário em papel mesmo. Quem ler meus diários da época de formando terá a impressão de que eu estava passando por uma grande tortura. Só para dar uma ideia, no último semestre havia uma disciplina chamada "Administração Financeira". O professor não era ruim, mas, 40 dias antes do fim do semestre, eu escrevi:
"Faltam 40 dias. Fui terrivelmente mal na prova de Administração (Financeira). Devo ter tirado menos de 3 e ficado em exame... Uma prova daquele tipo só pode ser bem feita por quem tenha experiência com o mercado financeiro, que não é o meu caso... É incompreensível que alguém pense que um Engenheiro, mesmo o mais idiota deles, deva saber fazer um fluxo de caixa, um balanço patrimonial ou todo o resto. Afinal, ninguém supõe que um Administrador deva saber como funciona um amplificador ou uma subestação."
Em minha defesa, devo dizer que não me lembro de fato de ter escrito essas linhas, mas elas estão lá, escritas com tinta, com essas mesmas palavras. E, só para encurtar a história, cinco anos depois eu estava na Copel, trabalhando com planejamento da expansão da geração, área que exige, dentre muitas outras coisas, o conhecimento de assuntos relacionados a Administração Financeira. Cabe uma nota: apesar das lamúrias, eu passei por média em Administração Financeira.
Os formandos têm mesmo esse costume de achar que são injustiçados e que deveriam ser aprovados automaticamente em todas as disciplinas. Outro costume, que não é só dos formandos, é acharem que o destino já está traçado, quando a realidade é muito longe disso. À frente de vocês se desdobra um enorme leque de possibilidades profissionais. O único problema é que a maior parte de tais possibilidades é desconhecida no momento.
Correndo o risco de me tornar aborrecido, vou contar uma historinha sobre o início da minha vida profissional.
Um dos meus objetivos depois da formatura era entrar no LAC, o Laboratório Central de Pesquisa e Desenvolvimento, que hoje se chama LACTEC. Sabendo que na época o LAC fazia parte da Copel, imaginei que a maneira mais fácil de entrar no LAC era antes entrar na Copel. Depois de ter passado dois anos e meio na Engesp, uma pequena empresa de equipamentos médicos, e mais dois anos na Telepar, finalmente apareceu um concurso para a Copel. Fiz a inscrição, mas esqueci a calculadora e não passei no concurso. Seis meses depois apareceu outro concurso e daí eu passei.
Quando me chamaram para assumir, havia duas vagas. Uma delas era na Transmissão, com sede em Curitiba, mas exigia viagens constantes e, como eu já trabalhava no CEFET, como professor em regime parcial, não pude aceitar. A outra vaga era na Geração, na divisão de planejamento da expansão, com sede em Curitiba, exigia poucas viagens e era perfeita para mim.
Ao chegar lá, descobri que a tal divisão era bem pequena, com
apenas quatro Engenheiros, incluindo o gerente. Todos eles Engenheiros Civis. Para piorar, planejamento da expansão tem pouco a ver com Engenharia Civil, pouco a ver com Engenharia Elétrica, pouco a ver com Engenharia Mecânica, mas muito a ver com Engenharia de Planejamento, e eu não sabia nada daquilo. E eu comecei a pensar: "onde é que fui me meter?"
Mas acabei aprendendo alguma coisa e, depois de quase sete anos de Copel, pedi demissão para me dedicar mais ao Ensino e para atuar como consultor.
Desde então, algumas oportunidades só surgiram por causa do meu relacionamento com assuntos envolvendo planejamento, comercialização de energia e geração. E esse relacionamento só surgiu porque, uma vez, eu esqueci minha calculadora em casa e, outra, tive de recusar uma vaga na Transmissão. Do LAC, que hoje não faz mais parte da Copel, nunca cheguei nem perto.
Por causa daquela escolha, pude conhecer e trabalhar com Engenheiros Civis, Engenheiros Mecânicos, Engenheiros Agrônomos, Engenheiros Químicos, Engenheiros Eletrônicos, Engenheiros Cartógrafos, Engenheiros Florestais, Geólogos, Matemáticos, Físicos, Economistas, Contadores, Administradores, Meteorologistas, Estatísticos, Advogados, Psicólogos, Engenheiros da Computação, Engenheiros de Automação e até mesmo Engenheiros Elétricos.
Assim é a vida, e mesmo a vida profissional não pode ser planejada tão cartesianamente. De uma hora para outra você pode esquecer sua calculadora em algum lugar e uma bifurcação, uma encruzilhada, aparecerá no horizonte. Nesse caso, não se esqueça do conselho do famoso jogador de baseball norte-americano Yogi Berra: "quando você chegar a uma encruzilhada, siga em frente!". Não há nada de mágico nisso. Não é o Universo que está conspirando a seu favor. É física pura!
Paralelamente a isso tudo, estou aqui na UTFPR desde os 14 anos de idade (com um intervalo de um ano entre o curso Técnico e o curso de Engenharia e mais um intervalo de dois anos entre a formatura na Engenharia e o ingresso como professor). Já se vão 29 anos, 20 deles como professor da Engenharia. Talvez eu já tenha lecionado para mais de mil e duzentos alunos.
Mas muitos anos e muitos alunos ainda virão. E, quem sabe, em uma formatura futura, alguns de vocês possam estar aqui novamente, não como formandos, mas como pais, ou quem sabe como Diretores, Chefes de Departamento, Coordenadores de Curso, Professores Homenageados, Paraninfos, Patronos.
Afinal, a vida continua, mas não continua do mesmo jeito, pois, nesse jogo que estamos jogando, vocês apenas acabaram de mudar de nível. E, vocês sabem, cada vez que mudamos de nível, uma nova leva de zumbis, vampiros e lobisomens aparece pela frente. Mas tenho certeza que vocês acabarão com eles da mesma forma que acabaram com todos os bichos que apareceram durante o curso de Engenharia.
Obrigado por tudo. Vocês são ótimos. Vida longa e próspera!
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quarta-feira, abril 04, 2012
A elevação do PLD em março e abril de 2012
No último post deste blog, escrito já mais tempo do que seria razoável, encerrei dizendo que 2012 deveria ser um ano de PLDs baixos ou médios. Então, na terceira semana de março o PLD do Sul e do SE/CO atingiu R$ 137,24/MWh e iniciou abril em R$ 186,13/MWh. Valores nem um pouco baixos ou médios e totalmente atípicos para essa época do ano.
Em minha defesa, devo declarar que a previsão de PLDs baixos ou médios era uma espécie de consenso do setor no início de 2012. Ainda no início de fevereiro último, por exemplo, as previsões do CPTEC e do INMET (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos e Instituto Nacional de Meteorologia) eram de precipitações entre a média e abaixo da média histórica para fevereiro, março e abril, nas bacias do Jacuí e do Uruguai, enquanto as precipitações ficariam em torno das medias histórica nas demais bacias do SIN (Sistema Interligado Nacional) [1]. Contudo, o fim abrupto do fenômeno La Niña, sem transição até o momento para o El Niño, alterou a situação. No momento, a ENA (Energia Natural Afluente) do SE/CO está em 88% da MLT. Já no Sul a ENA é 29% e no Nordeste é 66%.
Por causa de tal quadro de afluências, o ONS autorizou o despacho de usinas térmicas por POCP (Procedimentos Operativos de Curto Prazo). Em abril serão despachados 5.454 MW médios no SE/CO, 1.444 MW médios no Sul e 889 MW médios no NE por POCP. Com tal providência, espera-se elevar ou ao menos preservar os níveis dos reservatórios do SE/CO, Sul e NE, que estão com valores baixos para essa época do ano: 78,4% no SE/CO, 33,6% no Sul e 82,6% no NE. O comportamento das ENAs nos próximos meses também dependerá em grande medida do retorno do El Niño, que poderá ocorrer entre maio e junho. Até lá, contrariando as previsões iniciais, os PLDs deverão continuar elevados.
[1] ONS. Relatório Executivo do Programa Mensal de Operação - PMO de fevereiro, revisão 0, semana operativa de 28/01 a 03/02/2012.
quinta-feira, janeiro 19, 2012
A revisão das Curvas de Aversão ao Risco
Na última terça-feira, 17 de janeiro, a ANEEL publicou sua decisão final sobre a revisão das Curvas de Aversão ao Risco (CARs) dos submercados Sul, Sudeste/Centro-Oeste e Nordeste [1]. Os novos valores são válidos para o biênio 2012/2013 [2].
As CARs correspondem ao armazenamento mínimo a ser observado para cada submercado e têm dois efeitos sobre o sistema elétrico. Primeiro, quando o armazenamento em determinado submercado se torna inferior à respectiva CAR, todas as usinas térmicas deste submercado devem em princípio ser acionadas, o que eleva os Encargos do Serviço do Sistema (ESS), por causa do maior consumo de combustível. Segundo, as CARs são incorporadas no cálculo dos próprios PLDs. Assim, quando os armazenamentos se tornam próximos às respectivas CARs, mesmo sem atingi-las, os PLDs resultantes são maiores do que aqueles que seriam calculados sem as CARs
As CARs são calculadas para cada biênio e devem ser revistas anualmente pelo ONS até outubro de cada ano, podendo também ser revistas a qualquer momento. As CARs de 2012 já existiam, conforme mostra a figura abaixo (curvas tracejadas). A revisão do último dia 17 (curvas cheias) produziu as seguintes modificações: (1) para os submercados Nordeste e Sul, houve uma redução do armazenamento mínimo de janeiro a novembro e uma elevação em dezembro; (2) para o submercado SE/CO houve uma redução de janeiro a março e um aumento de abril a dezembro. Assim, tornou-se mais fácil garantir os armazenamentos mínimos no Nordeste e no Sul e um pouco mais difícil no SE/CO, embora não muito.
Desde que foram criadas, em 2001, a CAR menos problemática tem sido a do Sul, nunca atingida. A CAR do Nordeste quase foi atingida em outubro de 2010, fazendo com que os PLDs mensais do Norte e do Nordeste atingissem R$ 229 /MWh, enquanto os PLDs do Sul e do SE/CO mantiveram-se em R$ 138/MWh. Finalmente, a CAR do SE/CO foi atingida em janeiro de 2008, fazendo com que o PLD mensal atingisse aproximadamente R$ 500/MWh em todos os submercados.
A revisão das CARs é um dos três fatores que podem afetar o PLD em 2012. Os outros dois são: (1) a revisão do consumo de energia (carga) usado para calcular o PLD e; (2) a decisão do que fazer com algumas usinas da Bertin consideradas no modelo que calcula o PLD. Tais usinas, que deveriam ter entrado em operação em 2011, não devem acarretar problemas no fornecimento de energia, mas podem elevar o PLD se retiradas do modelo [3]. Apesar de tudo, 2012 deverá ser um ano de PLDs baixos ou médios.
[1] ANEEL aprova revisão das Curvas de Aversão ao Risco para biênio 2012/2013, http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/noticias/Output_Noticias.cfm?Identidade=5114&id_area=90
[2] CARs para 2012/2013, http://www.aneel.gov.br/arquivos/PDF/Curvas%202012.pdf
[3] Governo avalia exclusão de usinas da Bertin do sistema, http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/noticias/governo-avalia-exclusao-de-usinas-da-bertin-do-sistema
quinta-feira, janeiro 05, 2012
O ritmo das chuvas no Sudeste
Assunto onipresente nos noticiários brasileiros atuais são as enchentes em Minas Gerais e em outros estados do Sudeste. Junto com as chuvas voltam à cena os questionamentos sobre a necessidade de investimentos em prevenção e contenção de cheias, os quais se atenuarão exponencialmente a partir de março, extinguindo-se quase completamente por volta de julho. Todavia, o ritmo das chuvas na região Sudeste é tão conhecido que o Setor Elétrico, por exemplo, trabalha há muito tempo com os conceitos de "período seco" (de maio a novembro) e "período úmido" (de dezembro a abril).
O gráfico abaixo mostra o comportamento da "Energia Natural Afluente" (ENA), ou simplesmente "vazão afluente", para os cinco últimos anos do submercado Sudeste/Centro-Oeste (SE/CO). Embora a ENA não represente toda a vazão em determinada região, mas apenas aquela parcela que entrou nos reservatórios das usinas hidrelétricas, já dá para se ter uma ideia muito boa do quadro geral das chuvas. A "Média de Longo Termo" (MLT) representa as vazões médias mensais calculadas para a série histórica de vazões, que contém dados desde 1931.
O gráfico deixa claro que os últimos quatro anos se encerraram com vazões acima da MLT. Para os consumidores de energia isso em geral é bom, pois significa que os reservatórios estão se enchendo, de modo que o período seco poderá ser enfrentado de maneira mais confortável, sem que muitas usinas termelétricas sejam acionadas. Para quem mora em áreas afetadas por enchentes, contudo, vazões acima da MLT não são notícia tão boa, como deixam claro as cenas de cidades alagadas e casas submersas. O detalhe é que tais cenas sairão dos noticiários à medida que as águas forem baixando e só retornarão por volta de dezembro próximo, dando a ilusão de que o problema fora resolvido em meados do ano.
E assim prossegue o ritmo das chuvas.