sexta-feira, abril 13, 2012

Discurso de formatura - 12 de abril de 2012

No dia 12 de abril tive novamente a satisfação de ser escolhido paraninfo das turmas de formandos de Engenharia Elétrica e Engenharia de Automação do campus Curitiba da UTFPR. Foram 51 alunos reunidos no Grande Auditório da Universidade Positivo. Parabéns novamente a todos!

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Ilustríssimo senhor diretor do campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, professor doutor Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho, demais autoridades já nomeadas, queridos pais, familiares e amigos, prezadas senhoras, prezados senhores, caríssimos Engenheiros e Engenheiras recém-formados.

É sempre uma satisfação e uma grande honra ser escolhido paraninfo de uma turma de formandos. Dessa vez a honra é até um pouco maior, pois, até onde sei, nunca houve uma turma de formandos tão grande no curso de Engenharia. Imagino como devem ter sido as reuniões da comissão de formatura!

Eu gostaria de falar rapidamente sobre três assuntos hoje. Começo prestando uma homenagem a alguns dos heróis dessa noite. É evidente que vocês, formandos, são os heróis dessa noite, mas isso é bastante obvio. Seus pais e familiares também são os heróis dessa noite, mas isso também é bastante óbvio. Mas, nesses 20 anos como professor da UTFPR eu já frequentei algumas formaturas e, até onde me lembro, nunca vi uma certa classe de profissionais ser homenageada aqui: os professores.

Mas não falo de nós, os professores. Falo daqueles que vieram antes de nós: os professores do Ensino Médio, do Ensino Fundamental e do Ensino Básico. Esses são outros dos verdadeiros heróis dessa noite.

Falo isso sem tentativa alguma de proselitismo, sem tentativa alguma de agradar pelo mero ato de agradar. Falo isso simplesmente porque é a mais pura verdade: os professores dos Ensinos Médio, Fundamental e Básico são poucas vezes lembrados em situações como a de hoje. E, se essa profissão já foi mais fácil, na época da palmatória, na época da autoridade absoluta do professor, hoje é uma das profissões mais estressantes que há, mesmo em escolas particulares. Só se exerce essa profissão pela paixão ou por não se conhecer muito bem o buraco em que se estava entrando.

E, no entanto, esses professores estão na base. Sem eles, não estaríamos aqui. São eles, juntamente com os pais, os responsáveis por aquilo que chamamos de Educação. À medida que o aluno vai crescendo, vai diminuindo a quantidade de Educação que ele pode receber, e vai aumentando a quantidade de Ensino. Nós, professores de Ensino Superior, somos muito mais responsáveis pelo Ensino do que pela Educação. De fato, se um aluno chega até nós "estragado", por assim dizer, pouco podemos fazer. Mas se um aluno chega até nós bem preparado, dizemos que ele é "excelente", lembrando apenas vagamente de todos os professores que contribuíram para isso.

Essa lembrança já foi mais fácil para nós, do DAELT, especialmente quando tínhamos o curso técnico em Eletrotécnica, o que significava termos ao nosso lado colegas que lecionavam para o Ensino Médio, embora em disciplinas técnicas. Mas hoje o DAELT tem apenas cursos superiores, o CEFET-PR transformou-se na UTFPR e ainda estamos tentando entender o que isso tudo significa.

Aqui aproveito para emendar no segundo assunto: o futuro do ensino da Engenharia. Ser Universidade não significa apenas estarmos mais distantes dos Ensinos Médio e Fundamental. Significa também que a maneira pela qual somos avaliados mudou. Relembrando rapidamente, nossa instituição nasceu no início do século passado, como Escola de Artífices e aos poucos fomos nos transformando: Liceu Industrial de Curitiba, Escola Técnica Federal de Curitiba, Escola Técnica Federal do Paraná e, no final dos anos 70, quando surgiram os primeiros cursos superiores, Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná. Mas toda essa mudança não alterou uma característica central da nossa instituição: a preparação de profissionais para o mercado.

A mudança para Universidade é um pouco mais drástica. Se antes éramos comparados apenas aos outros CEFETs, agora somos comparados a centenas de Universidades brasileiras, o que significa usar o mesmo critério de avaliação usado pelas Universidades brasileiras e, na verdade, por todas as Universidades do mundo: a necessidade de produção tecnológica e científica. Nesse mundo universitário a graduação não é valorizada diretamente, mas apenas na medida em que possa formar profissionais capazes de realizar pesquisas e publicar artigos.

Para nós, da UTFPR, isso acontecerá de uma forma quase natural, por um simples motivo: novos professores universitários, a não ser em casos muito particulares, devem ter doutorado.

Isso é um pouco estranho, pois vocês, que acabaram de se formar, podem ajudar a projetar uma subestação, uma usina hidrelétrica ou uma planta industrial, podem organizar sistemas de automação industrial, trabalhar em pesquisa tecnológica, na especificação e análise de sistemas, na supervisão da operação e na manutenção de sistemas e equipamentos, podem realizar estudos de viabilidade econômico-financeira de projetos, podem elaborar perícias, vistorias, avaliações, laudos e pareceres técnicos nas áreas de Engenharia Elétrica e de Automação, conforme o caso. Mas ainda não podem dar aulas de nenhum desses assuntos nos nossos cursos de Engenharia ou em curso algum de Engenharia. Para isso vocês precisarão de um doutorado em alguma área da Engenharia, coisa que deve demorar mais seis anos, no mínimo, supondo que vocês já tenham iniciado um mestrado.

Esse fenômeno é tão universal que tem até um nome: "viés acadêmico", ou seja, a tendência das instituições de ensino de aumentarem seus status por meio da adoção dos modelos das instituições de maior prestígio.

Em termos mais simples, daqui a 20 anos, talvez menos, quando todos os nossos professores menos graduados, que foram admitidos como assistentes em uma época na qual o doutorado não era obrigatório, tiverem se aposentado, nosso quadro de professores será formado quase somente por doutores, assim como acontece em Harvard, em Cambridge, assim como já acontece parcialmente na USP. Nós seremos menos CEFET-PR e mais Universidade, mas isso não poderá significar perder a identidade.

Obviamente, ter doutorado não é uma coisa ruim, e eu mesmo estou a caminho do meu, depois de vinte anos dividindo minha vida profissional entre o magistério e a atuação como engenheiro profissional. Mas tenho de confessar que me dá certa aflição saber que nosso curso de Engenharia Elétrica do futuro poderá ser menos orientado para a preparação de profissionais para o mercado e mais orientado para a pesquisa.

Meu último assunto é que talvez eu esteja enganado sobre essa questão. Talvez essa minha aflição seja "século XX demais". Primeiro, porque a integração entre empresas e Universidade, seja por meio de estágios, seja por meio de pesquisas colaborativas, pode servir como forma de apresentação daqueles conteúdos que não cabem em sala de aula. Segundo porque, afinal, o mundo da Engenharia hoje é tão vasto que não caberia nem mesmo em um curso de 15 anos de duração.

Talvez eu esteja confundindo "conhecimento", hoje fartamente disponível em qualquer tablet, com "sabedoria". E é a sabedoria que deve ser transmitida aos alunos pelos professores, sejam eles especialistas, mestres ou doutores.

É essa sabedoria a única coisa capaz de transformar um assustado jovem de 18 ou 19 anos em uma pessoa com "cabeça de Engenheiro".

E, quando penso que vocês, que estão se formando hoje, irão se aposentar lá pelo ano 2060, a única conclusão é que o conhecimento de base contido nessa "cabeça de Engenheiro" é mais importante do que qualquer outra coisa.

É esse conhecimento que permitirá a jovens recém-formados, como vocês, adaptarem-se a qualquer situação que possam vir a enfrentar, seja no mundo acadêmico, seja no mundo do mercado. E, mais importante do que se adaptar, criar novas situações.

A receita daqui para frente não é muito diferente daquela que vocês usaram para chegar até aqui: é preciso ter inteligência, é preciso ter intuição, mas, acima de tudo, é preciso ter raça.

É como diz a canção de Milton Nascimento: "é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre".

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Que a gana, a raça e a força com vocês estejam. Obrigado por tudo. Vocês são ótimos. Vida longa e próspera!

2 comentários:

  1. "A good university prepares students for a job. A great university prepares students for any job"

    Parabéns pelo discurso, Alvaro! :)

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  2. Obrigado pelo discurso professor, sempre será lembrado... =)

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