sábado, julho 30, 2011

Discurso de formatura - 29/07/2011

Na noite de 29/07 tive novamente a honra de ser escolhido como paraninfo da turma de formandos em Engenharia Industrial Elétrica, ênfases Eletrônica e Eletrotécnica, da UTFPR. O texto segue abaixo, mas, na hora, não resisti à tentação de fazer alguns improvisos sobre ele. Isso é sempre um risco e pelo menos um deles não saiu muito bem. Da próxima vez eu conserto, caso haja.

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Ilustríssimo senhor diretor do campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, professor doutor Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho, demais autoridades já nomeadas, queridos pais, familiares e amigos, prezadas senhoras, prezados senhores, caríssimos Engenheiros e Engenheiras recém-formados.

É sempre uma satisfação e uma grande honra ser escolhido paraninfo de uma turma de formandos. Dessa vez a satisfação se mistura a um pouco de surpresa, pois tenho a missão de ser paraninfo também da turma de Eletrônica, cujos alunos não tiveram a sorte, ou o azar, de passar por mim.

Na verdade, durante muitos anos eu dei aulas para o pessoal da Eletrônica, quando existiam duas disciplinas chamadas Conversão Eletromecânica de Energia I e II, as quais eram obrigatórias tanto para o curso de Eletrotécnica quanto para o de Eletrônica, além de Eletromagnetismo, que era lecionada apenas por professores do DAELT. Isso ocorreu quando nosso curso de Engenharia Industrial era de fato dividido em duas ênfases, coisa que não acontece mais. 

O detalhe é que durante todos aqueles anos eu nunca fui escolhido paraninfo. Os alunos de Eletrônica, ao chegarem ao final do curso, muito apropriadamente preferiam se lembrar dos professores da Eletrônica, enquanto os alunos de Eletrotécnica, esparsamente salpicados pelas minhas turmas, mal se lembravam de mim. Pelo menos é assim que prefiro pensar... O mais provável é que eu tenha cometido tantos erros naqueles primeiros anos que todos tentavam esquecer de mim bem rapidinho...

A coincidência é que este ano de festas para vocês é também um ano de celebração para mim, pois em outubro próximo eu completo meu vigésimo ano como professor do DAELT. E, seja você aluno de Eletrônica ou de Eletrotécnica, terá de aguentar agora, em comemoração, essa espécie de "última aula", a qual, para a felicidade de todos, irá durar bem menos de cinquenta minutos.

Depois de todos esses anos cinco, seis, sete anos de curso, talvez vocês estejam se sentindo em uma encruzilhada. O que fazer? Qual caminho seguir agora que não existe mais uma grade de matrícula? Felizmente, existem pelos menos quatro caminhos a seguir. Dois deles são mais ou menos imediatos e os outros dois demoram um pouco mais.

O primeiro deles, em ordem de maior facilidade de ingresso, é o emprego em uma empresa privada. Alguns de vocês já começaram a seguir este caminho. A grande vantagem de uma empresa privada é a facilidade para entrar, mas a grande desvantagem, infelizmente, é a grande facilidade para sair, geralmente não por conta própria e ao ritmo das flutuações na economia. Afinal, o grande objetivo de uma empresa privada é manter-se viva e crescer, e de vez em quando são necessárias decisões difíceis para atingir tal objetivo. Ainda assim, a maior vantagem das empresas privadas diz respeito aos salários e à possibilidade de seguir uma carreira internacional.

O segundo caminho é o emprego em uma empresa estatal, que, de acordo com a legislação atual, só é possível via concurso público. Nesse caso você terá certa estabilidade de emprego, mas não uma estabilidade infinita, como muitos pensam. Autarquias, por exemplo, como é o caso de várias empresas do Setor Elétrico, têm liberdade para demitir funcionários por desempenho insuficiente e por outras razões mais graves, como dano ao patrimônio e agressão pessoal. Tenho certeza que não será o caso de nenhum de vocês.

Nossos alunos têm sido muito bons em passar em concursos públicos, mas o que não pode acontecer é você decidir trabalhar em uma empresa estatal apenas por causa da estabilidade. Isso significa a morte profissional. Se isso acontecer, eu vou ficar sabendo (nessa era de redes sociais é sempre muito fácil saber das coisas), vou descobrir onde você mora e vou quebrar suas pernas!

Um ponto que empresas privadas e estatais têm em comum é a presença de uma figurinha difícil, que muitos de vocês irão encontrar ou já encontraram: o chefe. A atuação do chefe, também conhecido como gerente ou "gestor" (para ficar mais chique) é muito complexa, depende da personalidade da pessoa, da formação e de pelo menos uma ou duas outras centenas de variáveis, todas muito difíceis de identificar e de medir. Ainda assim, a atuação do chefe pode ser resumida em uma única lei universal e imutável: "chefe é chefe, e vice-versa".

A colisão entre chefes e subordinados é atualmente muito comum, pois muitas vezes ambos pertencem a gerações diferentes. Ao contrário de vocês, que são da geração Y, seus chefes provavelmente serão da geração X (a minha geração) ou de gerações anteriores. 

A geração Y é aquela que nunca teve de se levantar do sofá para trocar de canal, que nunca teve de acordar às 5h da manhã para ficar da "fila do leite" e que nunca teve vários anos para ter direito a um telefone fixo.  A geração Y é mais impaciente, era criança quando aprendeu a pronunciar "ctrl-alt-del" e entrou na escola já na era da internet. 

O choque de culturas é inevitável. Por exemplo, se seu chefe tiver mais de 50 anos, talvez ele não esteja habituado a redes sociais. Mesmo que você seja viciado nelas, lembre-se que agora você não é mais um estudante e sim um profissional. Fotografias suas em meio a uma farra, por exemplo, não fazem mais sentido daqui para frente. Para as mulheres, fotografias de biquíni devem ser avaliadas com muito cuidado. Para os homens, esse conselho vale em dobro... Quando ao Twitter ou ao Facebook, por favor, nada de reclamar da vida ou da empresa. Nada de fazer contagem regressiva para o fim do dia ou para o fim de semana. Esse tipo de atividade deve ser realizada da maneira como sempre foi: em particular.

O terceiro caminho é o do magistério. Infelizmente, vocês ainda não estão preparados para ele. Por causa de um efeito da versão atual da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a LDB, de 1996, a maior parte das Universidades Federais exige que professores tenham doutorado, o que, em nosso país, significa que é necessário ter um mestrado antes. Isso significa pelo menos mais seis anos de estudos pela frente. 

Para mim, que ingressei como professor no antigo CEFET-PR, no longínquo ano de 1991, antes da LDB, quando um simples diploma de Engenheiro bastava para lecionar, essa situação ainda é bastante estranha. Mas, se queremos atuar na era da globalização, fazendo intercâmbios e interagindo com outros países, é assim que devemos fazer, pois é assim que eles fazem. É claro que isso não esclarece porque eles fazem assim, mas essa é outra história!

O quarto caminho que você poderá seguir é abrir sua própria empresa. Nesse caso você não terá estabilidade, mas também não terá chefes. Sim, é verdade. Você terá apenas clientes, que, no fim das contas, são chefes que podem se livrar de você com um simples sopro. 

Tornar-se empreendedor é coisa que não acontece da noite para o dia e exige muita preparação. Por exemplo, uma passagem por uma ou duas empresas é interessante, de modo a se adquirir experiência e contatos. E, para estabelecer sua empresa, fazê-la prosperar e dar lucro, não há outra maneira a não ser tornando-se chefe. Então, depois de algum tempo, você verá entrar por sua porta um funcionário insatisfeito com as condições da empresa que você criou. Coisas da vida.

Seja qual for o caminho que você seguir, talvez você cometa o erro de pensar que seu destino está traçado. Não está! O caminho se faz com o caminhar e o Universo não conspira a nosso favor só porque temos um sonho. 

Além do sonho, é preciso dedicação, paciência e um ingrediente especial, revelado pelo polêmico escritor George Bernard Shaw, que disse: "O homem sensato adapta-se ao mundo; o insensato insiste em tentar adaptar o mundo a ele. Logo, todo progresso depende dos insensatos". Assim, um pouco de insensatez é essencial (mas insensatez construtiva).

Obrigado por tudo. Vocês são ótimos. Vida longa e próspera!

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