sexta-feira, julho 14, 2006

Dublagem obrigatória de filmes estrangeiros?

É do Acre que vem a última novidade desse país ensolarado, cheio de ônibus queimados e analfabetos: o deputado Nilson Mourão, do PT, quer tornar obrigatória a dublagem de filmes estrangeiros.

Um dos argumentos do deputado é que as legendas dificultam a compreensão por parte das pessoas de menor poder aquisitivo. Só que essas pessoas são justamente aquelas que não freqüentam os cinemas, os quais, na maior parte das grandes cidades brasileiras, encontram-se escondidos no interior de Shopping Centers, redutos das classes sociais mais altas.

Outra justificativa é que a obrigatoriedade da dublagem aumentaria o campo de trabalho para os dubladores. Mas, como argumenta muito bem Marcos Petrucelli, os filmes que interessam já são dublados quando do lançamento em DVD. A obrigatoriedade da dublagem para o cinema apenas anteciparia o trabalho, mas não produziria mais trabalho. Além disso, o deputado se esquece de mencionar que todo o pessoal que trabalha legendando os filmes perderá imediatamente o emprego!

Do meu ponto de vista, que imagino seja compartilhado por muita gente que já passou infindáveis tardes e noites em cinemas, uma dublagem mal feita é uma grande porcaria. Já uma dublagem bem feita é apenas uma pequena porcaria.

Os dubladores que me perdoem, mas não há como ser diferente. Mesmo que não houvesse o problema do sincronismo labial, não seria possível substituir a voz de um ator ou atriz, que está vivendo o filme, pela voz de um dublador, que trabalha no conforto de um estúdio de gravação. Grandes atores podem trabalhar como dubladores, mas o inverso é muito menos freqüente.

É claro que há precedentes perigosos, pois outros países adotam há anos essa política de pasteurizar filmes estrangeiros. Isso acontece, por exemplo, na França, mas os franceses têm também outros hábitos estranhos, como comer sapos e caracóis, e não podem ser tomados como exemplo. O problema é que, se a coisa virar moda, cedo ou tarde o Congresso vai tornar obrigatório que até mesmo as músicas estrangeiras sejam dubladas!

De qualquer forma, é provável que essa lei seja apenas parte do plano da ala radical do PT para dominar o mundo. Uma vez aprovada a lei, os ricos e milionários continuarão assistindo os filmes em Nova Iorque e Londres, antes do lançamento no Brasil. A classe média continuará escondida em casa, fugindo dos bandidos e assistindo filmes em DVD, onde já é possível escolher o idioma e as legendas. E os pobres finalmente tomarão conta dos Shopping Centers, instaurando a revolução do proletariado prevista por Marx, e poderão assistir filmes dublados por um preço módico, pelo menos enquanto os cinemas aguentarem. No fim, teremos conseguido fazer aquilo que nem os soviéticos e nem Fidel conseguiram: quebrar Hollywood!

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