Vive la France!
Dizem que o primeiro tempo de Brasil x França foi monótono, mas, embalado por três chopes absorvidos durante a tragédia que foi Inglaterra x Portugal, não o assisti. Torcer pela Inglaterra é a única coisa divertida em qualquer Copa, pois os ingleses fazem tudo com muita classe, até mesmo perder. Além disso, o único quarteto mágico que jamais existiu era inglês, formado por Lennon, McCartney, Harrison e Starkey. A tragédia, além de ver os ingleses derrotados no esporte inventado por eles, está em ver Scolari avançar no campeonato usando aquele estilo australopitecíneo tão caro aos portugueses.
Acordei após o gol francês. Aparentemente, o jogo continuou na mesma durante o segundo tempo. Nada que já não fosse esperado, claro, por razões que serão muito melhor analisadas por gente que entende muito mais de futebol do que eu.
Alguns dirão que a culpa foi de Parreira e sua arrogância imperial, incapaz de ver o óbvio que milhões de "técnicos" e comentaristas não cansaram de apontar. O mesmo Parreira que disse não ter se preparado para a derrota nessa fase do mundial, mostrando ser um verdadeiro discípulo de Zagalo, que, em 1974, disse que não estava "preocupado com a Holanda", pois estava apenas "se preparando para enfrentar a Alemanha na final".
Outros dirão que a culpa foi de Roberto Carlos, que estava ajeitando a cinta-liga quando deveria marcar Thierry Henry, único artilheiro da partida.
Outros, finalmente, dirão que a culpa foi de um time formado por jogadores milionários, jogando em clubes europeus, sem compromisso algum com o torcedor brasileiro. Como apontado pela imprensa, poucos deles choraram com a derrota, poucos deles se emocionaram e todos falaram com se tivessem perdido apenas um jogo do campeonato da oitava série. Afinal, para quem ganha milhões de dólares a cada jogo de um clube europeu, deve ser uma grande chateação ser crucificado ao perder jogando de graça.
De qualquer forma, agora que a Copa se transformou em um torneio europeu, resta a opção de torcer para qualquer seleção, desde que não seja Portugal, é claro. Por um lado, Scolari vitorioso seria uma boa lição para Parreira, mas, por outro lado, Portugal vitorioso seria humilhação demais para qualquer brasileiro, até mesmo para aqueles que não gostam de futebol. Se bem que um título português seria o coroamento definitivo para o espetáculo em que se transformou a Copa do Mundo: uma grande palhaçada.
A derrota para a França tem pelo menos quatro vantagens. Primeira, vamos voltar a ver Fátima Bernardes maquiada decentemente. Segunda, o comércio e a indústria brasileiros não terão mais prejuízos enormes com paralisações em dias de jogo da seleção. Terceira, não teremos que ver a equipe brasileira ser recebida em Brasília, homenageada por um presidente que entende mais de futebol do que de economia. E, quarta, com um pouco de sorte, perderemos todos os mundiais daqui para frente. Só assim nos daremos conta de que vale muito mais a pena investir nosso dinheiro e energia nas coisas que realmente importam: educação, cultura, ciência e tecnologia. O resto, pão e circo patrocinados por fabricantes de artigos esportivos e redes de televisão, é bobagem pura.
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