segunda-feira, outubro 29, 2007

O pavoroso inglês dos aeroviários

Depois de um longo período sem viajar de avião, tive de enfrentar aeroportos seis vezes nas últimas duas semanas. Meu último vôo havia sido em julho do ano passado, quando da realização do SBSE 2006. Depois disso, só precisei viajar dentro do Paraná e de Santa Catarina, em trajetos mais adequados a uma viagem de carro. Assim, não sofri com a crise aérea recente, a qual dizem ainda não ter acabado.

Descobri que agora os aeroportos solicitam que o passageiro retire o laptop da mala e o passem individualmente pelo aparelho de raios X. Também me solicitaram que eu retirasse carteiras de cigarro, caso houvesse alguma. Respondi que nunca sofri dessa praga e perguntei a razão. “É que as carteiras de cigarro têm um papel metálico que confunde o raio X”, disse a funcionária.

Interessante, pensei, como esses aparelhos de hoje em dia são sensíveis.

Então passei a minha mala pelo raio X, dentro da qual havia uma calculadora, um molho de chaves, uma caneta metálica e um tubo de desodorante em aerosol, igualmente metálico. O raio X não se confundiu. Na verdade, nem mesmo se deu conta desses itens tão perigosos à segurança nacional.

Fora isso, não percebi maiores modificações nos procedimentos aeroportuários. O Galeão estava daquele jeito decrépito de sempre, com painéis da década de 80 e aquela locutora falando com uma voz de quem está tendo orgasmos múltiplos. Viracopos, recentemente reformado, não mudou muito. Apenas teve uma “praça de alimentação” acrescentada, uma certa mudança no visual e um certo aumento do espaço físico. No andar superior, persiste a placa que anuncia para breve mais uma franquia da Telefônica.

E o Afonso Pena, é claro, continua como sempre foi, o que não é de todo mal. O aspecto realmente ruim desse aeroporto é que, ao passar pela porta de saída, a qualquer hora do dia ou da noite, você é imediatamente atingido por uma lufada de fumaça fétida, pois os funcionários e passageiros usam aquela área como “fumódromo”.

Outra coisa que não mudou foi a qualidade do inglês falado por pilotos e comissários de bordo, que continua abaixo de qualquer nível desejável. Deve haver uma competição secreta entre aeroviários e o pessoal da TI (de todas as empresas) para ver quem é capaz de falar o inglês mais cucaracha possível. Mas há um agravante no caso dos aeroviários: o texto deles é lido!

Só para dar um exemplo, voltei do Rio de Janeiro a bordo de uma empresa cujo lema é algo como “a companhia aérea mais simpática do Brasil”. Antes da decolagem, os comissários de bordo executaram aqueles procedimentos de sempre, nos quais ninguém presta atenção. Por um lado, quem voa sempre não aguenta mais aquilo. Por outro lado, quem é novato em vôos civis, ou quem tem medo de voar, deve entender que é uma tremenda falta de sensilidade falar em procedimentos de emergência durante a decolagem.

De qualquer forma, o avião entrou em velocidade de cruzeiro e o chefe de equipe passou a descrever algumas coisas sobre o vôo. Não me lembro de quase nada do que ele disse, mas o texto em português foi encerrado com o lema da empresa. Fiquei levemente curioso para saber como eles iriam traduzir a palavra “simpática” e tentei acompanhar o texto em inglês até o fim. Eles optaram pelo termo “friendly”, mas o comissário pronunciou essa palavra de uma maneira totalmente abstrusa: “fráindly”.

Estou acostumado com bordoadas no ouvido, mas essa foi demais! Estou acostumado com “Gâgou” no lugar de Google, “Yorkcháire” no lugar de Yorkshire, “frequêncy” no lugar de frequency, “exange” no lugar de exchange. Contudo, adotar “fráindly” como pronúncia de friendly é indicação de que o sujeito não passou nem mesmo pelos cursos mais elementares de inglês, nos quais se aprende a falar coisas como “This is Bob. Bob is my friend”.

É claro que nenhum mal resultou da pronúncia descuidada do comissário de bordo. Infelizmente, os pilotos não demonstram melhor domínio da língua de Shakespeare. E, quando os pilotos devem se comunicar em inglês com torres de controle estrangeiras, a pronúncia descuidada pode ser perigosa, muito perigosa. Ainda assim, a solução é simples e relativamente barata. Afinal, quanto custa um jato comercial de passageiros? Quanto custam as vidas a bordo? E quanto custa um curso de inglês?

Como paliativo enquanto não se melhora a situação, as empresas de aviação poderiam ao menos complementar aquele famoso texto: “Atenção, senhores passageiros, observem os avisos de não fumar, apertem os seus cintos de segurança e preparem os seus tampões auditivos!”

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