segunda-feira, agosto 27, 2007

Mário Henrique Simonsen, o maior economista brasileiro

A vitória foi justa, nos dois sentidos da palavra: foi apertada, e a justiça foi feita. Em uma pesquisa organizada pelo jornal Valor Econômico, o professor Mário Henrique Simonsen (1935 – 1997) foi escolhido por 27 de 63 economistas entrevistados como o mais importante economista brasileiro. Celso Furtado (1920 – 2004) ficou em segundo lugar, com 25 votos, seguido de Eugênio Gudin e Roberto Campos.

A pesquisa do Valor não foi científica e não seguiu uma metodologia rigorosa. O jornal apenas procurou 100 economistas de várias orientações e pediu que citassem o “economista brasileiro mais importante da história”. Apenas 63 deles concordaram em participar, mas 3 deles votaram em mais de um nome.

Simonsen nasceu no Rio de Janeiro e formou-se em Engenharia Civil pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, vindo a doutorar-se em Economia pela Fundação Getúlio Vargas, em 1973. Quem conviveu com ele, dizem, nunca deixava de notar sua enorme inteligência e o apetite insaciável com o qual atacava de tudo, desde problemas de matemática, economia e física até obras de música erudita, sem falar no grande apetite por comida propriamente dita e no consumo de vários maços de cigarro ao dia.

Como se o sucesso acadêmico não bastasse, Simonsen também se tornou conhecido como empresário (Banco Bozano-Simonsen), ministro (Fazenda, entre março de 1974 e março de 1979; e Planejamento, entre março e agosto de 1979), consultor nacional e internacional, colunista e personagem da mídia. Ainda assim, disputas entre os admiradores de Simonsen e de Furtado sempre existirão, pois refletem a própria disputa entre os pensamentos econômicos ortodoxo e heterodoxo. Mas não resta dúvida que, entre Simonsen e Furtado, o maior gênio foi o primeiro, bem como o maior polímata.

Prova disso é um o último livro de Simonsen, “Ensaios Analíticos”, o qual, por absoluta coincidência, eu havia recomeçado a ler pouco antes de anunciado o resultado da pesquisa do Valor.

Compilado em 1994, a partir das apostilas de um curso de Metodologia Científica organizado para a Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas, o livro é para poucos. E poucos poderiam tê-lo escrito. A compreensão de todos os assuntos abordados em “Ensaios Analíticos” exige o domínio de vastas porções de áreas como filosofia, matemática, física, música e economia. E, se a matemática de Simonsen é mais avançada do que aquela ensinada nos cursos tradicionais de engenharia, a teoria econômica dele também é mais avançada do que aquela ensinada nos cursos de economia.

Para os ex-alunos de Simonsen, nada disso é novidade. Afinal, as aulas dele eram famosas pela baixa freqüência por parte dos alunos, pois poucos conseguiam acompanhar seu raciocínio rápido e seu elevado nível matemático. Apesar disso, dessa vez estou determinado a acabar os “Ensaios Analíticos”. Faltam apenas 150 das quase 430 páginas!

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[1] Valor Econômico. 10 ago. 2007. Disponível (para assinantes) em: <http://www.valor.com.br/valoreconomico/285/euefimdesemana.html>.

5 comentários:

  1. Prezado Álvaro,

    Eu me julgava um cara muito inteligente, até o dia em que esse livro caiu no meu colo.
    O Simonsen é tão perspicaz e tão bem sucedido em tantos campos diferentes que sua leitura é uma agradável ducha gelada no ego de qualquer um.

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  2. É verdade. Mas dessa vez não pretendo desistir! Aguarde comentários.

    [ ]s

    Alvaro Augusto

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  3. Gostaria que o Autor Comentasse como teve participação de mais de 100 bilhões do confisco do dinheiro da população Brasileira na administração do Fernando Collor de Mello

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    1. Olá Marcelo,
      Não sou qualificado para analisar a interferência de Simonsen no Plano Collor. Em vez disso, sugiro uma leitura, mesmo que superficial, de um artigo no qual Simonsen explica vários aspectos do plano: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rbe/article/viewFile/483/7586

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