A Vida nas Listas de Discussão
Eu participo de listas de discussões desde 1998, talvez antes. Como gosto de pensar e de argumentar, sempre pensei que uma lista de discussões seria excelente para isso. Isto é verdade em algumas listas de discussão muito particulares, onde viceja o verdadeiro espírito científico, mas está longe de ser o caso geral. Por exemplo o grupo Administrando reúne estudantes, professores e profissionais ligados à área de Administração, o que o torna bastante eclético.
Esse grupo foi criado em 2001 e conta com 3843 membros. O ecletismo e a profusão de membros tornam as discussões no Administrando muito diferentes daqueles em outros grupos ou listas de discussão.
As discussões no Administrando nunca foram fáceis. Muitos membros são estudantes universitários e, logo, estão na casa dos 20 anos. Para complicar, muitos deles são alunos do curso de Administração, cuja principal característica não parece ser o ensino da lógica e do pensamento crítico.
Durante minha longa permanência no Administrando, tenho sido constantemente criticado por me opor ao pensamento tradicional, por não "gostar" de livros de auto-ajuda e por ser "intelectual demais" (com a devida vênia a todos os intelectuais de verdade). Meu espírito crítico me levou a ser visto como "arrogante" e alguns afirmaram até mesmo que tenho grande inteligência, embora esta esteja mais próxima da "inteligência artificial". Recentemente, fui chamado de "judeu nazista" por causa de algumas opiniões sobre o nascimento da Igreja Católica. Ainda assim, imagino que conquistei alguns amigos por lá.
O Administrando é, assim, diferente de outros grupos dos quais tenho participado, como o CienciaList (777 membros) ou o SBCR (298 membros). Nestes, o que interessa mesmo é discutir um determinado assunto. De vez em quando os ânimos se exaltam, como nas discussões sobre moto perpétuos, sobre paradoxos relativistas ou sobre os mistérios quânticos, mas há sempre uma tentativa de se concentrar as discussões nos assuntos, não nas pessoas. Argumentos de autoridade e outras falácias são mal vistos.
No Administrando, por outro lado, argumentos de autoridade e ataques pessoais são os que mais aparecem. As pessoas lá são muito sensíveis a críticas, mesmo quando estas se dirigem aos argumentos, não aos proponentes. A falta de raciocínio lógico é assombrosa e muitos preferem ler bobagens, desde que escritas com delicadeza e respeito, a ter que encarar uma visão diferente ou ter que pensar fora da caixinha de areia. Esse modus operandi é assustador, pois no Administrando estão, presumivelmente, os gerentes, diretores e líderes do Brasil do futuro, o que me leva a concluir rapidamente que nosso futuro é sombrio.
Há, claro, exceções, as quais prefiro não citar, sob o risco de me esquecer de alguém.
O que me preocupa, particularmente, é a ausência de método científico nas discussões e o quase completo desconhecimento deste por parte da maioria dos membros, com as devidas exceções. Clemente Nobrega, que recentemente lançou o livro Ciência da Gestão, tem insistido que alguns aspectos da Administração podem ser expostos ao método científico. Ele argumenta, por exemplo, que podem existir na Administração um certo conjunto de leis semelhantes às leis de Newton da mecânica. Contudo, não existirá uma Ciência da Gestão enquanto não existirem pessoas preparadas para trabalhar com ciência na área de Administração, ou Gestão, como prefere Clemente.