quinta-feira, setembro 15, 2005

Tudo que você quiser saber está (ou estará) na internet

Quando eu era adolescente, tornei-me fã de John Denver e comprei o único LP dele que havia para comprar: "Poems, Prayers and Promises". Na época, eu estava aprendendo a tocar guitarra e passei incontáveis horas tirando as músicas, uma a uma, com ajuda de uma professora e de um ouvido não muito bom. Para piorar, o disco não trazia as letras das músicas e tive também que decifrar o inglês de Denver. Não foi nada fácil, mas aprendi bastante. Hoje, todas as canções de John Denver (e de mais quem você quiser), letra e cifras, estão na internet. Basta entrar no Google e procurar (Super Cifras, por exemplo). Na verdade, tudo que você quiser saber sobre John Denver está na internet. Para piorar, tudo que você quiser saber, sobre qualquer coisa, está ou estará na internet. Geralmente de graça. Para quem nasceu em uma casa onde havia um recinto chamado "biblioteca", a internet é como a história do rato que caiu em uma fábrica de queijo. E vai piorar.

A Wikipedia, por exemplo, é um projeto internacional de uma enciclopédia totalmente web. O projeto foi iniciado em 15 de janeiro de 2001, como complemento da Nupedia. No momento, já existem 2,3 milhões de verbetes em inglês, francês, italiano, polonês, português, alemão, chinês, sueco, holandês e espanhol. O conteúdo é livre de direitos (GNU), escrito colaborativamente por voluntários e patrocinado por uma fundação sem fins lucrativos. O crescimento tem sido exponencial desde 2001, conforme figura abaixo.



A maior crítica que a Wikipedia tem sofrido refere-se à falta de autoridade central controladora dos verbetes. Alguns bibliotecários dizem que, por este motivo, nunca usariam a Wikipedia e nem mesmo a recomedariam. Mas a premissa básica da encicloplédia é a de que o uso prolongado e a exposição a vários autores conduzirá à perfeição. Nota-se que esta é a mesma premissa do software livre, que faz uso da Lei de Linus, enunciada por Eric S. Raymond: "dada uma base de desenvolvedores e testadores suficientemente grande, quase todo problema será rapidamente detectado e a solução será óbvia para alguém". Pelo que tenho visto, a qualidade geral dos verbetes é boa e tenho passado bastante tempo pesquisando sobre máquinas elétricas e outros assuntos nessa fantástica enciclopédia digital.

Outro exemplo da profusão de informações é o arXiv (pronuncia-se como a palavra "archive", em inglês). Quando Einstein começou a publicar seus artigos, por volta de 1904, toda a publicação mensal da física da Alemanha, que era a maior o potência científica da época, cabia em um único volume da Annalen der Physik. Meio século depois, quando todos os intelectuais alemães já haviam atravessado o Atlântico, o periódico norte-americano Physical Review teve que ser separado em quatro volumes mensais. Por volta de 1960, nenhum físico profissional conseguia mais se por a par de todos os artigos publicados na Physical Review. Hoje, a coisa é muito "pior". Em vez de submeter um artigo a um periódico e esperar meses pela aceitação e pela publicação em uma revista impressa, os pesquisadores submetem inicialmente seus artigos no arXiv, em formato PDF, PostScript, LaTeX e outros. Não há referee e o texto é quase imediatamente publicado em formato eletrônico. Se o artigo sobreviver ao bombardeio de perguntas de outros pesquisadores, o autor pode então enviar o original, geralmente corrigido, para publicação em um periódico convencional.

O arXiv foi criado por Paul Ginsparg, em 1991 (antes, portanto, da era da internet comercial) e incialmente foi hospedado no laboratório de Los Alamos, migrando posteriormente para a Universidade de Cornell. O advento do arXiv precipitou a revolução do acesso aberto na área da publicação científica, levantando o temor de que as publicações tradicionais venham a desaparecer algum dia.

Há muito coisa de boa nos arXiv, incluindo artigos de pesquisadores de ponta, como Brian Greene e Edward Witten, mas também muita coisa ruim, como artigos de gente que tenta provar que tudo aquilo que sabemos desde Einstein está errado. Por outro lado, nas palavras de Jorge Zanelli, pesquisador do Laboratório de Física Teórica do Centro de Estudos Científicos, em Valvidia, Chile, "(o arXiv) liberou o terceiro mundo da necessidade de estar em Princeton, Pasadena ou Paris para fazer pesquisa de ponta". Conta-se, por exemplo, que o próprio Dr. Zanelli publicou um artigo no arXiv e no dia seguinte recebeu um e-mail de Ed Witten, que dizem ser o candidato mais sério ao sucessor de Einstein. No mundo do papel impresso, isso jamais aconteceria. No momento, o arXiv restringe-se às áreas da fisica, matemática, ciências não lineares, ciências da computação e biologia quantitativa, mas outras áreas certamente se seguirão.

Resumindo, o mundo nos próximos anos será uma loucura!