segunda-feira, novembro 21, 2011

Belo Monte e outras questões complicadas

Na semana que passou o movimento Gota D'água publicou um vídeo, encenado por atores conhecidos, criticando a construção da UHE Belo Monte, a entrar em operação em 2015, no Rio Xingu (Pará). A capacidade instalada da usina, 11.233 MW, fará dela a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, quando classificadas pela capacidade. Contudo, restrições ambientais farão com que a usina funcione a fio d'água, com capacidade reduzida de armazenamento, gerando 4.571 MW médios, o que corresponde a um fator de capacidade de 40,7%. Para fins de comparação, o fator de capacidade médio das hidrelétricas brasileiras é 55%. A média mundial é menor do que isso, talvez chegando a 45%. Isso ocorre porque o Brasil é um dos poucos países de fato hidrotérmicos, que baseia mais de 90% de sua produção energética em usinas hidrelétricas e usa as termelétricas como complementação. Outros países detêm pouca capacidade hidrelétrica, usando-a em períodos críticos e optando pelas termelétricas ou nucleares como fonte energética principal. Por exemplo, a famosa Barragem Hoover, de 2.080 MW, localizada no Rio Colorado, na fronteira entre os estados norte-americanos de Arizona e Nevada, tem fator de capacidade de 23%.

Um dos argumentos dos ambientalistas que se opõem à construção de Belo Monte é o tamanho do reservatório da usina, que terá 516 km². Tal número, que resultou da revisão do projeto (a área anterior era de 1.225 km²), equivale à área de um quadrado de 22,7 km de lado e deve ser colocado em perspectiva. Primeiramente, a área conjunta dos reservatórios das duas usinas do Complexo Rio Madeira, por exemplo, já em construção em Rondônia, é semelhante à de Belo Monte: o reservatório da UHE Jirau tem 258 km² e o reservatório da UHE Santo Antônio tem 271 km². Juntos, ambos somam 529 km². Por outro lado, a área do reservatório da UHE Tucuruí, em operação no Pará desde 1984, é de impressionantes 2.850 km². Em outras palavras, as usinas amazônicas mais recentes fazem uso mais eficiente de seus reservatórios, pelo menos em termos de sustentabilidade ecológica, em comparação à quase balzaquiana Tucuruí. Este fato fica evidente a partir da análise da densidade de energia, conforme a tabela abaixo, que mostra os dados de algumas hidrelétricas amazônicas (clique sobre a tabela para ampliá-la).


Em segundo lugar, podemos comparar o reservatório de Belo Monte ao desmatamento na região amazônica. Uma das várias estatísticas disponíveis indica um desmatamento mensal de 110 km², somente no estado do Pará [3]. Em um mundo ideal, nem desmatamentos nem alagamentos existiriam e ainda haveria comida e energia para todos. Todavia, ao construirmos em nossas mentes um mundo ideal e depois compará-lo aos fatos reais, incorremos em um argumento conhecido como falácia do Nirvana, que denota nossa tendência de buscar soluções ideais para problemas reais. No mundo real, contudo, devemos buscar alternativas concretas para o ideal. E, se for possível escolher, é certamente muito melhor construir usinas hidrelétricas, que operarão por 30 anos ou mais e ajudarão no crescimento do Brasil, do que queimar 1.320 km² anuais em florestas (duas vezes e meia Belo Monte) e substituí-las pelas pobres pastagens que podem crescer no solo amazônico ou, pior ainda, substituí-las por uma grande desolação. Ainda assim, caso decidamos não construir Belo Monte (o que será muito difícil, pois o leilão já foi realizado e efetivado), algum substituto real, não utópico, não nirvânico, deverá ser encontrado.

Uma opção interessante são as usinas eólicas, que estão se tornando cada vez mais competitivas. Entretanto, além de terem baixos fatores de capacidade (40% a 45%, no máximo), é bem conhecido que o vento não pode ser armazenado. Por causa disso estima-se que a capacidade das eólicas não deva ultrapassar 20% da capacidade instalada total de um sistema interligado. No nosso caso, esse limite corresponderia atualmente a 23.250MW, pouco mais de duas vezes Belo Monte (que, coincidentemente, terá o fator de capacidade de uma eólica de fator elevado). Considerando que temos 1.260 MW de capacidade eólica em operação, que outros 4.113 MW foram outorgados entre 1998 e 2010 e que 6.052 MW foram habilitados no leilão A-3/2011, talvez não demore muito para atingirmos tal limite. Depois disso, contaremos apenas com a expansão eólica na margem de crescimento.

Outra opção é a construção de usinas solares, mas estas são ainda muito caras, a ponto de a Espanha já estar optando por uma pausa nos investimentos solares [4]. Temos também as termelétricas a gás natural, com 11.424 MW em operação, 1.818 MW outorgados, mas apenas 13,16 MW em construção [1]. Pode parecer estranho, mas temos mais capacidade termelétrica a óleo combustível, óleo diesel e carvão mineral em construção (351 MW, 1.700 MW e 1.440 MW, respectivamente) do que a gás natural [1], o combustível menos poluente e mais fácil de transportar dentre todos . Mesmo assim, os movimentos ambientalistas contra usinas a carvão, a óleo e a diesel são poucos e pouquíssimo representativos quando comparados aos movimentos contra Belo Monte.

As usinas nucleares são uma opção interessante, mas tornaram-se mais caras e problemáticas depois de Fukushima e certamente enfrentarão oposição das mesmas ONGs que se opõem a Belo Monte e de muitas mais. E, finalmente, temos a opção da eficiência energética, que certamente deve ser buscada por uma simples questão de redução de custos e de desperdícios. Contudo, esperar que um país detentor de um discretíssimo consumo anual de 2,14 MWh per capita, como é o caso do Brasil, que ocupa o 64° lugar nesse requisito, encontre sua solução energética na busca por consumos mais eficientes é, mais uma vez, parte de uma utopia. A solução real será, como sempre, uma composição de todas as soluções disponíveis, inclusive das hidrelétricas de todos os portes. E deixemos a questão do desmatamento para algum especialista na área, talvez algum ator famoso.

[1] ANEEL. Banco de Informações de Geração - BIG. Disponível em: http://bit.ly/vJO0L9.
[2] ANEEL. Perguntas e respostas sobre Belo Monte. Disponível em: http://bit.ly/rBuysl.
[3] EXAME.COM. Pará lidera desmatamento na Amazônia, 1 de ago. 2010. Disponível em: http://bit.ly/sTe9EL.
[4] JORNAL DA ENERGIA. Setor elétrico espanhol pede pausa nos investimentos em energia solar, 18 de nov. 2011. Disponível em: http://bit.ly/v0VWbo.

28 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, até que enfim um bom texto de alguém que compartilha dessa opinião, escrevi isso http://paineldejipe.com.br/post.php?art_id=34 na semana passada, longe de ter os termos técnicos, mas ainda assim procurando mostrar o outro lado de toda essa revolta sem tanto fundamento.

    ResponderExcluir
  2. Esse texto trouxe muita luz para aqueles que marcham atabalhoadamente no efeito manada a seguirem opiniões preconceituosas sem nenhum embasamento. O Autor foi muito claro. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Tomara que os atores da Globo (que são os caras que entendem do assunto, não nós, meros estudantes de Engenharia Elétrica) veja o texto e reconsiderem a opinião...

    ResponderExcluir
  4. Parabéns pelo Blog. Prof. Álvaro. Também acredito na Eficiência Energética como um dos Caminhos para evitar a construção de Novas Usinas.

    Segue o link do Vídeo que fiz sobre a Eficiência Energética, na aplicação de Motores e Inversores de Frequência.

    http://www.youtube.com/watch?v=Xf8GrhOcKN0

    ResponderExcluir
  5. E ponto final! parabéns

    ResponderExcluir
  6. Professor,
    E as questões que o seu colega Célio Bermann coloca na entrevista à Eliane Brum, como ficam?
    http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/10/belo-monte-nosso-dinheiro-e-o-bigode-do-sarney.html

    ResponderExcluir
  7. Já que se desmata, vamos acabar com o desmatamento construindo hidrelétricas no lugar! Muito bom! Substituímos um problema por outro, como na falta de investimentos em educação construímos presídios. Ao ínves de investimentos em redução e economia de energia, vamos esbanjando enquanto nos restam recursos naturais, sem responsabilidade com a degradação que já está provado cientificamente que causa tantos desastres ambientais e catástrofes. Acho muito antiético citar somente os atores sem citar todos os profissinais das áreas geológicas e ambientais que estão se posicionando contra Belo Monte.

    ResponderExcluir
  8. Estimado professor, respeitosamente, quero apresentar um contraponto à sua exposição. Afora os argumentos técnicos levantados pelo senhor (irrefutáveis), parece-me que a campanha Gota D´água traz uma evolução à participação popular e à ampliação do debate sobre a questão energética no Brasil.

    Aliás, não fossem campanhas como essa, a Usina Belo Monte teria sido feita há décadas atrás, menos eficiente e ocupando uma área quase três vezes maior. Foram movimentos ambientalistas e de defesa dos direitos humanos - com o seu modo de agir característico - que levaram à revisão do projeto.

    As questões ambientais são fascinantes porque nos obrigam a ampliar o horizonte e tentar compreender o outro - não só seus argumentos técnicos, mas até mesmo o porquê de sua forma de atuação.

    Um abraço!

    ResponderExcluir
  9. Cara Andréa,
    Se as duas opções forem apenas o desmatamento e a construção de hidrelétricas, obviamento que a segunda é melhor. Além disso, como a usina funcionará a fio d'água, a maior parte dos 516 km² dirá respeito à calha natural do rio, ou seja, a terras que já são naturalmente alagadas.

    Quanto a citar somente atores, veja que não fiz nem mesmo isso, pelo menos não no sentido de citar nomes. Se o texto fosse um artigo técnico, eu poderia citar todos os movimentos contra e a favor. Contudo, tratando-se apenas de um ensaio de pouco mais de uma página, não posso entrar em todos os detalhes. Além disso, o texto foi motivado pelo vídeo do movimento Gota D'Água.

    Abraços,

    Alvaro

    ResponderExcluir
  10. Caro Francisco,

    Movimentos ambientalistas devem ser ouvidos, por certo, mas a campanha do movimento Gota D'Água é simplesmente errada, especialmente quando cita um fator de capacidade de 33% em vez de 40,7%, quando menciona que seria possível substituir Belo Monte por eólicas e quando insinua que o reservatório de 516 km² será inteiramente devido a novos alagamentos.

    Além disso, se tivéssmos construído Belo Monte décadas atrás, talvez não tivéssemos passado pela crise de energia primária de 2007/2008 (despercebida pela população, mas que levou os preços no curto prazo às alturas).

    Apesar de tudo, é claro que os movimentos ambientalistas devem ser ouvidos, apesar da insistência deles em um mundo "nirvânico".

    ResponderExcluir
  11. Cara Lucia,

    Não sou partidário da "síndrome do apagão". Energia haverá, o problema é quanto pagaremos por ela. As eólicas, além de não poderem ser colocadas na base, são mais caras do que a hidrelétricas de grande porte. Até ontem, uma opção interessante era o gás natural, barato e pouco poluente. Só que ontem a Petrobrás anunciou que não haverá gás após 2016, pois precisará dele para extrair o petróleo do pré-sal. Então, o resultado de todos esses movimentos contra as hidrelétricas será um só: a construção de mais usinas a diesel, óleo combustível e carvão mineral.

    ResponderExcluir
  12. Caro Deja,

    Parabéns pelo vídeo, mas note que, embora a eficiência energética seja absolutamente essencial para uma indústria, ela é apenas uma pequena parcela de uma grande equação quando falamos da solução do problema energético nacional. Isso ocorre porque nosso consumo anual per capita é muito baixo (2,14 MWh, contra 9,29 MWh de Taiwan, que ocupa o 10° lugar e muito mais longe da Noruega, que ocupa o 1° lugar, com 24,88 MWh). Assim, quando a economia cresce, todo o esforço de redução de que consumo que a indústria faz é contrabalançado pelos outros setores.

    ResponderExcluir
  13. Excelente texto! Muito ilustrativo, completo e sintetico. Desconfio das repercussoes a longo prazo, da construçao e operaçao de UHEs na regiao Amazonica, mas o texto esclarece bastante, como tambem as suas respostas 'as perguntas e comentarios levantados pelo seu texto. MUITO OBRIGADO!

    Glen Trebilcock
    Arquiteto
    Chicago - IL

    ResponderExcluir
  14. O comentário abaixo foi enviado por Geovanni Fedalto, do blog Bote Verde, http://boteverde.blogspot.com. Apertei o botão errado sem querer e acabei excluindo o comentário. Queiram desculpar. Alvaro Augusto.

    _____________

    Excelente texto, professor, mas a maior parte da energia produzida aqui no Brasil é para sustentar a indústria, como a do alumínio, que é gerida por um oligopólio e gasta quantidades enormes da nossa energia "ecológica".

    Na verdade essas indústrias veem explorar bauxita aqui por que nossa energia é barata por advir de hidrelétricas. Quando exportamos lingotes de aluminio estamos exportando a nossa energia. Nós ficamos com um passivo enorme por aqui.

    ResponderExcluir
  15. Prof. Alvaro,

    Sou advogada, mestre em Direito Ambiental e atualmente dedicada somente à pesquisa e à docência. Sou ambientalista, mas não extremista. Seu texto é sensacional, inclusive pedirei licença para debatê-lo no grupo de pesquisa. Visão realista e objetiva.
    Parabéns.

    ResponderExcluir
  16. Fique à vontade para debater o texto, Dra. Vivian. Obrigado pelos comentários.

    ResponderExcluir
  17. Oi professor,

    Fui seu aluno de Engenharia no CEFET-PR e gostaria de parabenizá-lo pela lucidez e inteligência na exposição dos seus argumentos com relação a um tema tão debatido, infelizmente de forma tão pobre nas nossas redes sociais e afins.

    Atenciosamente,

    Valdecir

    ResponderExcluir
  18. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  19. Caro Geovanni, obrigado por republicar seu comentário. A participação do setor industrial no consumo de energia elétrica fica em torno de 40%. No caso da indústria do alumínio, hoje globalizada, a participação é em torno de 6%. Além disso, uns 30% da energia consumida pela indústria do alumínio vem da autoprodução, ou seja, de usinas que os fabricantes constroem para consumo próprio. Quanto às tarifas, o fato de termos energia barata não significa que tenhamos tarifas baixas. Isso ocorre porque a tarifa dos consumidores de alta tensão é composta pelas tarifas de geração e de transmissão e por impostos e encargos, muitos encargos. Dê uma olhada em http://alvaroaugusto.blogspot.com/2011/03/precos-da-energia-eletrica-em-alta_28.html

    ResponderExcluir
  20. Caro Álvaro, de aleatório seus rabiscos nada tem.
    Parabéns pela síntese do artigo.
    Creio que o maior problema dessa turminha de "ambientalistas" é que, via de regra, não sabe fazer contas.
    Já vi pessoas que defendem apaixonadamente usinas solares, mas quando perguntados sobre nível médio insolação, rendimento de uma célula solar - seja de silício cristalino, amorfo ou CIGS - fazem cara de paisagem e demonstram claramente a mais ampla e completa ignorância. Pergunte-se-lhes qual seria a área ocupada por uma central solar equivalente a Belo Monte e ouviremos infinitas bobagens. Provavelmente acham que pode-se "empilhar" os painéis como se faz com os metros cúbicos de água da hidrelétrica.
    Fariam melhor se sentassem suas b(*) em carteiras escolares e aprendessem pelo menos física do secundário...
    Abraço.

    ResponderExcluir
  21. Prof. Alvaro,
    É extremamente importante a exposição de dados técnicos sobre este tipo de questão.
    Tenho algumas considerações sobre o assunto, mas antes disso gostaria que esclarecesse alguns termos que não me ficaram muito claros por eu não ser dessa área.
    Quando falamos de fator de capacidade, falamos da relação entre que grandezas? Como se obtém este fator?
    O que exatamente que dizer "funcionar a fio d'água"?

    Grato

    ResponderExcluir
  22. Caro fouche,

    Obrigado pelos comentários. O "aleatórios" dos rabiscos refere-se à variedade de assuntos, que era para ser maior, mas sabe como é, né...

    ResponderExcluir
  23. Caro Gusttavo,

    O "Fator de Capacidade", FC, é igual à energia produzida por uma usina em um ano dividida pela capacidade (potência) instalada. Um FC de 0,5 (50%), por exemplo, significa que a usina produz energia durante metade do tempo.

    Usina a "fio d'água" é aquela que não tem capacidade de acumular muita água em seu reservatório em comparação à vazão afluente. Não significa uma usina pequena (Itaipu, por exemplo, é fio d'água). Belo Monte será a fio d'água por razões ambientais. Caso contrário, o reservatório seria muito grande e alagaria uma área maior. Sendo a fio d'água, uma boa parte da área de 516 km² já faz parte da calha natural do rio, ou seja, já está naturalmente alagada.

    ResponderExcluir
  24. Álvaro,
    Obrigado pelas informações.

    Desde que este debate começou busco conhecer mais sobre este assunto para formar uma opinião sobre Belo Monte.

    Concordo contigo quando diz que devemos buscar uma solução para o mundo real.
    Aqui vai outra pergunta. A construção de outras usinas menores com Fator de Capacidade melhores, com maior densidade de energia, não seria uma solução ainda melhor que Belo Monte?
    Tecnicamente os fatos são diferentes mesmo do que tem aparecidos na mídia. Entretanto, falando em "mundo real" acho também que temos que ser pragmáticos em relação a todas as questões ligadas à usina, como políticas econômicas, sociais e etc.
    Penso que os dados técnicos aqui expostos somados aos argumentos do pessoal do movimento Tempestade em copo d'água(http://www.tempestadeemcopodagua.com/), são bastante pertinentes, porem usemos então o referido pragmatismo para tratar da questão como um todo.
    Partindo do suposto de que há sim argumentos sólidos em favor da construção, os questionamentos dos ambientalistas deveriam cair por terra imediatamente, desde que essas informações se tornassem públicas. Por que então os orgãos e autoridades responsáveis não se manifestam a favor da usina com base nesses dados? Depois da repercussão do movimento dos globais - a meu ver - seria muito fácil freá-lo mostrando à população a realidade como ela é. Em vídeos contra Belo Monte vemos secretários, ministros, ibama e afins fugindo desses questionamentos, e uma incrível falta de transparência para com a população. Se não há tanto problema, se a construção é perfeitamente justificável, por que não mostrá-la como tal? No mundo real, me parece ter alguma coisa cheirando mal nisso tudo. Tudo bem que meus argumentos tangem a outras esferas que não a técnica, mas de um jeito ou de outro, só vejo engenheiros (na maioria dos casos civis e eletricistas) defendendo Belo Monte. O protesto ainda que equivocado, tem o lado positivo de incitar debates como estes e mostram uma (ainda que tímida) mobilização da sociedade por algo. Neste caso, informação resolveria tudo, e a falta dela torna de certa forma o movimento legítimo. Vivemos num país que sersea cada vez mais seu povo com histórias mal contadas. Isso é um problema de um mundo bem real.

    Formas alternativas de energia podem ser inviáveis, mas penso que o Brasil já se superou tantas vezes em questões tecnológicas, científicas e até mesmo energéticas, e (me corrija se eu estiver errado) não há tantos esforços e investimento no desenvolvimento de outras formas de geração de energia quanto para a construção de usinas gigantescas como esta. Construindo ou não Belo Monte, vejo um completo desinteresse de toda e qualquer entidade ligada à questão energética por um debate a respeito, ou o fomento de alternativas.

    Enfim, parabéns e obrigado mais uma vez.

    ResponderExcluir
  25. Caro professor Alvaro Augusto. Primeiramente peço desculpas mas estou escrevendo durante sua aula, após você ter dissertado sobre esta usina. Procurei mais informações sobre ela no google e acabei parando aqui. Parabéns pelo texto, realmente muito esclarecedor. Triste é ver que nem os números convencem os "extremistas", talvez por orgulho em admitir o erro ou frustração por terem até agora seguido uma ideologia falsa.
    Grande abraço.

    ResponderExcluir
  26. Obrigado pelos comentários, Andre!

    ResponderExcluir
  27. Professor, li seu post sobre perdas de energia e depois esse sobre Belo Monte... Dado o post anterior, em que perdas de energia são significativas, fiquei um pouco confusa... Será que o senhor poderia, por favor, esclarecer minhas dúvidas? Sempre achei Belo Monte um desperdício, principalmente devido as tais perdas, já que as regiões sul e sudeste são as maiores consumidoras de energia do país. Posso estar errada e, por isso, gostaria de um esclarecimento se possível... Obrigada.

    ResponderExcluir
  28. Olá Pollyana,

    Você tem razão em dizer que Belo Monte aumentará as perdas de transmissão, mas somente quando medidas em GWh/ano. Quando medidas em percentual, é provável que as perdas não aumentem muito, pois as linhas de transmissão serão inseridas no sistema ao mesmo tempo em que uma usina de porte será colocada em operação.

    Infelizmente, não temos outra opção para a construção de hidrelétricas de porte no país, pois quase todos os potenciais do Sudeste e do Sul já foram aproveitados. A Amazônia é o que nos resta, e aproveitá-la com hidrelétricas é muito mais viável, até mesmo do ponto de vista ambiental, do que aproveitá-la com criação de gado, por exemplo.

    Também temos a opção eólica, mas, estranhamente, o Governo parece acreditar que já investimos demais nessa fonte e fará mais leilões para usinas térmicas a carvão nos próximos anos. As térmicas podem ser construídas perto dos grandes centros, acarretando em perdas por transmissão reduzidas. Por outro lado...

    ResponderExcluir