quinta-feira, junho 12, 2008

Rubem Alves e o vestibular

A revista Ler & Cia, da Livrarias Curitiba, publicou há algum tempo uma curta reportagem sobre as opiniões de Rubem Alves, onde esse grande educador discorre brevemente sobre o vestibular, que ele considera um “tumor maligno”. Para resolver o problema da injustiça promovida pelo vestibular, Alves sugere que as vagas nas universidades sejam ocupadas por meio de sorteio, não por meio de provas, como feito atualmente. “Continua sendo injusto”, diz ele, “mas menos do que o sistema atual, com provas injustas, cotas injustas e conteúdos injustos. Isso pelo menos retiraria a sombra que o vestibular cria em cima das escolas, que poderiam ensinar o que realmente importa.

Com todo respeito a Rubem Alves, tremo só de pensar no dia em que eu tiver que dar aulas a alunos que foram escolhidos por sorteio. Se esse “vestibular randômico” daria maior flexibilidade aos professores do ensino médio, certamente transformaria a vida dos professores universitários em um inferno. Em pouco tempo os alunos perceberiam que não vale à pena se preparar para o vestibular e passariam a ser admitidos sem os pré-requisitos necessários. Os professores dos primeiros semestres dos cursos universitários passariam então a dedicar um tempo enorme para preencher as lacunas na formação dos alunos, já enormes no sistema atual, e os professores dos semestres seguintes passariam a perder mais tempo ensinando aquilo que os professores dos primeiros semestres deveriam ter ensinado. O incentivo perverso criado com o “vestibular randômico” produziria uma grande bola de neve, que seria passada de um semestre a outro, aumentando a evasão escolar e reduzindo a qualidade do ensino universitário.

O vestibular não é um tumor. Ele é apenas um dos muitos desafios que os alunos deverão enfrentar ao longo de uma vida que viverão no mundo real, não no mundo dos contos de fadas. A alma do povo brasileiro se revolta tão freqüentemente contra o vestibular porque ele representa algo que vai contra o igualitarismo a todo custo sempre pregado nesse grande país ensolarado: a meritocracia. Se os ensinos fundamental e médio são tão ruins que não permitem que a maioria tenha mérito, então são esses níveis de ensino que devem ser melhorados. Mas não é com uma solução rósea e romântica que a melhoria virá. Afinal, como dizia Arthur C. Clarke, “não existe problema complicado que não tenha uma solução simples, atraente e... errada!”

4 comentários:

  1. Anônimo11:52 PM

    "Se os ensinos fundamental e médio são tão ruins que não permitem que a maioria tenha mérito, então são esses níveis de ensino que devem ser melhorados, não o nível superior, que já padece de vários outros males."

    Hmmm, esse argumento não é bom para ser contra a abolição do vestibular. Como o vestibular se baseia em um número xis limitado de vagas (de cardinalidade álefe-zero) e o tal mérito se baseia na nota de corte - melhorar o nível do ensino básico simplesmente eleva o nível da nota de corte e a maior continua sem mérito. Isso pela simples definição de mérito baseada nas notas para passar no vestibular - que tem um número xis finito quase sempre menor do que número de candidatos.

    Então, por melhor que seja o ensino básico, *sempre* a maioria *não* passará. (Há poucas vagas não preenchidas nos vestibulares.) A conseqüência será então apenas uma maior qualificação dos desclassificados.

    Verdade seja dita. O mesmo ocorreria no sistema de sorteio.

    Há duas pelo menos duas soluções - não necessariamente excludentes. Posta a necessidade de melhoria da educação básica (e também da superior, diga-se de passagem), o que se deve fazer para absorver o contingente formado no ensino médio é:
    a) aumentar a oferta de vagas no ensino superior;
    b) aumentar oportunidades que não necessitem de ensino superior (pode ser de nível técnico, por exemplo).

    Formamos algo como 10 mil doutores por ano. Não conseguimos absorver esse número no mercado de trabalho - eles formam ou uma massa de desempregados de luxo, ou aceitam subemprego (cargo de nível de mestre para doutor é subemprego), ou vão para o exterior (migração de cérebros).

    Além disso a proporcionalidade dos egressos dos cursos por carreira é enviesada para setores de humanidades: bacharéis de direito, administradores e quetais (são cursos mais baratos, já que não necessitam de laboratório com equipamentos de preços proibitivos). Formamos um absurdo de candidatos a advogados e produzimos poucos engenheiros e físicos.

    Ou seja:
    1) Formamos profissionais de nível superior com baixa qualidade;
    2) Em áreas saturadas;
    3) Um grande número dos de boa qualidade de formação não conseguem bons empregos (em parte pela competição com os de baixa qualidade de formação).

    []s,

    Roberto Takata

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  2. Grande Takata,

    Muitíssimo obrigado pelos comentários! Você desistiu da Ciencialist e da SBCR ou só está dando um tempo?

    [ ]s

    Alvaro Augusto

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  3. Anônimo6:58 PM

    Salve, Álvaro,

    Dando um tempo. Devo voltar em breve.

    []s,

    Roberto Takata

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  4. OK. Obrigado por aparecer por aqui!

    []s

    Alvaro

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