Produção de energia elétrica no Brasil - janeiro de 2010 a fevereiro de 2014
Fevereiro de 2014 se encerra como o mês de maior produção de energia elétrica no Brasil desde sempre. O valor máximo diário, 75.723 MW médios (correspondente a 1.817.352 MWh), foi atingido no dia 6 de fevereiro. Como a energia elétrica não pode ser armazenada em quantidades significativas e deve ser produzida no instante em que é consumida, este foi também o consumo de energia elétrica naquele dia (incluindo perdas por transmissão). A demanda máxima diária, de 85.708 MW, foi atingida um dia antes, mas 6 de fevereiro ficou atrás de 5 de fevereiro por apenas 1 MW, em termos de demanda diária.
A Fig.1 mostra a produção diária de energia, de 1 de janeiro de 2010 a 28 de fevereiro de 2014, classificada pelas quatro fontes mais importantes para o Brasil: hidrelétricas, termelétricas, nucleares e Itaipu. Os dados foram retirados dos relatórios diários do ONS [1]. As linhas de tendência das produções total e hidrelétrica são médias móveis de 30 dias. Clicando sobre o gráfico para ampliá-lo, notamos claramente a sazonalidade da produção total, com picos localizados entre fevereiro e março. A exceção é 2014, quando o pico ocorreu em janeiro, por causa do calor excessivo, que acarretou em um uso também excessivo de ventiladores e aparelhos de ar condicionado.
A Fig.2 mostra as produções médias mensais, também classificadas por fontes. A produção média em dezembro de 2013 foi de 61.923 MW médios, passando para 66.823 MW médios em janeiro de 2014 e 69.095 MW médios em fevereiro de 2014. Assim, entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014, o sistema teve de produzir 7.172 MW médios adicionais, energia correspondente a aproximadamente 70% da produção mensal média de Itaipu em 2013.
Somados ao consumo excessivo em janeiro e fevereiro, dois problemas surgiram nesse início de ano. O primeiro foram as baixas afluências aos reservatórios, que resultaram em armazenamentos também baixos e em uma redução da capacidade de produção hidrelétrica. O segundo é que as termelétricas, que no Brasil funcionam como fontes complementares às hidrelétricas ("backups"), já estavam produzindo 9.136 MW médios em dezembro. Despachar termelétricas adicionais em janeiro e fevereiro significou colocar usinas muito mais caras em funcionamento, levando o Custo Marginal de Operação (CMO) às alturas. Na última semana de fevereiro, por exemplo, os CMOs do SE/CO e do Sul fecharam em 1.685,28/MWh. Este valor é superior ao primeiro patamar do Custo do Déficit que, de acordo com a Resolução Homologatória n°1.667/2013, da Aneel [2], é de R$ 1.364,64/MWh. Em princípio, quando o CMO for superior a este valor, mas inferior a R$ 2.943,50/MWh, um montante de 5% da carga deveria ser cortada. Contudo, a Resolução n° 109/2002 da Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica [3], ainda vigente e que o ONS cita em seus últimos relatórios, afirma que "os valores obtidos para a função Custo do Déficit não implicam acionamento de medidas de redução compulsória de consumo".
Em outras palavras, o ONS considera que ainda não há necessidade de racionamento. Afinal, o aumento médio de produção entre dezembro de 2013 e fevereiro de 2014 foi de aproximadamente 11,6%. Se a produção (e, logo, o consumo) cair espontaneamente metade desse valor em março, devido à mera redução da temperatura, demorará pouco para sairmos do primeiro patamar do déficit. Resta esperar.
[1] ONS. Informativo Preliminar Diário da Operação - IPDO.
[2] ANEEL. Resolução Homologatória n° 1.667/2013.
[3] GCE. Resolução n°109/2002.