Belo Monte, avatares e nosso futuro nuclear
A lição que ficou após o leilão da usina de Belo Monte, realizado no último dia 20, é que o empreendimento, antes de ser uma fonte de energia para o Brasil, será uma enorme fonte de problemas para o Governo. Provas das dificuldades a serem enfrentadas foram os protestos realizados por James Cameron e seus avatares, sem falar nos índios de sempre, brandindo seus tacapes e facões.
Não tenho nada contra protestos. Afinal, não estamos na Venezuela ou em Cuba, países nos quais protestos e manifestações são reprimidos com cacetetes, balas de borracha e balas de chumbo. Contudo, por mera questão de consistência, parece-me adequado que aquele que protesta esteja minimamente qualificado para tanto. Não é o que acontece com James Cameron, um canadense que se mudou para os EUA aos 17 anos, e de Sigourney Weaver, norte-americana de nascimento. De fato, norte-americanos e canadenses estão entre os maiores consumidores de energia elétrica do mundo.
Em 2005 o consumo de energia elétrica do Brasil totalizou 368.500.000 MWh (megawatts-hora), ou 368,5 bilhões de quilowatts-hora. Esse consumo nos coloca em décimo lugar dentre os países com mais de um milhão de habitantes, espremidos entre a Coreia do Sul e a Inglaterra. Todavia, nossa posição cai bastante quando calculamos o consumo anual per capita, que resulta em 1,98 MWh/ano e nos coloca em 65° lugar, inferior à media mundial per capita de 2,60 MWh/ano.
A situação é bem mais impressionante quando consideramos o Canadá. Embora o consumo anual deste país tenha sido de 540.200.000 MWh em 2005, cerca de 47% acima do nosso, o consumo per capita dos canadenses foi de 16,82 MWh, quase oito vezes e meia maior do que o nosso. Esse número coloca o Canadá, terra natal de James Cameron, em terceiro lugar no mundo em termos de consumo per capita, atrás somente da Noruega e da Finlândia.
O consumo anual per capita dos norte-americanos (ou “estado-unidenses”, como insistem alguns) em 2005 foi de 12,80 MWh, número que os coloca em um humilde sexto lugar, atrás de Noruega, Finlândia, Canadá, Suécia e, acreditem, Kuaite. Contudo, o consumo anual total dos EUA em 2005 foi de 3.816.000.000 MWh, pouco mais de 10 vezes superior ao nosso e correspondente a mais de 20% do consumo mundial. Em outras palavras, embora os norte-americanos, dentre os quais se encontra Sigourney Weaver, não sejam os campeões do consumo de energia elétrica per capita, eles consomem mais de 20% da energia elétrica gerada no planeta, embora a população norte-americana seja pouco superior a 4,6% da população mundial.
Assim, é no mínimo um pouco estranho que canadenses e norte-americanos, que já exploram todos seus recursos naturais na geração de energia elétrica, venham ao Brasil nos dizer quais usinas devemos ou não construir. A decisão é nossa e, se alguém quiser interferir, deverá nos pagar pelo nosso déficit futuro de energia elétrica.
A verdade é que o Brasil precisará de muita energia elétrica se quiser continuar crescendo e se quiser atingir um nível de desenvolvimento comparável ao do menos desenvolvido dentre os países desenvolvidos. E, para isso, precisaremos de várias centenas de mega-watts de potência instalada. Belo Monte, caso venha mesmo a ser construída, acrescentará 10% à nossa capacidade atualmente instalada, mas gerará menos de 8% da nossa produção atual. É bastante, mas precisaremos muito mais do que isso. Considerando que as hidrelétricas de grande e médio portes estão cada vez mais distantes e mais caras, que não temos carvão suficiente, que nossas reservas de gás natural são poucas e finitas, e que é insanidade queimar diesel ou óleo combustível para gerar energia, a conclusão é uma só: nosso futuro é nuclear.
P.S.: para aqueles que acharam que esse texto ficou muito incisivo e com jeito de “yankees go home” (longe de mim!) cabe a pergunta: qual seria a reação dos norte-americanos caso um cineasta brasileiro organizasse um movimento contra a construção de uma usina hidrelétrica nos EUA?
Não tenho nada contra protestos. Afinal, não estamos na Venezuela ou em Cuba, países nos quais protestos e manifestações são reprimidos com cacetetes, balas de borracha e balas de chumbo. Contudo, por mera questão de consistência, parece-me adequado que aquele que protesta esteja minimamente qualificado para tanto. Não é o que acontece com James Cameron, um canadense que se mudou para os EUA aos 17 anos, e de Sigourney Weaver, norte-americana de nascimento. De fato, norte-americanos e canadenses estão entre os maiores consumidores de energia elétrica do mundo.
Em 2005 o consumo de energia elétrica do Brasil totalizou 368.500.000 MWh (megawatts-hora), ou 368,5 bilhões de quilowatts-hora. Esse consumo nos coloca em décimo lugar dentre os países com mais de um milhão de habitantes, espremidos entre a Coreia do Sul e a Inglaterra. Todavia, nossa posição cai bastante quando calculamos o consumo anual per capita, que resulta em 1,98 MWh/ano e nos coloca em 65° lugar, inferior à media mundial per capita de 2,60 MWh/ano.
A situação é bem mais impressionante quando consideramos o Canadá. Embora o consumo anual deste país tenha sido de 540.200.000 MWh em 2005, cerca de 47% acima do nosso, o consumo per capita dos canadenses foi de 16,82 MWh, quase oito vezes e meia maior do que o nosso. Esse número coloca o Canadá, terra natal de James Cameron, em terceiro lugar no mundo em termos de consumo per capita, atrás somente da Noruega e da Finlândia.
O consumo anual per capita dos norte-americanos (ou “estado-unidenses”, como insistem alguns) em 2005 foi de 12,80 MWh, número que os coloca em um humilde sexto lugar, atrás de Noruega, Finlândia, Canadá, Suécia e, acreditem, Kuaite. Contudo, o consumo anual total dos EUA em 2005 foi de 3.816.000.000 MWh, pouco mais de 10 vezes superior ao nosso e correspondente a mais de 20% do consumo mundial. Em outras palavras, embora os norte-americanos, dentre os quais se encontra Sigourney Weaver, não sejam os campeões do consumo de energia elétrica per capita, eles consomem mais de 20% da energia elétrica gerada no planeta, embora a população norte-americana seja pouco superior a 4,6% da população mundial.
Assim, é no mínimo um pouco estranho que canadenses e norte-americanos, que já exploram todos seus recursos naturais na geração de energia elétrica, venham ao Brasil nos dizer quais usinas devemos ou não construir. A decisão é nossa e, se alguém quiser interferir, deverá nos pagar pelo nosso déficit futuro de energia elétrica.
A verdade é que o Brasil precisará de muita energia elétrica se quiser continuar crescendo e se quiser atingir um nível de desenvolvimento comparável ao do menos desenvolvido dentre os países desenvolvidos. E, para isso, precisaremos de várias centenas de mega-watts de potência instalada. Belo Monte, caso venha mesmo a ser construída, acrescentará 10% à nossa capacidade atualmente instalada, mas gerará menos de 8% da nossa produção atual. É bastante, mas precisaremos muito mais do que isso. Considerando que as hidrelétricas de grande e médio portes estão cada vez mais distantes e mais caras, que não temos carvão suficiente, que nossas reservas de gás natural são poucas e finitas, e que é insanidade queimar diesel ou óleo combustível para gerar energia, a conclusão é uma só: nosso futuro é nuclear.
P.S.: para aqueles que acharam que esse texto ficou muito incisivo e com jeito de “yankees go home” (longe de mim!) cabe a pergunta: qual seria a reação dos norte-americanos caso um cineasta brasileiro organizasse um movimento contra a construção de uma usina hidrelétrica nos EUA?