tag:blogger.com,1999:blog-15039918.post697607140357567087..comments2023-10-09T05:46:07.368-03:00Comments on Alvaro Augusto - Rabiscos Aleatórios: Sobre a palestra de Eduardo Lütz: “Ciência, Fé, Evolucionismo e Criacionismo”Alvaro Augusto W. de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/03822448074501650391noreply@blogger.comBlogger10125tag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-17679432770399689032007-07-05T00:03:00.000-03:002007-07-05T00:03:00.000-03:00agradeco o seu comentário, roberto. em primeiro lu...agradeco o seu comentário, roberto. em primeiro lugar eu gostaria de esclarecer algo do meu anterior. os gens hox ajudam a estabelecer a estrutura corporal dos animais, determinam a ordem desse a cabeca ate o rabo (na verdade nao sei se tem a ver com a posicao dos olhos). Em segundo lugar, eu vou tentar responder ao seu comentário mas eu nao tenho certeza do que vou dizer. Eu acho que evo-devo é um programa de integracao interessante. mas eu acho também que supoe muitas perdas conceituais para ambas perspectivas e especialmente pra biologia do desenvolvimento. de um lado os resultados da bilogia do desenvolvimento sao lidos como apoiando a perspectiva evolucionista e eu acho que isso é somente uma leitura possível, mas a situacao com os genes e todo isso nao da evidencia nesse sentido. eu tirei uma cita de Elizabeth Pennisi e wade Roush em "developing a new view of evolution" que diz:<BR/><BR/>"Researchers can't go back in time to see whether, for example, the ancestral vertebrate actually evolved by introducing or altering the expression of manx or whether the gene took on its present role million of years later".<BR/><BR/>eu acho que a primeira perspectiva é a própria da biologia do desenvolvimento, a segunda é a do evolucionismo. quando se lem evolucionistamente os resultados da biologia esta-se deixando de lado a parte della que se menciona arriba e que é muito importante, e allém disso, esta se fazendo sem haver bases para isso. agora, isso pode ser feito, mas eu me pergunto: sem essa parte as teorias do desenvolvimento continuam elas sendo coherentes?<BR/>de otro lado, os resultados da biologia supoem que há constraints que limitam as formas que pode tomar a vida. entao eu me pergunto: é isso coherente com a idéia de aleatoriedade (nao sei se existe essa palavra em portugues) do evolucionismo? estaria disposta a biologia a abandonar a idéia de constraint para acomodarse a essa aleatoriedade? continuaría ela sindo coherente com essa renuncia?<BR/><BR/>eu acho que evo-devo é um programa interessante desse um ponto de vista experimental, mas pela minha falta de conhecimento há coisas que ainda nao comprehendo no nivel conceitual.<BR/>abracos,<BR/>susanasusanagómezhttps://www.blogger.com/profile/14978785802591650056noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-16217766758692574612007-07-02T17:34:00.000-03:002007-07-02T17:34:00.000-03:00A comentadora Suzana erra ao dizer q as teorias do...A comentadora Suzana erra ao dizer q as teorias do desenvolvimento não são evolutivas. Desenvolvimento e evolução estiveram separados por décadas, mas a Evo-devo tem avançado rapidamente na união das áreas.<BR/><BR/>O padrão de distribuição dos genes controladores como os Hox têm ajudado a elucidar a evolução dos processos do desenvolvimento a gerar a diversidade da vida.<BR/><BR/>Recomendo a leitura do livro: "Infinitas formas de grande beleza" de Sean Carroll 206, Jorge Zahar Ed. 320 pp.<BR/><BR/>[]s,<BR/><BR/>Roberto Takatanonehttps://www.blogger.com/profile/00205668953897582538noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-30713394940258806012007-06-18T13:25:00.000-03:002007-06-18T13:25:00.000-03:00somente uma coisinha, alvaro. as teorias do desenv...somente uma coisinha, alvaro. as teorias do desenvolvimento nao sao evolucionistas. justamente por isso eu acho que elas constituem uma alternativa interesante ao evolucionismo. se eu tenho entendido bem, elas consideram que as mudancas na forma (elas tampouco falam da origem) nao sao produto da acumulacao genetica durante geracoes mas que sao produzidas duma vez só por mudanzas nas condicoes moleculares e a presenca de certas condicoes estruturais, nas distintas etapas do desenvolvimento dos organismos. entao desse esta perspectiva nao há uma evolucao do macaco ao home. há simplesmente 'plans estruturais' diferentes que tem algumas semelhanzas. outra diferenca importante com relacao ao evolucionismo é que as mudancas aqui nao sao consideradas aleatórias. estam regimentadas pelo que eu já referi como constraints.<BR/>abracos,<BR/>susanasusanagómezhttps://www.blogger.com/profile/14978785802591650056noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-64592147225657392692007-06-13T13:41:00.000-03:002007-06-13T13:41:00.000-03:00Respondendo finalmente à profa. Graça:Obrigado pel...Respondendo finalmente à profa. Graça:<BR/><BR/>Obrigado pelos seus comentários, muito esclarecedores. Seguem algumas observações:<BR/><BR/><I>Sobre o termo "evolucionismo"</I><BR/>Talvez o termo "evolucionismo" esteja em voga por causa do desgaste do termo "teoria da evolução", atacado pelos criacionistas mais radicais, que dizem que a evolução é "apenas uma teoria". Contudo, a teoria da relatividade também é apenas uma teoria, a mecânica newtoniana é apenas uma teoria, a eletrodinâmica quântica (absurdamente bem sucedida) é apenas uma teoria. Não há problema algum com teorias, pois elas são tudo de que dispomos para entender o mundo. Assim, talvez seja mais adequado usar o termo "teoria da evolução" para indicar os mecanismos que levam à variação do genótipo dos seres vivos, submetidos à seleção natural, e reservar "abiogênese" para a hipótese ainda não comprovada da origem da vida em si. Mas o que me deixou preocupado na palestra foi que, apesar do título, pouco se falou sobre a evolução das espécies em si, provavelmente por falta de tempo. Isso pode ter deixado algumas pessoas com a impressão de que a teoria da evolução tem algo a dizer apenas sobre o surgimento da vida.<BR/><BR/><I>Ancestral comum e fatos</I><BR/>O fato de que todos os organismos vivos carregam instruções codificadas no DNA me parece uma prova suficientemente forte de que todos os seres têm um ancestral comum. Contudo, esse fato, como ocorre em outras áreas da biologia, pode ser encarado como uma trivialidade, pois o único mundo que conhecemos é o mundo do DNA (vírus à parte). Também cabe lembrar que a palavra "fato" pode ser forte demais quando aplicada à história natural. Se não temos nem muita idéia de quais foram as verdadeiras causas da Revolução Industrial, por exemplo, que aconteceu praticamente ontem na escala geológica e sobre a qual existe farta documentação, o que dizer de eventos que aconteceram há milhões de anos, esparsamente documentados?<BR/><BR/><I>Abiogênese e geração espontânea</I><BR/>Concordo que o termo “geração espontânea” possa ser usado como sinônimo de abiogênese entre os cientistas. Concordo também que a expressão não era essencial à sua palestra. Contudo, imagino que a audiência da palestra, leiga em sua maioria, dificilmente teve condições de entender a diferença. <B>O interessante mesmo seria se sua palestra pudesse ser repetida, dessa vez com duração mínima de duas horas</B>. Tenho certeza que isso esclareceria todas as dúvidas (as minhas, pelo menos) sem a necessidade de se mergulhar em artigos de biologia molecular.<BR/><BR/><I>Hipóteses criacionistas</I><BR/>Sim, sem dúvida existem mais de três hipóteses criacionistas. Citei apenas três, a mero título de ilustração.<BR/><BR/><I>Conclusão da sua palestra</I><BR/>De fato a conclusão da sua palestra foi sobre a inexistência de experimentos que comprovem a hipótese do mundo de RNA pré-biótico. Contudo, logo após a sua palestra, o prof. Lütz argumentou que, se tanto o evolucionismo quanto o criacionismo dependem da fé, então é melhor escolher o criacionismo (não me lembro das palavras exatas). Quanto à fé, ela certamente é necessária, mas há que se separar a fé religiosa da fé científica. <BR/><BR/>Obrigado novamente pelos seus comentários e pela visita ao meu blog.Alvaro Augusto W. de Almeidahttps://www.blogger.com/profile/03822448074501650391noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-41637486515470110532007-06-12T00:40:00.000-03:002007-06-12T00:40:00.000-03:00Em relação aos comentários da profa. Graça:- fatos...Em relação aos comentários da profa. Graça:<BR/>- fatos q apóiam ancestralidade em comum: os padrões filogenéticos, os padrões de similaridade e diferenças de desenvolvimento dos organismos, a distribuição geográfica, o registro fóssil. É fato q há fósseis com características de aves (penas) e de dinossauros (cauda óssea, dentes e outros). É fato q há fósseis com características de animais terrestres (pernas bem desenvolvidas) e de baleias (estrutura do ouvido). É fato q existem vários desses tipos de fósseis transicionais. É fato q os padrões de similaridade e diferenças genéticas em grande medida coadunam com isso. É fato q os organismos partilham um mesmo código genético - com algumas exceções puntuais.<BR/><BR/>Em relação ao mundo de ARN, experimentos com protocolo SELEX têm obtidos seqüências de ARN com atividades catalíticas e por ciclos de mutação e seleção essa atividade catalítica pôde ser aumentada em eficiência e especificidade em muitas ordens de grandeza. Experimentos com seqüências aleatórias de ARN indicam uma probabilidade de uma molécula a cada trilhão com atividade catalítica.<BR/><BR/>E.g;:http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/entrez?cmd=Retrieve&db=PubMed&list_uids=11539575&dopt=Abstract<BR/><BR/>[]s,<BR/><BR/>Roberto Takatanonehttps://www.blogger.com/profile/00205668953897582538noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-2612594974771965532007-06-11T13:46:00.000-03:002007-06-11T13:46:00.000-03:00Respondendo agora à Susana:Obrigado pelos comentár...Respondendo agora à Susana:<BR/><BR/>Obrigado pelos comentários. Não conheço muito sobre a teoria da evolução do desenvolvimento, mas me parece que não existe entre ela e a teoria da evolução clássica uma distância tão grande quanto a existente entre a teoria da gravitação newtoniana e a teoria da "gravitação aristotélica". Aristóteles simplesmente não reconhecia a existência da atração gravitacional e considerava que os fenômenos terrestres eram diferentes dos fenômenos celestes. Newton uniu tudo isso em um único pacote e formulou uma teoria que permitia o cálculo preciso (correções relativistas à parte) do movimento dos corpos celestes. Nenhuma teoria dos gregos antigos era capaz disso.<BR/><BR/>Obrigado pelas referências. Vou tentar estudar, ou pelo menos ler, todas as que puder.<BR/><BR/>[ ]s<BR/><BR/>Alvaro AugustoAlvaro Augusto W. de Almeidahttps://www.blogger.com/profile/03822448074501650391noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-9411761908188465732007-06-11T11:51:00.000-03:002007-06-11T11:51:00.000-03:00Respondendo primeiro ao João Marcos:Primeiramente,...Respondendo primeiro ao João Marcos:<BR/><BR/>Primeiramente, obrigado pelos comentários. Confesso que passei batido por Aristóteles nesse texto, embora eu seja grande admirador desse filósofo. O fato de ele ter chegado a várias conclusões erradas a respeito da natureza em nada diminui o caráter do gênio, mas aponta, dentre outras coisas, os preconceitos da época. Ainda assim, seria interessante imaginar como teria sido o mundo, especialmente o mundo medieval, se Demócrito, Aristarco e Anaximandro tivessem prevalecido.<BR/><BR/>Quanto ao caráter aristotélico dos criacionistas, concordo plenamente, mas não é só nessa área que a influência de Aristóteles ainda se faz presente.Alvaro Augusto W. de Almeidahttps://www.blogger.com/profile/03822448074501650391noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-83633256261894873162007-06-07T15:39:00.000-03:002007-06-07T15:39:00.000-03:00As considerações sobre a nossa palestra estão muit...As considerações sobre a nossa palestra estão muito boas, em geral, e quero parabenizar o professor Alvaro Augusto pelas suas ponderações. Quero fazer algumas observações sobre alguns pontos. Abaixo, destaco alguns parágrafos e coloco meu esclarecimento depois de cada um deles.<BR/><BR/><I>Durante toda a palestra e durante a discussão que se seguiu, a palavra 'evolucionismo' foi usada extensivamente como sinônimo de uma teoria que explica o surgimento da vida na Terra. Há dois erros aqui. Primeiro, a teoria da evolução não é um 'ismo'. Não se trata de uma ideologia à qual se adere por meio da fé ou de algum tipo de conversão. Até mesmos alguns biólogos usam tal termo, talvez por economia de linguagem, mas ele não é adequado. Não existe 'evolucionismo' da mesma forma que não existe 'newtonismo', 'einsteinismo' ou 'relativismo'. O segundo erro é que a teoria da evolução não tem nada a dizer sobre a origem da vida na Terra.</I><BR/><BR/>Esclarecimento: ok, se não existe evolucionismo eu gostaria de que algum termo curto apropriado fosse sugerido, porque não é viável, por exemplo, utilizar algo do tipo: "as proposições evolutivas para a origem e desenvolvimento de moléculas biológicas e seres vivos na Terra" e é preciso diferenciar estas proposições de outras, como as criacionistas, por exemplo. É imperativo que este termo seja curto, por óbvias razões. E, a propósito, "evolucionismo" ou outro termo apropriado sugerido não se aplica exclusivamente à teoria da evolução, baseada em mutações e seleção natural, mas a propostas evolutivas em geral, incluindo a evolução química. Não sei se ficou claro,<BR/>a questão é: tem de haver um termo curto que se aplique às diversas propostas evolutivas. Normalmente, durante o curso de Biologia, encontramos o tema "origem da vida" nos mesmos livros em que estudamos evolução, não há como dizer que evolução química não é evolução, pode-se até dizer que não faz parte da teoria da evolução atual que teve origem com Darwin e tem sido retocada desde então.<BR/><BR/><I>A evolução histórica dos seres vivos, que decorre da evolução biológica, significa que todos os seres vivos sobre a Terra descendem de um ancestral comum. Embora tal afirmação ofenda a religião de muitas pessoas, que por alguma razão ficam indignadas ao saber que homens, chimpanzés e gorilas descendem de um mesmo ancestral, também há tantas evidências a esse respeito que a evolução histórica é considerada um fato.</I><BR/><BR/>Sugestão: Aqui eu gostaria de pedir que fossem, então, expostos os fatos (note-se que "fatos" não é sinônimo de "evidências") de que todos os seres vivos descendem de um ancestral comum, já que eu estudo o assunto há mais de vinte anos e gostaria de ter encontrado um. Um estudo interessante, seria o do exame das evidências para um ancestral comum. Quando estudei Filogenia na faculdade, a questão de ancestralidade se prestava a inúmeras hipóteses divergentes.<BR/><BR/><I>Da mesma forma que ocorreu com o termo 'evolucionismo', o termo 'geração espontânea' foi empregado durante a palestra com o significado de 'surgimento da vida a partir de matéria inanimada'. É fácil atacar a geração espontânea, pois qualquer aluno do ensino médio sabe que tal teoria foi desmentida por Louis Pasteur (1822 – 1895) por meio de uma série de experimentos realizados em 1862 (três anos depois da publicação do livro 'A origem das espécies por meio da seleção natural', de Charles Darwin - note também que o próprio título do livro de Darwin menciona 'origem das espécies, não 'origem da vida'). Contudo, a hipótese da origem não biológica da vida não significa que tal origem tenha sido 'espontânea'. É mais correto falar em 'abiogênese' (do grego a-bio-genesis, ou 'origem não biológica').</I><BR/><BR/>Esclarecimento: Na verdade, o termo "abiogênese" é, em vários textos, utilizado como um tipo de geração espontânea e vice-versa. O próprio Orgel utiliza a palavra "espontânea" para interações entre móleculas que deram origem ao ancestral comum: "For much of the 20th century, origin-of-life research has aimed to flesh out Darwin's private hypothesis - to elucidate how, without supernatural intervention, spontaneous interaction of the relatively simple molecules dissolved in the lakes or oceans of the prebiotic world could have yielded life's last common ancestor." (Leslie E. Orgel. Origin of life on Earth. http://www.geocities.com/capecanaveral/lab/2948/orgel.html.)<BR/>Traduzindo: "Por grande parte do século 20, a pesquisa sobre a origem da vida tem objetivado dar forma a hipóstese privada [não pública] de Darwin - elucidar como, sem intervenção sobrenatural, a interação espontânea de moléculas relativamente simples dissolvidas nos lagos ou oceanos do mundo prebiótico podem ter produzido o último ancestral comum da vida." Embora eu não tivesse, em minha palestra, utilizado o termo "geração espontânea" no contexto de minha apresentação sobre as pesquisas com RNA, eu o utilizei no resumo histórico de teorias sobre a origem da vida e em minhas conclusões, quando disse que as pesquisas sobre um mundo de RNA ou um outro polímero anterior eram uma persistência da teoria da geração espontânea (no sentido da não intervenção sobrenatural e da interação natural entre as moléculas.) Além de Orgel, outros pesquisadores parecem concordar que a evolução química é uma modificação ou revisão da geração espontânea. Exemplo: "Por outro lado, o desenvolvimento científico e tecnológico, ocorrido principalmente na geologia e na astronomia, que passou a estudar a composição química das estrelas pela espectroscopia, desencadeou discussões na comunidade científica, sobre a idade da Terra e do Sistema Solar e como estes foram formados. Portanto, a combinação dos fatos de que a Terra era muito antiga e que uma competição entre moléculas (darwinismo molecular) poderia ter ocorrido até o surgimento do primeiro ser vivo levou muitos cientistas a começar a pensar que em princípio os experimentos de Pasteur não excluíam a possibilidade da geração de organismos vivos a partir de matéria inanimada, porém era óbvio que isto não poderia ocorrer num tempo tão curto, como defendiam os adeptos da geração espontânea. Darwin foi o primeiro a escrever uma proposta que a vida poderia ter surgido da matéria inanimada, através do aumento da complexidade das substâncias formadas através de reações químicas. Porém, não despendeu tempo desenvolvendo tais idéias ou mesmo divulgando-as. O bioquímico russo A. I. Oparin, em 1924, foi o primeiro a desenvolver e divulgar que a vida poderia ter surgido em nosso planeta a partir de matéria inanimada, utilizando-se de um esquema semelhante ao de Darwin, porém muito mais elaborado." (Dimas A. M. Zaia, "From spontaneous generation to prebiotic chemistry", Química Nova, 2003, vol. 26, n. 1.) Eu poderia citar muitos outros exemplos, mas seria interessante, para quem deseja saber mais, fazer uma pesquisa particular sobre o uso das expressões "abiogênese" e "geração espontânea". De qualquer forma, a expressão "geração espontânea" não era essencial a minha apresentação e poderia tranqüilamente ser retirada sem modificar praticamente nada do que foi dito.<BR/> <BR/><I>No momento, não podemos dizer com certeza que a vida surgiu na Terra há pouco menos de 4 bilhões de anos, no meio de uma sopa ou barro pré-biótico, como resultado de reações químicas entre macromoléculas orgânicas. Trata-se apenas da hipótese mais provável, mas ainda não há provas suficientes. O que podemos dizer com certeza é que, se tal processo ocorreu, ele não teve nada de espontâneo. Ele ocorreu por causa da afinidade química entre certas moléculas, decorrente das leis físicas que governam o comportamento microscópico da matéria, e também da presença de fontes de energia na Terra primitiva (descargas atmosféricas e o calor do Sol), bem como de uma versão primordial da seleção natural: as moléculas orgânicas que não sucumbiram à degeneração espontânea após a formação tiveram mais tempo para se reproduzir e aumentar a população.</I><BR/><BR/>Esclarecimento: reiterando, o que Orgel e eu queremos dar a entender com a palavra "espontâneo" é justamente <I>afinidade química entre certas moléculas, decorrente das leis físicas que governam o comportamento microscópico da matéria</I>, ou seja, o surgimento da vida a partir de leis naturais e não por intervenção divina. Desculpe-me por não ter incluído o resto da frase <I>e também da presença de fontes de energia na Terra primitiva (descargas atmosféricas e o calor do Sol), bem como de uma versão primordial da seleção natural: as moléculas orgânicas que não sucumbiram à degeneração espontânea após a formação tiveram mais tempo para se reproduzir e aumentar a população.</I> O problema é que as fontes de energia provavelmente não seriam descargas atmosféricas e nem o calor do Sol porque as descargas destruiriam os compostos que ajudaram a criar e o calor seria fornecido por alguma fonte vulcânica nas profundezas do mar (como mencionei em minha palestra). Outro problema, que também mencionei em minha palestra, é que não se conseguiu justamente montar moléculas de RNA e nem qualquer outro polímero mais simples através de experimentos prebióticos plausíveis para que eles pudessem sobreviver, <I>se reproduzir e aumentar a população</I>. Este, na verdade, foi o tema da minha palestra. Infelizmente todos os detalhes interessantes do assunto, com a descrição dos diversos experimentos e sua complexidade, teve de ser reduzido a um mero relatório super simplificado de alguns resultados superficiais. O interessante seria as pessoas irem direto às fontes das pesquisas utilizando a bibliografia que recomendei no início da palestra. Contudo, compreendo que não é fácil entender este assunto, já que ele está em uma área de fronteira entre a Biologia e a Química e, mesmo bioquímicos e biólogos moleculares podem encontrar dificuldades em compreender algumas das explanações. Explicações super simplificadas têm a desvantagem de gerar má compreensão, mas são inevitáveis, já que meu público alvo não se compunha especialmente de bioquímicos e biólogos moleculares.<BR/><BR/><I>Outra hipótese para a origem da vida na Terra é a panspermia: a hipótese de que a vida foi trazida de outros lugares no universo, por meio de asteróides que aqui caíram ou sob a forma de esporos interestelares. O argumento mais óbvio contra a panspermia é o de que tal hipótese apenas transforma a tarefa de se explicar a origem da vida na Terra na tarefa muito mais complexa de se explicar a origem da vida em outro lugar do universo.</I><BR/><BR/>Curiosidade: um detalhe interessante é que o mentor da hipótese panspermia, Arrhenius, acreditava que a vida sempre existiu. Esta hipótese, ao menos em nosso universo, é refutada pela teoria do big-bang, que indica que espaço, tempo e tudo mais tiveram uma origem.<BR/><BR/><I>Finalmente, temos a hipótese do criacionismo: a vida na Terra surgiu por obra de um criador ou planejador inteligente. Na versão mais forte da hipótese criacionista, Deus cria e mantém toda a vida na Terra, sem se importar com seleção natural, mutações ou extinção de espécies. Na versão mais fraca, Deus apenas cria as primeiras bactérias e deixa o resto por conta das leis da física (criadas também por ele, presumivelmente). Podemos imaginar também uma 'versão fraquíssima', onde Deus interfere somente o bastante para assegurar que as primeiras moléculas de RNA, formadas por abiogênese, sobrevivam o tempo suficiente para dar origem ao mundo de DNA e proteínas atual. Nenhuma dessas três versões, contudo, é muito bem aceita pela comunidade científica, por duas singelas razões: (a) é difícil imaginar hipótese mais simples do que a da abiogênese; (b) a hipótese da existência de um ser dotado de super-poderes é complicada demais.</I><BR/><BR/>Esclarecimento: só pra dar uma "ventilada" no tema, existe mais do que estas três hipóteses no criacionismo, se alguém tem interesse, deveria investigar mais.<BR/><BR/><I>A exposição da professora Maria da Graça, interessante por si mesma, serviu apenas como pretexto para o argumento da improbabilidade do surgimento abiótico da vida (infelizmente referido como 'geração espontânea').</I><BR/><BR/>Esclarecimento: na verdade, minha principal conclusão não foi sobre a improbabilidade do surgimento abiótico da vida, mas, em virtude da inexistência de experimentos que apoiem a hipótese de um mundo primitivo de RNA através da evolução química da molécula ou da descrição de um polímero anterior convincente (nas palavras de Orgel), tudo o que os pesquisadorem têm são suas expectativas de encontrar um polímero plausível, ou em outras palavras, eles têm fé não baseada em evidências. O que aliás, não é condenável, todo mundo tem fé em alguma coisa. Por exemplo, uma estudante de Biologia, após a palestra, perguntou se não seria possível acreditar-se que o surgimento da vida ocorreu por algum tipo de mecanismo natural desconhecido não espontâneo que o tornasse mais provável. Concordamos, pois não podemos descartar cientificamente este tipo de crença, nem a de que um outro polímero mais simples do que RNA tenha surgido, nem a de que Deus originou a vida na Terra e, se alguém não concorda, está desafiado a provar o contrário.<BR/><BR/>Agradeço ao professor Alvaro a oportunidade de fazer estes esclarecimentos sobre a minha parte da palestra.Anonymousnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-64682745399106334402007-06-07T12:15:00.000-03:002007-06-07T12:15:00.000-03:00eu também gostei muito do seu texto, alvaro. somen...eu também gostei muito do seu texto, alvaro. somente tenho um comentário. vc diz:<BR/>"Embora tal afirmação ofenda a religião de muitas pessoas, que por alguma razão ficam indignadas ao saber que homens, chimpanzés e gorilas descendem de um mesmo ancestral, também há tantas evidências a esse respeito que a evolução histórica é considerada um fato. Não há nem mesmo explicação científica alternativa, da mesma forma que não há explicação alternativa para o fato de uma maçã cair (é a gravidade, e ponto; se iremos usar a mecânica newtoniana, a relatividade geral ou outra teoria para fazer os cálculos, é outra história!)".<BR/> eu acho que uma explicacao alternativa interessante sao justamente as developmental theories das que eu já falei em algumas mensagens. a idéia nas teorias do desenvolvimento é que nao há uma evolucao das espécies. as espécies surgem intempestivamente (nao sei se existe essa palavra em portugues) a causa de mudanzas nas condicoes no nível molecular e restringidos pelo que eles chamam de constraints. vários tipos de 'constraints' sao considerados, desse os físicos, filogenéticos até constraints geométricos. estes ultimos sao muito interessantes porque monstram como há differencas entre grupos de seres vivos que ainda assim conservam uma espécie de semelhanza estrutural. a nocao de estrutura é muito importante para eles, por cima da nocao de funcao do seleccionismo. um constraint que é muito importante e que é científicamente comprovado é a presenca de genes hox nos seres vivos que nao lembro bem mas acho que determinam a posicao dos olhos no corpo.<BR/>aqui va uma pequena bibliografia sobre o assunto:<BR/>Alberch, P., (1982) “Developmental Constraints in Evolutionary Processes” en J. T. Bonner (Ed) Evolution and Development (Dahlem Workshop Reports 1981) Springer Verlag. Berlín.<BR/>Asma, S., Following Form and Function, Northwestern UP, 1996<BR/>Editores, Barcelona, 1998 <BR/>Goodwin, B., (1984) “Changing from an Evolutionary to a Generative Paradigm in Biology”, en Evolutionary Theory: Paths into the future. J. W. Pollard (Ed), Wiley and Sons, EB, 1984<BR/>Goodwin, B., (1994) Las manchas del Leopardo: La Evolución de la Complejidad, Tusquets Editores, Barcelona, 1998<BR/>Gould y Lewontin, (1979) “The Spandrels of San Marcos and the Panglossian Paradigm”, en Proceedings of the Royal Society of London, 205<BR/>Raff, R., (1996) The Shape of Life, Chicago UP<BR/>Ruse, M., (2005) Is Evo-Devo a New Paradigm? en Readings of Philosophy of Biology, A. O. Mear (Ed), OUP, 2004<BR/>Thompson, D., (1942) On Grouth and Form. Cambridge UP.<BR/>abraco,<BR/>susanasusanagómezhttps://www.blogger.com/profile/14978785802591650056noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-15039918.post-61001573094546328722007-06-06T19:19:00.000-03:002007-06-06T19:19:00.000-03:00Bom texto.Na física aristotélica, e por conseguint...Bom texto.<BR/><BR/>Na física aristotélica, e por conseguinte na cosmologia ptolomaica, as maçãs caem <I>porque</I> a terra (e não o ar, a água ou o fogo) é o seu "lugar natural". Algumas centenas de séculos a.C., esta parecia com efeito uma <B>boa explicação</B> (não falemos ainda em <B>explicação científica</B>, Galileu ainda nem sonhava em nascer...), e de fato ela explicava de maneira bastante <I>econômica</I> uma diversidade de dados empíricos facilmente coletáveis. Estávamos, obviamente, bem antes de uma época em que podemos dizer que *a* explicação "sem alternativas" para o fato de uma maçã cair "é a gravidade, e ponto".<BR/><BR/>Os criacionistas frequentemente parecem sofrer justamente de uma fixação obsessiva pré-teoria da evolução, em uma época em que ainda havia alternativas (científicas?) convincentes para a origem das espécies. Seria mais ou menos como insistir hoje em dia em buscar explicações para os fenômenos naturais usando a física aristotélica, raciocinar usando exclusivamente a lógica aristotélica, usar como modelo do universo a cosmologia ptolomaica, ou mesmo usar em biologia a taxonomia primitiva proposta por Aristóteles.<BR/><BR/>Uma aberração.<BR/><BR/>PS:<BR/>A propósito, consta que a maior parte da obra de Aristóteles (parte esta hoje praticamente esquecida, e inteiramente superada) tratava justamente de <A HREF="http://plato.stanford.edu/entries/aristotle-biology/" REL="nofollow">biologia</A>, e seria ele o pai da teoria da <A HREF="http://en.wikipedia.org/wiki/Abiogenesis" REL="nofollow">abiogênese</A>.Joao Marcoshttps://www.blogger.com/profile/03826725315002161720noreply@blogger.com